Acordei com uma grande tristeza no domingo. Aquele aperto no peito, aquele embrulho no estômago, aquele gosto amargo na garganta. Nada me animava. E pensar que eu tinha tanto a dizer sobre este UFC 147.
Podia escrever sobre a presença maciça do público que lotou o ginásio, contrariando todas as expectativas negativas. Tendo ido ao UFC Rio e a este UFC em BH, podia escrever sobre as notáveis diferenças entre a torcida carioca e a torcida mineira (a primeira muito mais animada e calorosa, a segunda mais concentrada e respeitosa – especialmente em relação aos americanos). As reações de Thiago “Bodão” e Marcos “Vina” renderiam boas linhas. Só a incrível batalha entre Cezar “Mutante” e Serginho já valia uma crônica própria. Assim como a “mágoa” do público com Vitor Belfort. Mas nada disso me empolgava naquela manhã nublada de domingo. Eu estava inconsolável.
Desde que foi anunciado que o UFC 147 seria realizado em Belo Horizonte, fiquei ansioso para ver Wanderlei Silva, a lenda, lutar “no meu quintal”. Sou paulista, mas resido em Minas Gerais há sete anos. Morei em diversas regiões deste estado gigantesco e aprendi a amá-lo como minha casa. No início da semana de 23 de junho, eu mal podia conter a ansiedade para estar próximo ao octógono e ver o “Cachorro Louco” arrasar Rich Franklin com joelhadas potentes. Aqui! Em solo mineiro.
O frustrante resultado da luta principal, com a derrota de Wanderlei, tirou a graça do evento que eu havia esperado tanto. O imortal mineiro Carlos Drummond de Andrade, certa vez, disse: “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”. As duas mãos de Wand não foram suficientes para suportar o peso do sentimento de uma nação. Ele lutou, se esforçou, bateu, apanhou, cansou. E não foi o suficiente para vencer.
Meus amigos me ligavam perguntando sobre a luta e eu me pegava discutindo hipóteses irreais. “E se o segundo round tivesse mais 30 segundos?” “E se aquele contragolpe tivesse acertado o alvo no último round?” É. Eu estava sofrendo a “Síndrome do Torcedor de Time que Perdeu”.
Você que torce por algum esporte (seja MMA, futebol, vôlei, peteca) sabe do que estou falando. Eu já passei por humores assim, por exemplo, quando o meu São Paulo Futebol Clube perdeu a final da Copa Libertadores em 1994.
Sentimos a derrota do nosso objeto de torcida como se fosse uma derrota nossa. Vemos e revemos a reprise na nossa cabeça e nos perguntamos o que poderia ter ocorrido diferente. Para o verdadeiro fã antigo de MMA, ver a derrota de Wanderlei Silva no Mineirinho seria equiparável a ver a Seleção Brasileira perder no Maracanã em 1950.
Mas o esporte e a vida são feitos disso. De vencer e de perder. De comemorar e sofrer. E, principalmente, de continuar torcendo. Não parei de torcer pelo São Paulo, nem pela Seleção Brasileira e não o farei em relação a Wanderlei Silva. Ele sempre será um ídolo e uma referência do esporte porque sempre mostrou coragem inigualável.
Por isso, deixo Guimarães Rosa, o maior escritor de Minas Gerais, concluir de uma maneira muito melhor do que eu jamais poderia fazer: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”