Professor Raphael Abi-Rihan treina Jiu-Jitsu desde os 7 anos, e como comentarista, organizador de eventos e competidor, tem uma visão rica e interessante da arte marcial sob diversos aspectos.
Neste papo com GRACIEMAG, o campeão europeu (2007) e brasileiro (2009) debate o fantasma das contusões no esporte. Abi-Rihan hoje ensina cerca de 370 alunos na bela academia que leva seu nome na Lagoa, no Rio de Janeiro, e falou sobre cuidados e metodologia no ensino histórico da arte suave, das primeiras academias Gracie até hoje. Confira!
GRACIEMAG: Os treinos de Jiu-Jitsu mudaram em relação ao passado? Machuca-se menos por uma mudança de filosofia e estilo de ensino e método de treinamento?
RAPHAEL ABI-RIHAN: Acho que os treinos estão sempre se modificando, evoluindo como tudo na vida. Mas são ciclos, fases que vêm e vão. Hoje, praticantes se contundem menos nas academias do que há algumas décadas. Mas vale lembrar que existiam, há 50 anos nas academias Gracie, treinos de defesa pessoal praticamente individuais, particulares, em que ninguém se machucava, a lesão era extremamente rara. Então é preciso dividir os praticantes em grupos. No passado, havia os “cães de guerra” que lutavam e defendiam a arte marcial, e a grande maioria de praticantes, indivíduos normais não atletas, que buscavam os conhecimentos de autodefesa e autoconfiança. Com o tempo, o Jiu-Jitsu foi crescendo e atraindo mais e mais pessoas. Surgiram então as competições esportivas, e aí entrou na equação o treino em alto-rendimento. Com o aumento da intensidade, aumentaram naturalmente as contusões.
A contusão então é inevitável entre os atletas de qualquer esporte? Não é uma coisa mais típica do Jiu-Jitsu e do jogo de guarda e raspagens, por exemplo?
Não, até porque vemos muitos campeões mundiais de diversas modalidades que jamais se machucaram seriamente. Mas, ao meu ver, o esporte e o treinamento em alto rendimento levam a uma briga contra os próprios limites do ser humano. O esportista quer sempre esticar um pouco suas limitações, aumentar suas capacidades de ir um pouco além. É o cara que quer saltar mais uns centímetros, é o grande mestre Helio Gracie se testando contra um Kimura bem mais pesado. O desejo de superação toma uma proporção tal que acaba sendo mais importante, na cabeça da pessoa, do que a saúde física ou a qualidade de vida. Um praticante não atleta pode parar umas semanas e voltar sem dores. O competidor acelera esse retorno.
Um cirurgião ou um músico, pessoas com receio de machucar os dedos, podem ir a uma academia de Jiu-Jitsu com menos receios hoje em dia?
Sim, porque há um retorno a este ciclo, do Jiu-Jitsu como hobby e dos treinos que priorizam qualidade de vida e saúde, e não de treinos de competição com jeito de duelos. Um músico e um cirurgião podem e devem treinar Jiu-Jitsu, assim como podem jogar bola, fazer um tênis ou surfar. Vai sempre depender da intensidade. Uma pelada com gente desconhecida pode se tornar dura para o jogador de fim de semana, mas entre amigos o clima é outro. Creio que hoje, numa estimativa minha, 5% dos praticantes de Jiu-Jitsu treinam para competir. Então são cerca de 95% de praticantes de Jiu-Jitsu que só buscam saúde física e mental. É aquela frase, o Jiu-Jitsu não machuca – pessoas se machucam, por culpa do ego principalmente. Se o aluno não forçar o corpo e o professor estiver atento e for cuidadoso como costumam ser, a contusão se torna rara.
Aulas particulares ainda são mais indicadas para quem teme contusões?
A aula particular prevê, normalmente, uma interação exclusiva do aluno com o instrutor, o que anula qualquer disputa e zera os riscos. O professor consegue modular a força e o ritmo e o aluno vai na boa. Numa aula particular, o professor possibilita um meio-termo entre o que o aluno deseja treinar e o que ele necessita treinar. Na aula em grupo, o professor formata uma aula em prol da necessidade comum, coletiva. Num treino com cem pessoas, há um cuidado tal, com 50 pessoas o controle aumenta e, na aula particular, o controle é total e absoluto. Agora, nem todos podem arcar com os custos de uma aula privativa, então o ideal é procurar uma escola com bons profissionais, metodologia clara e pessoas com objetivos parecidos com o seu.
>> Confira Abi-Rihan em sua academia, ao receber o amigo Sergio Bolão para um papo sobre Jiu-Jitsu. Oss!