Texto: Gustavo Asmar*
A longevidade da prática esportiva depende de muitos cuidados. Ortopedistas especializados em tratar lesões sofridas por atletas estudam cada vez mais a questão da prevenção. Tentamos identificar as principais medidas que prezam pela integridade física e pela saúde dos atletas. No caso do Jiu-Jitsu, estudamos os golpes mais aplicados, a biomecânica dos movimentos, e as lesões mais reincidentes.
Gosto de usar o armlock como exemplo, uma das chaves de braço mais conhecidas e aplicadas, na qual o mecanismo de trauma mais comum é uma hiperextensão do cotovelo com o antebraço em posição neutra. Por conta disso, o paciente costuma apresentar uma dor na região medial e anterior do cotovelo. Sente uma dor de forte intensidade, porém, não incapacitante. Sendo assim, nem procura atendimento médico, fazendo uso de medicações anti-inflamatórias por conta própria ou então fazendo apenas sessões de fisioterapia tendo uma melhora rápida do quadro. Às vezes, até procuram uma emergência, mas, ao descartarem a fratura, retornam com brevidade às suas atividades.
As lesões mais comuns causadas pelo armlock são as do complexo medial do cotovelo. Podemos citar o tendão flexor comum dos dedos e o ligamento colateral ulnar. Essas lesões serão apenas evidenciadas pela ressonância nuclear magnética e, se negligenciadas, podem acarretar na instabilidade do cotovelo, comprometendo a performance do atleta, causando lesões degenerativas locais, que comprometem a longevidade da prática esportiva além de aumentar o risco de novas lesões graves no cotovelo.
Por isso, caso o praticante sofra um golpe que gere uma dor que dure mais de três dias, ou então apresente uma equimose (coloração roxa) na região, ele deve procurar com brevidade um ortopedista para realmente tratar essa lesão, que, dependendo do grau da lesão, da instabilidade e do nível de performance do atleta, será prescrito ou tratamento conservador com imobilização com tipoia por duas ou três semanas, ou, nos casos mais graves, tratamento cirúrgico.
É por essa razão que os professores de Jiu-Jitsu costumam recomendar que seus alunos não tenham vaidade durante o treino. Ao perceberem que o oponente encaixou um golpe bem justo, o lutador não deve resistir além da conta. Dar os três tapinhas é a melhor prevenção que pode ser recomendada, a dica fundamental para você treinar Jiu-Jitsu com qualidade motora, por toda a sua vida.
* Gustavo Asmar é ortopedista especialista em trauma do esporte.
Membro do Centro de Trauma do Esporte do INTO.