Apesar de levar o sempre impávido samurai Rickson a embargar a voz de emoção, a festa que grande mestre Helio Gracie (1913-2009) pedira aos filhos, antes de falecer, foi um evento alegre, marcante e à altura dos feitos do gênio das artes marciais. Com fãs de 9 a 90 anos reunidos na sede náutica do Vasco da Gama, na Lagoa, onde Helio Gracie ensinou Jiu-Jitsu nos anos 1970, filhos e amigos relembraram histórias deliciosas do lutador, em evento regado a suco de frutas.
Às 21h, para deleite das cerca de cem pessoas presentes, todas da família do Jiu-Jitsu, foi exibido em telão as grandes fotos da vida do mestre. Não faltaram fotos de Helio lutando, ou cenas raras como o mestre jogando pingue-pongue e tocando violão. Na platéia, eminências da sociedade (como o corregedor Luiz Zveiter, o criminalista Arthur Lavigne, o oftalmologista Almir Ghiaroni, o político José Moraes, o empresário Mario Rosado e tantos outros), cascas-grossas (Kyra e Kron Gracie, Amaury Bitetti, Nino Schembri, Léo Leite, Fabrício Morango, Letícia Ribeiro etc) e discípulos, como o sobrinho-filho Robson Gracie, João Alberto e Álvaro Barreto e o delegado Helio Vigio.
“Helio Gracie libertou-se e virou energia”
“Essa chuva forte ao longo de todo dia é uma homenagem da natureza ao mestre”, lembrou o co-organizador e grande amigo Dr. Pedro Valente, que emocionou os presentes ao contar feitos raros de Helio Gracie, como o dia, em 1956, que o mestre venceu um campeonato… de caça à raposa, no clube Promenade, em Nogueira, na serra fluminense, montando seu cavalo Quilate, que comia melancia dada pelo mestre.
Luiz Zveiter agradeceu ao mestre e ao Jiu-Jitsu e atestou: “Com tantos familiares e amigos aqui hoje, tenho certeza de que o mestre adoraria ver essa reunião em vida”.
Rickson Gracie, que abriu e encerrou os discursos, emocionou-se ao fim ao lembrar que a partida do pai deu-se nas vésperas do Campeonato Europeu, onde Kron conquistou seu primeiro título no Jiu-Jitsu na faixa-preta e homenageou o avô:
“Quando soubemos da notícia nos abraçamos, abatidos por uma saudade física daquele que foi meu mestre, meu técnico, minha influência. Depois percebi que naquele momento Helio Gracie se libertava daquele corpo que já demonstrava cansaço e virava energia, e que a energia estaria ali com a gente na hora de Kron lutar. A vitória do neto foi como um ciclo completo, a prova que daremos seqüência à sua missão e a de nossa família, para sempre”.
Rorion lembrou que por morar há 30 anos longe do Brasil, na Califórnia, preparou-se para a partida do mestre: “Gente, o velhinho não morreu, está perambulando por aí. Eu sempre parecia escutá-lo, suas lições e conselhos, mesmo de longe. De modo que para mim ele apenas mudou de zip code, de CEP. Morava no primeiro andar, agora está numa cobertura”.