Mestre Mansur e a lição de Helio Gracie para quem toma café

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Helio Gracie

Helio Gracie em seu mítico sítio. Foto de Gustavo Aragão, em 2006.

[ Milton Regis *]

É a combinação de diversos fatores que faz o lutador de Jiu-Jitsu estar pronto para ingressar no seleto clube dos faixas-pretas. Não ser adepto de uma bebida inofensiva como uma xícara de café, à primeira vista, pode não ser uma das exigências mais importantes, claro. Mas sim, para o professor Helio Gracie era.

Hoje faixa-vermelha nono grau, grande mestre Francisco Mansur
conta como o saudoso professor promoveu um dos ajustes na dieta dos alunos, e que vem contribuindo para mantê-lo ativo após os 80 anos.

Quando ainda era bebê, Mansur lembra, seu problema era com o
leite. Não saciado pelo leite materno, chorava a ponto de obrigar seus pais a tomar uma decisão difícil: o pequeno Francisco passou a ser alimentado com leite de égua. Na primeira vez, todos ficaram preocupados, pois o pequeno recém-nascido dormiu por mais de um dia. Acordou e voltou a dormir sem ao menos chorar.

A partir deste dia, passou a ser alimentado somente com o tal leite. “Aos 6 meses, eu já pesava 14 quilos”, lembra o faixa-vermelha. Cresceu saudável e nunca teve doença nenhuma, nem mesmo quando exposto diretamente a males comuns da época, como catapora, sarampo e caxumba. Mansur só veio a entrar em um
hospital quando adulto – era policial e foi vítima de tiros.

Durante 35 anos como policial civil no Rio de Janeiro, ele seria alvejado 11 vezes entre ações e emboscadas.

Aos 15 anos, já exímio atleta de natação e de judô pela ACM,
passou a treinar com Helio Gracie após ler nos jornais da cidade a declaração do professor de que “todo judoca é frouxo”. Mansur não gostou e mesmo sem a autorização do professor, o japonês Nagashima, decidiu ir lá provar que não era frouxo. Helio Gracie curtiu a ousadia do rapagão, e deixou Mansur treinar.

Em pé de kimono, derrubou todo mundo, mas no chão se mostrou alvo fácil.

Helio e Mansur tornaram-se, com os anos de convívio grandes
amigos, antes, durante e depois de o pupilo abrir a academia Kioto – ele foi autorizado por Helio a usar o nome Gracie, mas acabou decidindo homenagear a antiga capital do Japão, país onde o Jiu-Jitsu floresceu.

Francisco Mansur recebeu a faixa-preta de Jiu-Jitsu diretamente das mãos do grande mestre em 1972. Não sem antes aprender uma lição importante do mestre.

Grande mestre Francisco Mansor com sua imponente faixa-vermelha de Jiu-Jitsu. Foto: Arquivo Pessoal

Grande mestre Francisco Mansor com sua imponente faixa-vermelha de Jiu-Jitsu. Foto: Arquivo Pessoal

Atento aos ensinamentos do irmão Carlos sobre alimentação natural, Helio Gracie sempre lembrava que nosso corpo é alcalino, e o café é altamente ácido. Com uma talagada de açúcar e bebido depois da refeição então, torna-se prejudicial à saúde. Como Helio dizia, mais do que um hábito, o cafezinho torna-se um vício.

Palavras do próprio Helio, em diálogo com Mansur:

– Você bebe café?

– Só de vez em quando.

– Beber café faz mal, é um vício, e vícios são calos na
personalidade de um homem.

 

Ou seja, para Helio Gracie, tornar-se um faixa-preta de Jiu-Jitsu significava bem mais do que lutar bem e conhecer as técnicas. Envolvia caráter, personalidade, não se curvar aos vícios e cuidar do corpo, 24 horas por dia.

Mansur deixou de lado o líquido fumegante naquele mesmo dia, e
não bebe até hoje.

* Milton Regis é professor de Jiu-Jitsu em Nova York e co-
organizador do campeonato Long Island Pride

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