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A arte e os desafios de organizar um campeonato, por Claudio França

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Claudio França, faixa-coral de Jiu-Jitsu. Foto: Arm Photography / Divulgação

Faixa-coral carioca radicado em Santa Cruz, na California, Claudio França acumula mais de 40 anos de experiência como organizador de torneios.

Para o leitor avaliar o pioneirismo de França, um de seus primeiros eventos realizado com amigos, a Copa Atlântico Sul nos anos 1980, foi realizada a céu aberto e teve no pódio o atleta Renzo Gracie. Como faixa-roxa!

“Naquela época não existia nem vantagens e era tudo sem computador, só no papel. Imaginem”, rememora mestre Claudio França. “Em nossos torneios tivemos até um duelo Gracie x Gracie, luta raríssima. Foi uma disputa Royler x Carlson Jr. Em outra ocasião, começou a chover no meio do torneio e alguém clicou a foto eterna: mestres Carlos, Helio e Carlson embaixo de uma árvore, na espera do tempo melhorar e as lutas voltarem. Preciso achar essa fotografia…”

Nos anos 1990, ele foi morar nos Estados Unidos, e seguiu na busca de popularizar o esporte e o espírito de competição por lá. Seu US Open foi realizado pela primeira vez em 1996, ano por sinal do primeiro Mundial da IBJJF no Rio.

O professor formado por Francisco Mansor contou a Marcelo Dunlop, repórter do GRACIEMAG.com, como é o dia de um organizador de eventos de Jiu-Jitsu, e todos os sufocos e prazeres que um campeonato bem realizado oferecem.

Confira e aprenda um pouco com quem soma décadas de experiência no assunto. Oss…

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Claudio com sua turminha casca na Califórnia. Foto: Arquivos GRACIEMAG

“O dia de um evento exige preparo. Não é um esforço nem parecido com quem luta, mas você também vai dormir tarde, acordar cedo, ter um desgaste físico e mental pesado. A responsabilidade de tentar agradar 2 mil competidores e suas equipes também pesa.

Gosto de ser o primeiro a chegar até a arena, para abrir as portas e verificar tudo. Por isso acordo por volta das 6h da manhã, tomo um líquido e saio rápido de casa. Só vou relaxar e me alimentar depois que toca o Hino e as disputas começam na mais plena normalidade. Se o evento é fora da Califórnia, eu chego até a cidade pelo menos no dia anterior.

Nos primeiros eventos, todo organizador precisava fazer tudo, de apagar pequenos incêndios a chamar para o pódio e conversar com parentes dos atletas. Era uma carga pesada. Mas também eram bem menos lutadores – com 150 inscritos nos primeiros US Open, por exemplo, e o campeonato era ótimo já. Hoje vemos o Mundial Master da IBJJF com mais de 8 mil lutadores e lutadoras. O nosso esporte só cresce, e há um staff dez vezes maior também.

Nathan Mendelsohn American Cup Claudio França San Jose

Torcida vibra no evento American Cup, durante vitória do americano Nathan Mendelsohn. Foto: Arquivos GRACIEMAG

O lado mais chato de organizar campeonatos é quando atletas ou professores levam para o lado pessoal. Você precisa seguir regras mas muita gente não entende. Há sempre os imprevistos, normais na vida de qualquer pessoa que promove esportes e eventos grandes em geral. Lembro uma vez que o campeonato quase foi cancelado – o ginásio reservou a data para dois eventos completamente diferentes. Foi um torneio American Cup, creio que em 2012. Soubemos disso quatro dias antes e precisava realocar o torneio para 1500 competidores. No fim deu certo apesar do desgaste mental.

Há também os imprevistos que nos alegram. Recentemente, eu estava mal de cama no Brasil. Tive dengue e fiquei de cama no Rio de Janeiro. Cancelei meu voo de volta e, quando soube, minha equipe me ligou informando que o empresário Mark Zuckerberg estava confirmado, e ia lutar no nosso evento na Califórnia. A equipe do mister Mark entrou em contato com o staff do torneio BJJ Tour e por um mês ficou essa negociação entre evento e os assessores do empresário, para ele ter uma experiência prazerosa e também não atrapalhar o andamento do torneio.

Ele lutou como faixa-branca no peso-pena master 1 e curtiu muito, voltou com duas medalhas – uma de prata com kimono, após uma vitória e uma derrota na final. Já no Jiu-Jitsu sem kimono ele ficou com o ouro. Foi fantástico.

Tudo foi fruto de um longo trabalho no fim das contas, pois o Dave Camarillo, treinador do Zuckerberg, competiu nos primeiros US Open. Se não me engano ele lutou no evento inaugural de 1996. Daí a escolha deles. E eu só fiquei sabendo na véspera, pois estava acamado no Rio de Janeiro. Coisas da vida de um organizador de campeonatos.”

Mark Zuckerberg voltou com duas medalhas do BJJTour. Foto: Reprodução/Instagram

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