Visto sempre como um grande exemplo pelos fãs de Jiu-Jitsu, o peso meio-pesado André Galvão (Atos Jiu-Jitsu) foi a ausência mais dramática do Mundial de Jiu-Jitsu 2012, por conta de uma atitude infeliz.
O faixa-preta não se conteve com uma punição recebida por um aluno seu, Denilson, na final do peso-pena faixa-roxa do Mundial, e num ato impensado pulou a grade para ir reclamar com o árbitro dentro da área de luta. O ato rendeu uma punição automática da IBJJF, impedindo Galvão de lutar este ano a competição mais importante do Jiu-Jitsu competitivo, que terminou no domingo. Ainda arrependido, e depois de noites insones e até lágrimas, André conversou com o GRACIEMAG.com.
O que ocorreu na sexta-feira, e qual a lição que fica?
Cara, eu fui punido. Isso todo mundo já sabe. Eu não pude controlar minhas emoções ao ver um aluno meu sendo injustiçado numa final de Mundial, na faixa-roxa. Sei que muitos vão me criticar por isso, certamente. Eu sei que foi um erro o que fiz. Não deveria ter passado da faixa de segurança para argumentar com o árbitro. E, no fim, acabei pagando um preço muito alto por isso.
Eu tinha total condições de estar no lugar mais alto do pódio este ano, sem desmerecer os campeões do peso e do absoluto. Mas eu estava treinado “com T maiúsculo”. Quem viu o trabalho que eu fiz sabe muito bem do que estou falando. Mas infelizmente não foi dessa vez, doeu muito ficar do lado de fora.
Como foi ver todos os lances do Mundial 2012 da arquibancada?
Eu até já chorei por isso, se você quer saber. Foi pior do que uma derrota. E o ser humano às vezes aprende com os próprios erros. E eu estou aprendendo assim. Não consigo dormir direito até hoje. Que isso sirva de lição não só para mim, mas para todos.
Tenho recebido muitas mensagens de fãs e pessoas que gostam de mim. Isso está me ajudando muito nesse momento. Gostaria de agradecer a todos, obrigado pelas mensagens, galera. Não quero soar mal, mas de fora senti que minha categoria (o meio-pesado) não teve o brilho especial, como as outras categorias. Foi extremamente sem graça, cá entre nós. Mas gostaria de reforçar os meus parabéns a todos os campeões. Em especial ao Bochecha que mandou bem demais!
Pensa em voltar mais forte em 2013, então?
Sim, certamente. Já pedi desculpas mais de cinco vezes para a IBJJF e peço mais uma vez aqui. Sei que cometi um erro e o arrependimento é esse. Quando você sabe que errou e não quer mais fazer aquilo de jeito nenhum. Tenho crescido como atleta, mas muito mais como professor com o que houve.
Estou mais do que arrependido, na verdade, pois eu luto para viver, isso fala tudo. Gostaria de pedir desculpas também aos meus patrocinadores Storm Kimonos, Twinlab Fuel e Zebra Mats por tudo o que ocorreu. Agora claro que já passou, mas acho que para eu engolir isso só vencendo o Mundial 2013, no peso e absoluto.
De fora, deu para analisar alguma coisa?
Acho que em termos de regras está tudo legal. É nítido o crescimento da nossa arte a cada ano. O Mundial é muito bem organizado, só falta um detalhe, ao meu ver. Se a IBJJF tiver condições ano que vem, deveria haver sempre três árbitros em cada área de luta. O caso é que o Jiu-Jitsu é muito complexo. Tem muita posição, muita embolação, pegada aqui e ali. É muita coisa para um árbitro apenas ver sozinho, principalmente no Jiu-Jitsu de hoje. Muitos árbitros que estão ali por vezes não conseguem acompanhar o ritmo das lutas, e ficam totalmente perdidos com esse tipo de jogo de embolação.
Acho também que deveria ter uma escola de árbitros e eles deveriam receber salário para exercer a profissão. Um curso preparatório para eles, ter uma escola de formação, seria bem interessante e muito bom. Acho que isso iria fazer a diferença, ajudá-los a tomar a decisão ali na hora H.
Gostou ou não de algo a que assistiu na Pirâmide em Long Beach?
Olha, como eu disse acho que a regra está quase perfeita. Mas poderia mudar na hora que os atletas caíssem na guarda 50/50. Ali, os atletas de repente poderiam ter 30 segundos pra trabalhar. Se não conseguissem fazer nada, desenvolver, os árbitros poderiam parar a luta e voltar em pé. Se você reparar, quase todas as finais de faixa-preta caíram nessa situação. Fica horrível de assistir, ficar de córner e mesmo arbitrar lutas assim. A guarda 50/50 poderia ser usada por 30 segundos, voltando em pé após não acontecer nada. Se o pessoal concordasse, a regra poderia ir até mais longe, conferindo punições e até a desclassificação para o lutador que forçasse a posição, que se colocasse nela sem desenvolver. Assim como é feito para quem amarra.
É que não adianta, a 50/50 é na maioria das vezes usada para defesa e para amarrar, não para atacar. Aí fica ridículo de ver lutas assim. Como uma emissora de TV vai passar uma luta de dois caras atracados como cachorros por dez minutos? Não fica bem.