[ Por Gabriel Almada ]
“O campeão peso leve do UFC tem nome e se chama Charles Oliveira.” Tal afirmação do próprio Charles do Bronx na entrevista pós-luta não poderia resumir melhor o desfecho do UFC 274.
O mata-leão aplicado pelo brasileiro sobre o americano Justin Gaethje, no primeiro round, encerrou a luta principal do UFC disputado em Phoenix, no Estados Unidos, e calou todos aqueles que questionavam sua legitimidade.
O cenário não era lá muito favorável ao brasileiro.
Charles perdeu o título na véspera do evento, após não bater o limite de 70,3kg na pesagem oficial. O combate passou a valer o cinturão somente para Gaethje e a categoria ficou sem campeão. O Jiu-Jitsu afiado não fora o único trunfo de Charles para derrotar o rival: a mente blindada também foi decisiva.
Ser forçadamente destituído do posto de campeão na véspera do duelo, disputado na terra natal do adversário, e não deixar se abater com a situação é para poucos. Privilégio dos verdadeiros campeões. Charles passou a ser o rei sem a coroa, o monarca que precisou brigar contra tudo por sua majestade.
A luta, como o espectador certamente viu, atendeu às expectativas e proporcionou um grande embate aos amantes do esporte. Foram pouco mais três minutos de pura adrenalina. Os lutadores adotaram postura nada burocrática e partiram para a trocação.
Nos segundos iniciais, Charles balançou o americano com um poderoso direto de direita. No entanto, Gaethje revidou em seguida e aplicou dois golpes duríssimos que levaram o brasileiro ao chão. Neste exato momento, a vitória do desafiante era iminente. O único problema é que o nosso “Do Bronx” tem o costume de “saber sofrer” para superar os rivais. E dessa vez não foi diferente.
O lutador paulista se levantou e acertou um diretaço de direita em cheio que derrubou Gaethje. Imediatamente, o (ex) campeão partiu para cima e buscou um triângulo. O americano foi guerreiro, saiu da posição, mas deu espaço para Charles pegar as costas. Foram apenas alguns instantes para o faixa-preta de Jiu-Jitsu encaixar um mata-leão perfeito e forçar a desistência do oponente.
De quebra, Charles emplacou a 11ª vitória consecutiva no Ultimate e ampliou para 16 o recorde de finalizações da organização.
As façanhas não param por aí: o atleta da Chute Boxe alcançou o 19º triunfo pela via rápida – nenhum outro lutador jamais alcançou este feito nos octógonos do UFC.
Em suas últimas quatro apresentações, Charles derrotou a nata da divisão leve. Os duríssimos Tony Ferguson, Michael Chandler, Dustin Poirier e Justin Gaethje ficaram pelo caminho. Destes, Ferguson foi o único que resistiu até a decisão dos jurados. Mesmo assim, Do Bronx o amassou por 15 minutos.
Charles agora soma oito derrotas no cartel e está invicto desde 2017. Críticos e adversários tentam trazer o passado de volta ao presente para desestabilizá-lo. Mas nada o abala. O craque provou na última luta que, indiscutivelmente, é o melhor peso leve em atividade do planeta. Com o resultado, ele ultrapassou o camaronês Francis Ngannou e assumiu a quarta posição do ranking peso por peso do UFC.
Apesar da vasta experiência no mundo da luta, Charles tem só 32 anos, o que demonstra um potencial para que ele se torne um dos maiores brasileiros da história do esporte. Cada vez mais polido na trocação e dono de um Jiu-Jitsu finalizador, o ele é hoje o cara a ser batido.
Graças à contundente vitória do prodígio da Chute Boxe, a divisão está sem um campeão provisoriamente. O brasileiro terá a oportunidade de reconquistar o cinturão em sua próxima luta, a que tudo indica.
O russo Islam Makhachev e o irreverente Conor Mcgregor, que ainda não o enfrentaram, são possíveis oponentes. Depois do que foi visto no último sábado, não há dúvidas: Charles Oliveira é o rei sem a coroa. Mas, em nenhum momento, deixou de ter a majestade.