Affliction, Fedor e o futuro do MMA

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Por: Antonio Menezes

O MMA foi sacudido nos últimos dias por notícias que provocaram uma verdadeira reviravolta no cenário do esporte. Primeiro, o resultado do exame de urina de Josh Barnett acusando o uso de esteróides anabolizantes. Na sequência, a tentativa desesperada do Affliction em encontrar um nome para substituir Barnett e enfrentar Fedor – Vitor Belfort chegou a ser sondado. Por fim, a surpresa maior: Tom Atencio, CEO do Affliction, anuncia oficialmente o cancelamento de seus eventos de MMA e assina um contrato para tornar-se patrocinador do UFC. Adicione-se a tudo isso uma mensagem um tanto enigmática de Dana White em seu twitter (“welcome back, Tito” – “bem-vindo de volta, Tito”), e está armada a polêmica.

As perguntas são muitas, as incertezas também. Por que o Affliction investiu tanto dinheiro na promoção de eventos de MMA – as bolsas pagas aos lutadores do Affliction eram bastante acima da média do mercado –, se não estava disposto a correr risco financeiro a médio prazo? O UFC, por exemplo, teve prejuízo por alguns anos: só começou a dar lucro depois da criação do reality show “The Ultimate Fighter”. Onde foi parar toda a rivalidade e animosidade que havia entre Tom Atencio e Dana White? (Atencio chegou a desafiar White para uma luta de MMA no ano passado.) O que acontecerá com os 22 lutadores que tinham contratos com o Affliction? Dana White vai mesmo receber Tito Ortiz de volta no UFC, depois de tantos insultos e acusações trocadas em público? E qual o destino do maior lutador de MMA da atualidade, Fedor Emelianenko?

Big John McCarthy ergue o braço de Fedor Emelianenko após o nocaute sobre Andrei Arlovski, em janeiro. Divulgação / Affliction

Big John McCarthy ergue o braço de Fedor Emelianenko após o nocaute sobre Andrei Arlovski, em janeiro. Divulgação / Affliction

Algumas destas questões já foram respondidas, outras permanecem em aberto. Muitos fãs de MMA podem estar pensando que o ódio entre Dana White e Tom Atencio não passava, afinal, de uma encenação. Mas não é bem assim: eles podem detestar um ao outro pessoalmente, mas não são burros a ponto de prejudicar seus negócios em função disso. Nas atuais circunstâncias, um acordo como o que foi fechado era a melhor saída para as duas empresas. Como diz o ditado, “um negócio só realmente bom quando beneficia todas as partes envolvidas”. É o caso aqui: é bom para o Affliction porque continuará associando sua marca ao MMA, e vai ganhar ainda mais exposição do que tinha antes, já que o UFC atinge público muito maior. E é bom para o UFC porque seu maior concorrente dentro dos Estados Unidos sai do mercado, deixando bons lutadores abertos a novas negociações. Este é o ponto principal.

O UFC já vinha manifestando interesse em contratar novamente Vitor Belfort, que está em boa fase, e não será nenhuma surpresa se isto ocorrer nos próximos dias. Correndo por fora, o Strikeforce fez um movimento inteligente e levou para o card de seu próximo evento, no dia 15 de agosto, a luta entre Renato “Babalu” Sobral e Gegard Mousasi. Quanto a Tito Ortiz, o mistério permanece. Em recente entrevista à rádio ESPN, Dana White disse apenas que “estava conversando” com Tito, e que sua volta ao octógono do UFC é uma “possibilidade”. Ortiz é um dos lutadores que mais atrai pay-per-views nos EUA: seu retorno ao UFC despertaria a atenção do público, colocando ainda mais pimenta na categoria meio-pesado ou light-heavyweight, que tem Lyoto Machida como atual campeão. E, diga-se de passagem, esta é a melhor oportunidade para o bad boy de Huntington Beach engordar um pouco sua conta bancária nos poucos anos de atividade que lhe restam.

 

Em boa fase, Belfort explode rumo ao nocaute em Matt Lindland. Divulgação / Affliction

Em boa fase, Belfort explode rumo ao nocaute em Matt Lindland. Divulgação / Affliction

Mas e Fedor? Aqui a questão é mais complicada. As negociações anteriores entre o UFC e os empresários de Fedor esbarraram em exigências de exclusividade: o UFC quer domínio completo sobre a carreira do lutador russo. No entanto, Fedor não aceita abrir mão de competir em eventos de sambo em sua terra natal, assim como também não parece disposto a ceder todos os seus direitos de imagem. Então o que nos levaria a acreditar que desta vez o impasse pode ser superado? A resposta é simples: a coroação de Brock Lesnar como campeão peso pesado e a consequente pressão do público para ver aquela que seria a maior luta de MMA da história nos EUA. Quando estreou no UFC, Lesnar era visto com desconfiança, um grandalhão muito forte porém pouco técnico. Hoje, é considerado por boa parte da imprensa especializada norte-americana como o único homem capaz de vencer Fedor. E há bons motivos para isso.

Dana White sabe que a heavyweight é a categoria mais importante, a que mais desperta a atenção do público. Sabe também que um confronto Lesnar x Fedor tem o potencial de causar uma comoção pública gigantesca: com uma boa estratégia de marketing, a luta pode se transformar num confronto nacional entre EUA e Rússia, uma espécie de Rocky Balboa x Ivan Drago, só que na vida real. Vadim Finkelstein, da M-1 Global, empresa com a qual Fedor tem contrato, declarou que quer conversar com o UFC sobre possíveis lutas envolvendo o campeão russo, mas “somente dentro de uma estrutura de esforços co-promocionais com a M-1 Global”.

Agora é torcer para que Dana White e o UFC cedam um pouco e façam, mais uma vez, um bom negócio. Todo mundo vai sair ganhando.

* Antonio Menezes é jornalista.

 

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