Tudo na vida tem um começo. E quando o MMA feminino mal existia, Ana Carolina Pinho decidiu desbravar um terreno desconhecido. Aluna do mestre Vinicius “Draculino” Magalhães, Carol protagonizou uma das primeiras lutas de vale-tudo feminino no Brasil. Ela enfrentou a folclórica Carmen “Casca-Grossa” no Meca 10, disputado no ginásio do Paraná Clube, em Curitiba, em dezembro de 2003. Na ocasião, Carol Pinho finalizou a adversária na chave de joelho.
Depois da vitória no Meca 10, Carol se aventurou novamente na modalidade ao lutar pelo evento japonês Smack Girl, em 2004. Em luta com resultado contestável, Carol foi derrotada pela ex-UFC Roxanne Modafferi na decisão dos jurados. Em razão da falta de adversárias no vale-tudo, Carol não pisou mais nos ringues profissionalmente, porém, deu continuidade em sua carreira no Jiu-Jitsu.
Aos 45 anos, Carol Pinho é faixa-preta quarto grau e é casada com o também lutador Joaquim “Mamute” Ferreira. Eles vivem no Qatar e ela é mãe do Aaron, de 16 anos, e da pequena Valentina, de seis anos.
Em bate-papo com a equipe do GRACIEMAG.com, Carol Pinho explicou por que começou a lutar e listou as lições mais importantes que aprendeu no esporte.
GRACIEMAG: Por que você decidiu ser lutadora?
CAROL PINHO: Comecei a lutar porque eu tinha muita energia e brigava na escola, até que um dia conheci meu primeiro mestre, o Manimal, e ele me convidou para fazer uma aula experimental. Depois do meu primeiro contato com o Jiu-Jitsu, foi amor à primeira vista. Me apaixonei pelo esporte e nunca mais larguei. Nessa época, eu tinha 13 anos.
Sua família te apoiou quando você tomou essa decisão?
No começo da minha trajetória, eu não tive muito apoio da família, já que não havia muitas mulheres no meio. Mas, aos poucos, meus pais mudaram e me apoiaram. Meu pai era amigo do Carlson Gracie, então ficou mais fácil para eles aceitarem.
Quais foram os maiores aprendizados como lutadora?
O maior aprendizado que eu tive é que devemos fazer o que gostamos e seguir os nossos sonhos. Na época, todos me disseram que eu era louca, e que eu não deveria fazer isso. Mas eu segui em frente e não me arrependo de nada. Durante muito tempo, fiquei triste e frustrada por não ter lutado mais, mas na época o MMA não era popular entre as mulheres então não havia lutas pra mim. O MMA começou a crescer para as mulheres muitos anos depois, e eu já tinha um filho pequeno e meu marido Joaquim “Mamute” já lutava. Ser atleta no Brasil não é uma tarefa fácil, muito treino e dedicação e nenhum suporte. Mas depois de um tempo eu aceitei e entendi o meu papel no esporte. Eu abri as portas para as mulheres, fui pioneira e sinto muito orgulho disso.
Poderia contar alguma história dos bastidores?
Eu tenho uma história de bastidores da minha luta no Japão, quando lutei no Smack Girl, contra a Roxanne Modafferi. Simpatizamos uma com a outra logo de cara, ela é muito gente boa. Pela manhã, a Roxanne me levou no salão para fazer as minhas tranças no cabelo, ficamos juntas naquele momento, e lutamos à noite.
Como você analisa o MMA feminino atualmente?
O MMA feminino cresceu muito, tenho muito orgulho disso, quebramos muitas barreiras, hoje fazemos lutas principais e damos tanta audiência quanto os homens.
Onde você treina atualmente? Pretende competir em alguma modalidade?
Atualmente, moro no Qatar com a minha família, mas mantenho a minha academia no Brasil, a Mamute Team, sediada em Contagem, Minas Gerais. Meu marido trabalha no exército para as forças especiais, e eu trabalho em uma academia somente para mulheres, dou aulas de boxe e Jiu-Jitsu. O esporte aqui está no começo e pretendo contribuir com o crescimento da luta aqui também. Acho que é esse o meu destino: começar, abrir portas. Fui pioneira em muitas áreas, como no Jiu-Jitsu, MMA e arbitragem. Atualmente, estou com 45 anos, mas estou de volta aos treinos e me sinto ótima. Espero voltar a competir se o tempo me permitir, pois trabalho muito e quase não sobra.