Trevor Alfred Charles Jones periga nunca ter vestido um kimono na vida, mas foi um parceiro fiel de Rickson Gracie nos ringues.
O compositor sul-africano foi o autor do tema musical do filmão “O último dos moicanos”, de 1992, música que acompanhava mestre Rickson em seu longo e eletrizante caminho do vestiário até estar olho no olho com o adversário.
Até hoje, a linda melodia para orquestra de violino e violoncelo segue como uma sinfonia popular, em especial na internet.
Mas por que todo atleta tem sua canção favorita para os minutos de ansiedade? E por que você treina melhor ou pior quando escuta aquela música no carro ou no seu smartphone?
Há uma razão de milhares de anos para tudo isso. Os sons, desde os primeiros hominídeos ao redor da fogueira, foram nossos maiores aliados. Era pelo som, pelo vento ou pelo urro que sabíamos que era preciso correr ou lutar, por exemplo.
Em termos científicos, os ruídos e esporros ativam de modo instantâneo nosso sistema límbico — também conhecido como cérebro emocional —, a parte da mente responsável por nossas memórias e reações imediatas dos nossos músculos, hormônios e células. É o que você experimenta no cotidiano ao escutar um trovão lá fora e sentir o corpo tremer.
Certos cineastas perceberam logo isso. E foi assim que passaram a usar, notadamente em seus filmes de terror, músicas que lembram os sons de alarme da natureza. Quanto mais variação de volume, de timbre e de grave para agudo, e quanto mais intensa e abrupta forem as variações, mais adrenalina.
É assim que, se o tema de “Psicose” faz qualquer ferrabrás se arrepiar no sofá, uma doce melodia também é capaz de amansar qualquer um. E a música certa, com a memória sonora apropriada, será capaz de ligar o interruptor do mais tranquilo dos samurais, instantes antes do combate mais importante de sua carreira.
Afinal, como bem resumiu a jornalista e pensadora Fran Lebowitz, “a música é uma droga que não nos mata”. Só nos fortalece, afinal as melodias nasceram dos sons do mundo e também criam um novo mundo para quem as escuta.
Rickson, claro, não se apresentava de modo impecável apenas pelo que lhe entrava pelos ouvidos, mas por toda uma vida dedicada aos treinos, aos detalhes técnicos e ao conhecimento de sua família.
Mas escute esta joia das trilhas sonoras do cinema e responda: tais acordes não acendem em você uma vontade quase irreprimível de inspirar, expirar e cair dentro dos tatames?
Boas audições, ouvidos atentos ao seu mestre, e bons treinos.
Artigo original do portal de Rickson, onde você pode assitir a um vídeo com alguns dos melhores lances da carreira do mestre, aqui.