Nosso GMI, o professor Aldo Max faz um importante trabalho à frente da escola Brothers of Mat, sediada em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Aldo exerce um importante trabalho na formação de artistas marciais e utiliza o Jiu-Jitsu como ferramenta para transformar vidas. Nas últimas semanas, Aldo recebeu o quarto grau na faixa-preta das mãos do mestre Helio “Soneca” Moreira.
Em entrevista ao GRACIEMAG.com, Aldo listou os benefícios das técnicas de defesa pessoal para crianças e comentou a importância dos ensinamentos do professor Helio Soneca para sua formação como professor..
GRACIEMAG: Como os aprendizados com o Helio Soneca foram importantes para te moldar como professor?
ALDO MAX: O professor de Jiu-Jitsu tem uma função de pai para os alunos e precisa ter um cuidado de psicólogo para dar uma orientação e um abraço quando for necessário. Existem casos de alunos órfãos que passaram por outras academias, mas não receberam o mesmo acolhimento. Então nós temos que exercer esse papel de paternidade que fica vago para muitas pessoas, foi assim que eu aprendi com o Helio Soneca.
Qual foi seu primeiro contato com as artes marciais? Foi paixão ao primeiro rola ou você demorou a perceber que treinaria para sempre?
Tive meu primeiro contato com as artes marciais por meio do judô, aos 10 anos, e cheguei até a faixa-roxa. Gostava bastante e me ensinou muito sobre disciplina. No entanto, a luta acabava quando chegava no solo e comecei a perder um pouco do encanto. Até que um dia, fiz uma aula de Jiu-Jitsu e percebi que a luta se desenrolava no solo e tinham várias finalizações. Foi naquele momento que percebi que praticaria o Jiu-Jitsu para o resto da minha vida.
Que lições de outros mestres você repassa para seus alunos?
Eu era uma criança bem agitada, daquelas que gostava de brigar na escola, e esse foi o motivo pelo qual minha mãe me colocou no Jiu-Jitsu. Lembro que meus mestres falavam que deveríamos ter autoconfiança, mas também autocontrole, além do respeito, disciplina e otimismo. Hoje em dia consigo replicar esses valores para os meus alunos e torná-los verdadeiros artistas marciais.
Que transformações você vê nos pequenos alunos que começam a treinar na sua escola?
É impressionante ver como as crianças chegam na academia num primeiro contato e como elas mudam com a prática da arte suave. Digo isso especialmente pelo período da pandemia, o qual as crianças passaram bastante tempo em casa, longe da escola e dos amigos, e chegam na academia com um comportamento introvertido, de cabeça baixa, sem se comunicar muito bem e retraída. Com o passar do tempo, elas aprendem a perder o medo de tocar e falar com os amigos, verbalizam com os professores e te olham nos olhos. Elas passam a gostar de estar aqui e o treino torna-se o momento mais esperado da semana. O Jiu-Jitsu transforma positivamente a vida dessas crianças e influencia diretamente no ciclo social delas. Em certos casos, até os pais começam a treinar conosco, é algo recompensador. Às vezes, durante o treino dos adultos, algumas crianças vêm me visitar e percebo que elas resgataram a autoconfiança, é simplesmente impressionante.
A defesa pessoal e o Jiu-Jitsu já ajudaram algum pequeno aluno seu fora da academia?
Sim, e não apenas na parte física. Um aluno foi covardemente atacado por um colega na escola, e ele teve o discernimento e a calma no momento de derrubar, mobilizar o menino e chamar a professora. A questão mental também é muito importante. Diversas crianças sofrem bullying por inúmeras razões e nós ensinamos aos alunos que eles não podem aceitar o que for dito neste aspecto e precisam enfrentar. Para que isso seja possível, é preciso ter a autoconfiança reafirmada e é isto que ensinamos nos treinos. Somos auxiliadores na formação do caráter dessas crianças, então acreditamos que podemos transformar positivamente a vida dos alunos.
Quais são suas metas para a equipe daqui a cinco, dez anos?
A Brothers of Mat nasceu durante a pandemia, em meio a esse ambiente de medo, incertezas e insegurança. Eu e meu alunos nos reunimos e decidimos criar nossa própria bandeira baseado nos valores que acreditamos ser corretos, principalmente o cuidado com as pessoas e os irmãos de tatame. Este é o nosso objetivo. Acredito que podemos nos tornar uma grande equipe, mas nosso foco é cuidar dos alunos. Hoje não somos apenas irmãos de tatames, mas uma grande família.
Você é daqueles que adora um dia de surfe. Como o surfe e a arte suave se complementam?
Surfe e o Jiu-Jitsu são minhas duas verdades. Quando lembro da minha infância, tenho ótimas memórias com o surfe e com amigos, e o Jiu-Jitsu me proporcionou tudo o que tenho hoje. É interessante perceber que é preciso ter atitude para dropar uma onda, assim como é necessário para disputar um campeonato de Jiu-Jitsu. Esses mundos conversam através da atitude. A simbiose entre eles vai além disso, é observada no lifestyle, na alimentação saudável, cuidado com o corpo e muito mais. Inclusive, tenho pranchas na academia, dou aulas de surfe, treinamos Jiu-Jitsu na areia. Vivemos essas verdades com intensidade aqui.
O que é o workshop Leglocks?
O workshop Leglocks foi criado a pedido de alunos, amigos e até pessoas que já enfrentei em campeonatos, com o intuito de catalogar a maior variedade de chaves de pé e joelho que tenho no repertório. Estudei as técnicas num dia com os meus alunos e alcançamos o número de 60 posições num período entre duas e três horas. O workshop já percorreu diversos estados do Brasil e cidades europeias, além de México e Estados Unidos. O objetivo é levar conhecimento para o maior número possível de praticantes e pretendemos desenvolver mais de 60 posições no formato online.