Rio de Janeiro, início de tarde de segunda-feira, 3 de junho, e o repórter vê surgir o áudio do lutador ilustre. A foto e o nome na janelinha escura do Whatss não deixam mentir: Marcus “Buchecha” está chamando.
Com a voz de quem acabara de acordar em casa na Califórnia, Buchecha puxa um papo antigo, sobre a revista GRACIEMAG da qual foi capa. O repórter responde, conversa amenidades e emenda: “Acho que o João Gabriel naquele BJJ Stars em São Paulo acordou o monstro, hein. Sua motivação e agressividade nesse Mundial estavam melhor que nunca.”
O hexacampeão mundial absoluto, 13 medalhas de ouro somente na faixa-preta, brinca em meio à rouquidão: “Verdade, tou ficando velho para isso. É, no fim foi bom o BJJ Stars, mas tou começando a achar que não consigo mais ganhar no Brasil, preciso vir para a Califórnia mesmo para vencer”.
A lenda do Jiu-Jitsu refere-se, claro, às suas últimas derrotas de pano, para João Gabriel Rocha e Roger Gracie, mas deve-se dar um desconto para a tal “maldição” em solo brasileiro. Após campanhas promissoras na faixa-marrom, Marcus Buchecha foi graduado faixa-preta em junho de 2010 por Rodrigo Cavaca – que se aposentou como atleta no Mundial 2019, por sinal. Vieram alguns títulos, mas também algumas derrotas, como para Lucio Lagarto em Abu Dhabi, Rodolfo Vieira e Léo Nogueira, no Mundial 2011, e para Braga Neto e André Galvão, numa seletiva em San Diego para Abu Dhabi, também em 2011. Pois, justamente no Brasil, Buchecha explodiria como um cometa, pronto para brilhar intensamente até 2019.
Foi numa seletiva no Rio Grande do Sul, que Marcus Buchecha surgiu para tentar garantir vaga em Abu Dhabi, em março de 2012. Era favorito, mas Leonardo Nogueira estava por lá e a promessa era de luta parelha. Mas Buchecha estava insano: finalizou seus primeiros oponentes em alguns segundos, até vencer Nogueira por um caminhão de pontos, levando a pedreira da Alliance a sair do tatame desolado, falando até em parar de lutar, de cabeça quente, claro. Foi o primeiro grande atropelo da carreta chamada Buchecha.
Hoje, em tributo ao astro no nosso Instagram, diversos craques deram sua opinião de como e por que Marcus se tornou o maior campeão da história dos Mundiais de Jiu-Jitsu.
“Buchecha sempre foi um moleque respeitoso com todos, simples e humilde e sempre encarou todos os títulos que tem com a maior simplicidade”, opinou Rodolfo Vieira, seu principal rival, hoje amigo. “Nunca falou bobagens que ia fazer e acontecer, simplesmente foi lá e fez. Devo muito a ele parte da minha evolução”.
Para o professor Rodrigo Cavaca, “existem três tipos de atletas: os esforçados, os talentosos e os que são ambos, e portanto se tornam foras-de-série! Assim podemos definir o Buchecha, bem como vários outros”.
Mas outro sábio leitor definiu de outro modo: “Que nada, o cara é um alienígena.”
De fato, se um disco voador chegar agora e pedir para que levemos a nosso líder, basta apontar para a Califa: é lá que mora o rei do Jiu-Jitsu esportivo, Marcus Vinicius “Buchecha”.