Além de faixa-preta formado pelo professor Barbosinha, você é Comandante do COE (Comandos e Operações Especiais) e responsável pelo treinamento de defesa pessoal da Academia de Polícia Militar do Barro Branco em SP. Como o Jiu-Jitsu ajudou na sua trajetória nas forças policiais?
RONALDO POSSATO: Conheci o Jiu-Jitsu na Academia de Polícia Militar do Barro Branco em 1996, havia um aluno da minha turma que era faixa-marrom e treinava com a gente nos fins de tarde. Meu primeiro professor foi o Giba da Lótus, e há anos estou com o Barbosa. Em várias situações o Jiu-Jitsu me ajudou profissionalmente, em missões no COE, para controlar e algemar criminosos agressivos, sem a necessidade de uso de força mais contundente ou mesmo letal. Mas principalmente no período em que comandei o GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais), grupo de elite da PM paulista que atua em ocorrências envolvendo reféns, pessoas com propósitos suicidas armadas e bombas. No GATE temos a doutrina de utilizar as Alternativas Táticas: Negociação; Técnicas não letais; Sniper; Invasão Tática. O Jiu-Jitsu se encaixa como uma luva nas necessidades da alternativa Técnicas Não Letais, pois essas contramedidas são extremamente eficientes no controle e imobilização de pessoas mental ou emocionalmente perturbadas, sob o efeito de substâncias entorpecentes ou medicamentos, ou mesmo criminosos violentos. Ao mesmo tempo que causam poucos ou nenhum ferimento nos detidos, o BJJ torna as imagens da ação policial menos violentas e com isso mais aceitas pela sociedade. Por isso os EUA investem pesado no treinamento de BJJ para forças policiais, principalmente após o caso do óbito de George Floyd durante uma ação policial, em que o agente tentava imobilizar e algemar o detido.
E como a sua experiência nas forças policiais enriqueceu o seu Jiu-Jitsu?
A utilização do Jiu-Jitsu em situações reais fez com que eu acreditasse mais ainda em sua eficiência, e com isso me dedicasse mais aos treinamentos. O maior seguro que um policial pode ter é estar bem preparado. Ao mesmo tempo que esse treinamento me fazia um policial mais calmo e com mais autoconfiança, que dependia menos da arma de fogo.
Quais são as dicas que você pode dar aos leitores da GRACIEMAG para eles se tornarem faixas-pretas de sucesso?
Não desistir, não se preocupem com o futuro, viva sua caminhada diária, saboreie as pequenas vitórias, os pequenos degraus técnicos e físicos transpassados, pois é uma estrada que não tem um ponto de chegada, curta a viagem.
Quais foram os principais desafios que você teve que vencer ao longo da sua carreira no Jiu-Jitsu?
Conciliar as demandas profissionais e pessoais com o Jiu-Jitsu. Por exemplo, quando fui fazer o curso de Operações Especiais, tive que focar na preparação para o curso por quase um ano, e mais uns meses de recuperação deste, no total quase um ano e meio parado. Mas temos que saber as prioridades momentâneas da vida e saber recomeçar.
Você gosta mais de competir ou de dar aulas?
Gosto muito de competir, isso me desafia estratégia, física e psicologicamente, ao mesmo tempo que me faz um professor com mais bagagem. Atualmente só dou aula dentro da corporação, principalmente de técnicas de defesa pessoal e contramedidas.
Quem foi o seu grande ídolo na carreira, aquela pessoa que serviu como diretriz nas suas grandes decisões?
No Jiu-Jitsu, meu mestre Barbosa, ele me fez ver o Jiu com outros olhos, entender como era importante para a formação pessoal de um bom cidadão. Já na polícia são meus irmãos caveiras, que já riram, choraram e sangraram tantas vezes ao meu lado, sem nunca me abandonar.
Você também tem muita experiência como mergulhador, certo? O que você aprendeu de mais relevante nessa atividade?
Sou instrutor de mergulho em caverna, acredito que a metodicidade e a preparação mental para enfrentar mergulhos de 5 ou 6 horas dentro de uma caverna alagada, escura e a quilômetros da entrada mais próxima, ajudam muito nas pressões psicológicas dos campeonatos ou mesmo durante um “amasso”.
Qual é a técnica do Jiu-Jitsu que faz mais sucesso nos cursos que você ministra junto aos grupos policiais?
Contra retenção de arma de fogo e imobilizações para algemamento.
Quais são as suas metas para o futuro?
Competir mais um pouco e montar uma academia de jiu jitsu com centro de treinamento policial, com cursos especializados para profissionais de segurança pública.
Qual é a frase motivacional que você gosta de repetir para você mesmo quando está passando por uma situação difícil?
A frase que está escrita no cerimonial do curso de Operações Especiais de São Paulo. “Que eu nunca envergonhe minha Fé, minha família ou meus camaradas”.