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Se o Jiu-Jitsu para você não é sinônimo de prazer e descanso, respeito e concentração, lazer e empenho, algo pode estar errado com seus treinos. Muitas vezes, o lutador – em especial o competidor – passa a ser dominado pela pressão, por um peso extremamente desconfortável no peito, uma sensação ruim de incômodo. Inimigos que, como o Jiu-Jitsu ensina diariamente, devem ser controlados com paciência e persistência.
Para o faixa-marrom e especialista em psicofisiologia do exercício na Universidade de Londrina, Marcelo Bigliassi, o lutador ansioso pode domar o nervosismo excessivo com um tipo de treino simples e eficiente – o treinamento psicológico e o controle da ativação pré-competitiva.
“O estresse e a ansiedade sempre vão existir na vida de qualquer pessoa. A questão é como a gente lida com eles”, explica Bigliassi. “Os atletas amadores, em especial os mais jovens, vão competir primordialmente para se divertir e tentar colocar em prática alguns golpes aprendidos. Mas a pressão externa pode inverter isso e provocar um quadro de ânsia, nervosismo e negativismo”.
Segundo observa Marcelo, o lutador de Jiu-Jitsu muitas vezes cai em três quadros característicos de comportamento. Há o atleta deitado na arquibancada, quase dormindo; o lutador isolado, casaco na cabeça, ouvindo música longe de todos; e o atleta que não para de falar, que mexe com todo mundo e fica brincando o tempo todo.
“Todos esses três atletas, de modo geral, estão num nível de ansiedade muito alta e exacerbada, capaz de prejudicar suas atuações no dojô”, verifica o especialista. “O bom disso tudo é o professor de Jiu-Jitsu pode identificar esta pressão facilmente, basta reparar se o comportamento do aluno está muito atípico”. Para Bigliassi, o autocontrole deve ser buscado com receitas simples:
“Para acalmar um lutador, basta trabalhar as competências psicológicas com métodos conhecidos, mas pouco usados. Por exemplo, com músicas calmas, que o auxiliem nas horas anteriores ao chamado para a área de aquecimento. Perto da luta, o competidor deve fazer uso de músicas motivacionais, que ele curta, que vão deixá-lo no pico de ativação. Um alerta: um dos momentos mais delicados para o lutador de Jiu-Jitsu é a primeira luta, a mais importante da competição em termos psicológicos, uma vez que ali está em jogo o ego do lutador.”
Há outros macetes. O professor pode pedir ao lutador para montar mentalmente um roteiro do que ele fará na luta, como essa luta vai acontecer, quais são as técnicas que ele e o adversário vão aplicar e pedir para que ele se imagine fazendo isso.
“Esse método é útil pois também pode ser treinado na academia, dias antes da competição. Isso permite que a capacidade de imaginação no dia da competição seja muito maior, com mais definição”, explica Marcelo. “O lutador deve meditar e imaginar que está na competição. Deve sentir o cheiro do ginásio, da área de luta, ser capaz de ver tudo de forma colorida, em detalhes. Como está tudo à sua volta? Como estão suas condições corporais? Ele está suando, com a respiração forçada, as pernas estão trêmulas? Na hora da luta imaginária, o que ele tentou? Deu certo? A partir daí, ele começa a controlar tudo isso mentalmente – a respiração fica mais calma, as pernas mais rígidas, as técnicas feitas de maneira mais acertada. A partir desse exercício mental o cérebro previamente programa suas ação para que tudo fique cada vez mais automatizado durante o competição.”
Confira abaixo mais cinco dicas para controlar a ansiedade antes de competir!
1. Filme os treinos do seu atleta ou peça para algum parceiro filmar seus treinos e editar os melhores momentos com uma música empolgante. Na maioria das vezes, o lutador não tem noção do é capaz, mesmo que ele faça aquilo todos os dias. O vídeo altera o quadro de autoconfiança e a percepção de competência, tornando o atleta mais sereno.
2. Medite antes de competir. Visualize a chegada no ginásio, os cheiros e barulhos. Pense nas técnicas que você vai usar na hora da luta.
3. O controle da frequência respiratória deve ser observado durante o dia da competição, na tentativa de mantê-la sempre normal – 12 a 20 respirações por minuto.
4. O atleta deve contar com a presença do treinador ao lado em todos os momentos da competição, o máximo quanto possível, o acalmando ou orientando quando necessário.
5. O treinador deve apoiar e elogiar os acertos do jovem atleta após o torneio, e evitar criticar os erros. As falhas, ao contrário, serão objetos de estudo na busca de aperfeiçoar o atleta para outras situações semelhantes.