Quando se trata de crianças ou jovens autistas, a agressividade pode ocorrer devido a uma frustração ou por não conseguir expressar um sentimento da forma desejada. Com isso em mente, nosso professor GMI Felipe Nilo indica que as artes marciais podem ajudar a diminuir estes impulsos, mas ressalta que é necessário ter um cuidado especial ao escolher o local de treinamento.
Graduado em Jiu-Jitsu e judô, Felipe atualmente lidera uma clínica esportiva voltada para o ensino de crianças e jovens especiais, com foco no autismo. A iniciativa foi pioneira no Brasil e é reconhecida no mundo inteiro como um avanço para a inclusão no mundo desportivo.
De acordo com o professor, a introdução às artes marciais deve ser feita através de um professor que tenha conhecimentos em áreas psicológicas. “É preciso buscar um acompanhamento adequado e conhecer algumas metodologias que ajudarão no processo. Ter a faixa-preta não quer dizer que o professor sabe o que está fazendo” explica.
Para reforçar o impacto positivo da luta, Felipe separou cinco aspectos trabalhados nos tatames que podem melhorar a vida do autista. Confira!
1. Autocontrole: “Quando se trata de autocontrole, nada melhor que as artes marciais. Pelo fato delas nos ensinarem a respirar e ter disciplina, já começa a induzir ao autocontrole. Em momentos de sufoco, como ficar por baixo no cem quilos, se não houver autocontrole, você acaba cedendo uma montada ou até mesmo uma finalização. Nós desenvolvemos o autocontrole de forma natural nas artes marciais e quando a criança especial tem esse desenvolvimento, ela leva isso para o dia-a-dia e, além de diminuir a agressividade, aprende a lidar melhor com o “não” e a frustração”
2. Lidar com frustrações: “Uma das maiores dificuldades que os pais tem é ajudar o filho a lidar com a frustração, em especial a palavra “não”. Um exemplo é quando nós falamos aos nossos filhos que não é hora pra usar o tablet e que precisa desligar o aparelho para tomar banho ou dormir. Muitas vezes a criança faz uma birra ou chora, como forma de protesto. A luta ensina a lidar com esse sentimento de frustração. Quando eu sofro uma queda ou quando perco um confronto, eu me frustro e, se não souber lidar com isso, eu vou perder sempre. É o papel do professor ensinar a criança a lidar com as frustrações e encarar elas de forma realista. Um dos maiores erros do professor é ignorar a dificuldade da criança, é preciso mostrar que entendemos a dificuldade mas que é possível conseguir aquilo, basta continuar tentando. Dessa forma, a criança vai errando e aprendendo a lidar com a frustração até conseguir.”
3. Domínio próprio: “Quando aprendemos o autocontrole e a lidar com as frustrações, é natural adquirirmos o domínio próprio. O domínio próprio é controlar a impulsividade. Quando eu vou dar um tapa ou empurrar, eu respiro e controlo esse impulso. Na luta, o simples ato de colocar a criança sentada e fazer uma contagem de forma pausada, já estimula o desenvolvimento desse domínio.”
4. Disciplina e respeito: “É a primeira coisa que os pais pensam quando buscam as artes marciais para as crianças. Realmente, o núcleo das artes marciais é baseado nestes dois aspectos e a criança aprende isto assim que chega para fazer a aula. Cumprimentar o tatame e o mestre dá inicio a este aprendizado e ensina que o respeito não é limitado aos pais, mas a todos que a cercam. Esse passo ajuda a lidar com todos os outros aspectos que foram discutidos até agora.”
5. Hierarquia: “Hierarquia é aprendida a todo momento. Na luta, esse ensinamento parte do respeito ao sensei e aos colegas mais graduados. A partir do momento que esse conceito é introduzido, ele é levado ao dia-a-dia da criança.”