A arte de viajar sempre com o kimono na mala, por Luiz Dias

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Luiz Dias após treino memorável na costa da Austrália. Fotos: Acervo Pessoal


[  Professor Luiz Dias * ]

Carrego o Jiu-Jitsu comigo para além das paredes da minha escola GAS Jiu-Jitsu em Laranjeiras. Mas desconfio que não sou eu que levo a arte suave, mas é a arte suave que me leva, em qualquer parte do mundo.

Por conta do Jiu-Jitsu, tenho feito muitas amizades por todo o planeta, e assim que desembarco bate logo aquele sentimento de que “estou em casa”.

Costumo viajar atrás de boas ondas, e desde o café da manhã troco cumprimentos e acenos de mão. Basta uma camiseta e um boné com a palavra mágica, “Jiu-Jitsu”, e as portas e abraços se abrem.

Graças a esses novos amigos, acabei treinando em lugares que nunca imaginaria e surfando também. Tive a sorte de treinar em placas de tatame nas areias de Playa Hermosa na Costa Rica, em picos em Portugal, na areia de Mushroom Beach Nusa Lembongan, em Bali e até perto de vilas medievais na Hungria.

A vontade da rapaziada local em saber sobre a história do nosso Jiu-Jitsu desde grande mestre Carlos Gracie até os dias de hoje, e aprender seus segredos de defesa pessoal sempre rende muitas conversas e perguntas.

O Jiu-Jitsu conquistou o mundo, e ajudou em muito a imagem dos brasileiros. Nossa arte marcial une pessoas em uma confraria que permite uma grande rede social que nos ajuda em tudo. Sempre vi o Jiu-Jitsu como uma filosofia de vida, e a cada viagem minha, percebo o alcance que ele proporciona a nós professores e lutadores pelo mundo.

Ter o Jiu-Jitsu em nossas vidas é uma credencial, um passaporte diplomático que abre portões e constrói pontes para lugares que sem elas não teríamos acessos. Surfei em picos secretos que, não fossem meus amigos locais, eu certamente jamais iria conhecer.

Luiz Dias em treino no Porto, em Portugal.

Contudo, ao mesmo tempo em que nos beneficiamos do Jiu-Jitsu, todos nós praticantes do BJJ somos “embaixadores” da nossa arte marcial. Somos admirados pela nossa técnica, mas também somos observados em nossa conduta, educação e respeito à cultura local. Do mesmo jeito que o futebol brasileiro encantou o mundo a partir dos anos 1950, hoje é o nosso Jiu-Jitsu que fascina. Por isso é preciso fortalecer sempre essa imagem onde estivermos no mundo.

O Jiu-Jitsu é uma bandeira, um escudo que carregamos, e precisamos nos destacar lá fora sempre pelos motivos certos. A cada viagem que faço, esta minha convicção se fortalece: para o Jiu-Jitsu não existem fronteiras geográficas, políticas, étnicas ou religiosas.

A diferença é que, se um passaporte cabe no bolso, o kimono é um pouco maior. Minha tática porém é simples. Eu ponho meu kimono enrolado no centro da mala, e preencho os espaços com as roupas. Isso porque, se ele for nos lados da mala, vai amassar com seu peso as roupas do outro lado ao rolar nos porões dos aviões. E vale o lembrete: jamais pague peso extra, afinal o peso na mala é o maior inimigo do sábio viajante.

Foi assim, com tal leveza, que conheci lugares incríveis. Não esqueço dos treininhos na Hungria, com sua história de guerras e grandes guerreiros, e seus praticantes de Jiu-Jitsu valentes e interessados. Conheci um brasileiro com uma namorada húngara, e logo eles me levaram pelo interior do país, numa viagem no tempo inesquecível entre castelos, catedrais e ruas saídas da Idade Média.

Já na Austrália, fiz o pacote completo: Jiu-Jitsu, surfe e conhecer os cangurus. Australianos, samoanos e neozelandeses amam o nosso Jiu-Jitsu há décadas. Após treinar no deque da casa de um amigo, deitei e só pude agradecer pelo estilo de vida que levo graças à minha faixa-preta e ao meu conhecimento.

Certo dia, eu terminei o treino e disse ao meu amigo que estava pesquisando um parque a algumas milhas onde iria ver cangurus. Ele riu, me apontou o quintal da casa e sentamos lá. Rapidamente, comecei a ver um bando de cangurus deitados, pegando uma sombrinha nas árvores.

Em sua próxima viagem, não deixe o kimono em casa. Vai valer a pena. Oss…

* Relato do faixa-preta da GAS Jiu-Jitsu ao repórter Marcelo Dunlop

Professor Luiz Dias entre os cangurus. Fotos: Divulgação

Professor Luiz Dias entre os cangurus. Fotos: Divulgação

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