O esporte no Brasil sempre foi uma peça importante na luta pela inclusão social. Com a explosão do MMA e do UFC, as artes marciais, em especial o Jiu-Jitsu, ganharam um papel fundamental nas comunidades menos favorecidas: ensinar não só as técnicas, mas respeito, disciplina e educação aos jovens.
Pensando na inclusão e, consequentemente, em dar oportunidades a essas crianças e adolescentes, foi criado em 2010 o projeto Geração UPP, que cinco anos depois já leva o Jiu-Jitsu para cerca de 4 mil cariocas. A iniciativa, nascida da parceria entre a Legião da Boa Vontade (LBV), Super Rádio Brasil, Prime Esportes, Boomboxe, Governo do Estado do Rio de Janeiro e Secretaria de Esporte e Lazer, promove aulas de artes marciais para jovens de áreas carentes, ministradas muitas vezes por policiais militares, que trocam a farda pelo kimono. A ação, que começou em áreas pacificadas, atualmente está dentro de comunidades ainda não pacificadas, e já totaliza 33 projetos, segundo dados divulgados pelo projeto.
“Antigamente o poder do estado não chegava até as comunidades com a força necessária”, incentiva o secretário de esporte e lazer do Rio de Janeiro, Marco Antônio Cabral. “É um processo de mudança, de transformação, de inclusão. O esporte traz disciplina e, principalmente a arte marcial, traz hierarquia, honradez e, em especial, uma diretriz. Mesmo que o jovem não siga a carreira esportiva, certamente ele vai aproveitar o aprendizado e levar para sua vida profissional. Agradeço e parabenizo os parceiros, os policiais e os professores. A parceria sempre busca doações e energia para que as comunidades tenham projetos sólidos. Vocês, parceiros, buscam sempre dar ferramentas e instrumentos de ponta para os professores e os alunos”, discursou, durante a inauguração de mais uma unidade do projeto, na Providência, que contou com a presença de Rodrigo Minotauro, astro do UFC.
“Iniciamos o projeto de forma despretensiosa, investimos e vimos que o resultado estava superando todas as expectativas”, acrescentou Pedro Paulo Torres, representante da LBV e da Super Rádio Brasil.
De fato, o projeto fez tanto sucesso entre os jovens que foi necessária a criação de uma competição para os alunos poderem testar as técnicas aprendidas. Sucesso desde a primeira edição, em 2010, a Copa UPP de Artes Marciais deu tão certo que se tornou um evento fixo no calendário carioca. Na edição mais recente, realizada no Club Municipal, na Tijuca, cerca de 1.100 atletas de projetos sociais competiram e deram um espetáculo de Jiu-Jitsu e disciplina.
Em dezembro de 2014, a Geração UPP reformou e inaugurou um dojô de cem metros quadrados dentro da Cidade da Polícia, na Zona Norte do Rio. O local é destinado ao treino de policiais civis, militares, demais forças de segurança e jovens de comunidades pacificadas, que afiam não só o Jiu-Jitsu, mas também o judô, karatê e luta sem kimono. De acordo com o chefe da Polícia Civil do Estado do Rio, delegado Fernando Veloso, o espaço é importantíssimo para “a motivação do policial e, consequentemente, impactar em um trabalho melhor dos agentes da lei”.
Padrinhos de respeito
O projeto hoje conta com padrinhos ilustres, como as lendas Rodrigo Minotauro e Ricardo Arona, os lutadores Rafael Feijão, Paulo Thiago, Charles do Bronxs, Alan Nuguette, e os treinadores Rogério Camões e Ramon Lemos, responsáveis por liderarem os treinamentos de Anderson Silva. Solícitas, as personalidades do mundo da luta são figurinhas certas nos eventos nas comunidades. Além de levarem ensinamentos técnicos aos jovens, eles também se preocupam em contar suas experiências de vida e passar a importância da disciplina.
“É muito bom ver todas essas crianças praticando artes marciais. Acho que, com a prática de esportes, esses jovens passam a ter um norte e uma esperança para buscarem a vitória e um futuro melhor. O governo do Rio, as UPPs, a LBV e a Prime Esportes estão de parabéns por essa grande iniciativa”, elogiou Minotauro.
Para o lutador e oficial do Bope Paulo Thiago, o Jiu-Jitsu tem a função de apontar um caminho de vida mais suave: “Grande parte das pessoas que tomam um caminho errado não teve oportunidade de conhecer outro caminho. Elas já cresceram próximas da criminalidade. Então os projetos sociais são oportunidades de elas ganharem conhecimento e serem resgatadas por meio do estudo, do esporte e da cultura”
“O Jiu-Jitsu é 100% educador. Esse aspecto da hierarquia dentro da arte marcial de saber o que pode fazer, o que não pode, kimono limpo, pedir para entrar no tatame, para sair, por favor, dá licença, perdão, desculpa – tudo isso é muito importante para a criança,”, reforça o professor Ramon Lemos, formador dos irmãos Mendes. “E isso vai refletir longe do tatame, na vida pessoal dela, na escola, ou no trabalho quando crescer. O esporte é uma das principais ferramentas para se educar e criar caráter, criar o cidadão”.