Um lutador de MMA que sobe ao octagon no sábado e já prepara a mochila para treinar terça-feira já pode se considerar bem-sucedido no compromisso. Foi o caso de Serginho Moraes, o vice-campeão do “TUF Brasil”, após a derrota por decisão unânime para o também faixa-preta Cezar Mutante, peso médio formado por Vitor Belfort, no UFC 147.
Ainda que derrotado, Serginho não parava de receber telefonemas dos parentes e dos companheiros de Alliance, como o professor Fabio Gurgel, felizes pela exibição segura na trocação, com apenas um mês e dez dias de treinos intensivos de muay thai, puxados por André Dida em Curitiba. Foi lá, após duas semanas avaliando as propostas e pensando em conjunto com a cúpula da Alliance, que o campeão mundial de Jiu-Jitsu partiu após sair da casa do “TUF”. Ele preparou-se trocando sopapos com Mauricio Shogun, Wanderlei Silva e Fabricio Werdum, entre outras feras. Não podia deixar de evoluir, certo?
Antes orgulho dos filhotes Bia e Riki, e da esposa faixa-marrrom Jaqueline (atual campeã brasileira de Jiu-Jitsu), Serginho tornou-se, na madrugada de sábado, o orgulho dos fãs do Jiu-Jitsu. Não tanto pela guarda, desta vez, mas pela dureza do queixo. Ele falou com o GRACIEMAG.com sobre a derrota com sabor de vitória.
Até sua forma de defender os socos, afastando os braços, está bem parecida com a forma de lutar do Shogun. O treino em Curitiba mudou você para o UFC 147?
Acredita que essa eles nem ensinarm? Eu não cheguei nem a conversar com o Shogun sobre isso, mas eu peguei o jeito. É um modo de reposicionar os punhos, de fazer o oponente entender, “olha, a mão está aqui, o escudo está no lugar novamente!”. Meus treinos foram puxados pelo (André) Dida, que sabe muito de muay thai. Foi ele o grande responsável pela minha evolução técnica. Ele me exigiu muito, fizemos muitas repetições, e ainda houve as horas e horas de treino de sparring. Eu sabia como o Mutante bateria forte. Mas treinar com caras com o gabarito do Shogun e do Wand, que além de tudo são mais pesados, não sei nem como elogiar. E ainda teve a mão pesada do Werdum, um campeão mundial também, com quem também treinei no chão. Então estávamos todos preparados para qualquer situação.
Houve algum golpe que deixou você realmente grogue? Você lembra de tudo ali?
O mais forte foi o primeiro direto que abriu meu olho, nossa senhora. Eu só dizia para mim mesmo: “Não para, vai Serginho, esperneia! Vai moleque, o cara quer te matar!” MMA é isso, eu tomei muito bombão mesmo, era cada pombo sem asa que doía. E era pesado. Ele é bem mais pesado que eu, chega a cem quilos e eu luto de kimono como 78kg. Quero mudar de categoria, foi só para entrar no “TUF Brasil”.
Ouviu alguma coisa oficial do UFC?
Não, nós do “TUF” temos contrato até o fim de 2012, mas não houve nada oficial depois da luta. Agora é aguardar, mas não estou preocupado, não. Eu quero muito ficar. Mas se não for desta vez, meu sonho não vai se apagar. Ainda quero chegar a uma disputa de cinturão do UFC na minha categoria (77kg). Se não for agora, será em breve. Vou acordar cedo, treinar e batalhar por isso todo dia. Uma hora eles vão me chamar, tenho certeza disso.
Você disse que queria recuperar a confiança em pé, especialmente após o nocaute sofrido contra Daniel Sarafian, naquela joelhada voadora que passou na Globo. Mas não houve jeito de botar para baixo hora nenhuma?
A estratégia era essa. A vitória era o objetivo, e o caminho combinado com o Dida e Shogun era tentar quedar e ficar por cima. Até aproveito para pedir desculpas para o Fabio (Gurgel) por não ter conseguido levar para o chão. Foi mal, pessoal! Mas na primeira vez que tentei, no primeiro assalto, percebi que seria muito difícil. Ele estava muito bem preparado para defender e recuar se eu ficasse tentando. Então o Dida e o Shogun me tranquilizaram no primeiro intervalo, disseram que a coisa estava boa e segura para mim em pé, caso eu não derrubasse. Então lutei tranquilo. Como eu queria estragar a festa do Vitor Belfort, mas a vitória não veio (risos).
Como será esse primeiro treino depois do UFC? De kimono talvez?
É o que a gente chama de treino “recuperativo”. Conferir as dores e lesões, e trabalhar movimentação, andar na esteira, movimentar em pé bem de leve. Encostei o kimono um pouquinho no mês passado, né. Mas agora vou inaugurar a Alliance Curitiba aqui, e começo a dar aula de pano semana que vem, no mais tardar na próxima. As aulas serão demais, vou ensinar Jiu-Jitsu na academia do nadador Gustavo Borges, no bairro de Barigui, acho – sou novo aqui ainda, da Cohab para Curitiba (risos). Aproveito para mandar um beijão para o meu pessoal lá em São Paulo – é a família do S: meus pais Sidney & Sônia, e meus irmãos Simone e Sandro.
* E para você, leitor? Serginho tem futuro na categoria até 77kg?