O boa-praça e sorridente Carlos Augusto, o popular “Tio Barriga” da comunidade do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, tinha duas grandes alegrias ao chegar ao Tijuca Tênis Clube.
A primeira era ver seus filhotes Fernando “Tererê” e Patrick Carvalho em ação nos tatames – ambos levantando a criativa torcida da Alliance e fazendo arrepiar os bumbos e instrumentos de percussão nas arquibas.
A segunda era do lado de fora, em frente ao ginásio, que levava Tio Barriga a salivar, em quase todos os Mundiais, Brasileiros e Brasileiros de Equipe realizados no bairro:
“Malandro… Aquele churrasquinho de coração de frango do lado de fora não pode faltar, né?”
Tio Barriga, que se sentiu mal e faleceu no último dia 12 de junho, era antes de tudo um anfitrião de mão-cheia, e recebia sempre bem os amigos de Tererê em Ipanema. Nos tempos do Mundial no Tijuca, muitos jovens competidores vinham de longe e, sem dinheiro para hotel, se amontoavam na casa de Tererê ou nos tatames dos projetos sociais no morro. O lanche com pão de forma ou aquele churrasco de asinha de frango de dar água na boca eram com ele mesmo, o chef Tio Barriga. Já a sobremesa e o arroz-doce, fenomenal, era com a esposa, Tia Lena.
“Era impressionante, podiam surgir 50 cabeças, entre ídolos renomados e jovens anônimos, e ninguém passava fome. Era lindo de ver”, lembra o amigo Elan Santiago.
Para André Galvão, Tio Barriga será sempre lembrado por sua positividade, simpatia e criatividade. Era o pai de Tererê que criava as músicas que a torcida cantava no Tijuca.
“Ele era um cara amigo dos filhos e muito de bem com a vida. Claro que algumas vezes ele ficava bolado. Fechava a cara e ficava boladão, mas dois minutos depois no máximo já estava dando risada. Ele hoje não está mais com a gente, mas aquele sorrisão no rosto dele jamais será esquecido”, diz o líder da Atos Jiu-Jitsu, pupilo de Fernando Tererê desde garoto.
Certa vez, já faixa-marrom, Galvão foi à noite visitar os amigos da comunidade em Ipanema. Saltou do carro e tomou uma dura daquelas da polícia carioca. Arma para tudo que é lado, apavoro dos oficiais e cadê que eles davam um respiro para André argumentar?
Pois Tio Barriga entrou no meio da tropa bufando, mandou um “Vem André, bora para casa”, e tirou o campeão do sufoco:
“Ele soltou um único argumento e os policiais ficaram em silêncio. Ele disse: ‘Não tem nada aqui, o moleque é da paz’, e me resgatou. Ele impunha maior respeito”.
André então perguntou: “Mas Tio Barriga, como você soube que eu estava lá embaixo tomando aquela dura?”
E Tio Barriga: “Foram falando de janela em janela até chegar lá em casa. Eu desci voando!”
Para Elan Santiago, a figuraça Carlos Augusto deixou ao menos uma grande lição de Jiu-Jitsu para artistas marciais, pais e professores.
“Tio Barriga sabia muito sobre Jiu-Jitsu, mas jamais ficava cornetando da grade. Acho que essa foi a maior lição de vida e de esportividade que ele deixou”, lembra Elan. “Jamais o vi com raiva ou dando bronca nos garotos após uma derrota, pelo contrário. Ele ia aos campeonatos para apoiar, nunca para pressionar os filhos ou fazer cara feia para os adversários. O que por vezes é raro em pais de jovens competidores, né? Ele não queria aparecer ali na hora do filho brilhar – e ao mesmo tempo arrumava ônibus, agitava a garotada do morro e foi um dos principais líderes daquela torcida que fez história no Jiu-Jitsu e marcou o Tijuca para sempre.”
Um minuto de sorrisão e risada para o grande Carlos Augusto, o Tio Barriga do Tijuca Tênis Clube. Oss!