“Eu não sou turco”.
Essa frase me acompanhou por quase toda minha vida no Brasil. Árabes no país de Pelé e Royce são chamados popularmente de turcos. E a explicação para isso é simples.
Quando os primeiros árabes chegaram ao Brasil, no começo do século 20, vinham com passaporte turco, pois a Turquia dominava quase toda a Árabia. Mas poucos sabem que turcos e árabes foram rivais durante anos.
Dessa maneira, dentro da comunidade árabe no Brasil, ser chamado de turco tinha uma conotação nada carinhosa. Na busca da minha identidade árabe busquei, muito através do Jiu-Jitsu, conhecer o maior número possível de países árabes. E passar um pouco do meu conhecimento de kimono aos amigos do mundo árabe.
Há pouco mais de 30 dias, antes do meu retorno definitivo ao Brasil após três anos no Oriente Médio, resolvi conhecer Istambul, na Turquia. Entrei em contato com uma das referências da arte suave no país, o faixa-roxa Ertan Balaban, formado pelo campeão Igor Silva (Brasa).
Ertan é um grande anfitrião, o tipo de pessoa que abre a porta de casa a qualquer desconhecido em troca de algumas posições da arte suave. Neste quesito, a hospitalidade, turcos e árabes são bem parecidos. Além do Jiu-Jitsu clássico e do alto grau de disciplina exigido em suas aulas, pude perceber em Ertan uma qualidade especial que está sendo vital na divulgação do Jiu-Jitsu no país: a determinação.
Ao sentarmos para almoçar num restaurante com seu pai, professor universitário de respeito, e seu primo turco-americano, ambos notáveis intelectuais, fiquei ciente de como Ertan conseguiu notabilidade na Turquia através do Jiu-Jitsu, arte que conheceu e começou a treinar há sete anos, quando estudava nos EUA.
Mais do que uma arte, para Ertan o Jiu-Jitsu é um movimento mundial.
“Vejam, eu conheci o Mohamed aqui pela internet, como conheci tantos outros faixas-pretas brasileiros que já vieram aqui. E ele já é um irmão, irmão de Jiu-Jitsu. Me digam se existe algum outro movimento no mundo, confraria ou esporte, capaz de unir tanto as pessoas assim? É a isso que me refiro – o Jiu-Jjtsu é uma irmandade de fato”, diz Ertan Balaban.
Em poucas palavras, este faixa-roxa turco conseguiu definir o Jiu-Jitsu mundial hoje.
Ultrapassamos fronteiras, sejam elas políticas, religiosas ou culturais. Nos tornamos uma grande rede de convergência, de formadores de opinião, de estilo de vida.
O Jiu-Jitsu praticado na Turquia é igual ao praticado no Brasil, que é o mesmo dos EUA, da Europa, da Arábia, Ásia ou Oceania.
Talvez não pelo fator técnica simplesmente, e sim mais pelo fator da tradição do conhecimento, do estilo de vida, da união de seus praticantes.
Ao voltar de vez ao Brasil, pátria amada, agora me sinto mais brasileiro. E mais árabe e por que não dizer, mais turco.
Um excelente 2012 a todos vocês, leitores do GRACIEMAG.com e meus irmãos de Jiu-Jitsu.