As dancinhas e as academias de Jiu-Jitsu – descontração ou desrespeito?

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Os tatames azuis na academia Renzo Gracie em NY

Os tatames azuis do Jiu-Jitsu. Foto: Erin Herle

No fim do mês passado, a internet sacolejou com mais uma de suas manias espontâneas, epidêmicas e totalmente loucas.

Sem nenhuma razão ou significado, com um propósito apenas de divertir e dançar, o vídeo “Harlem Shake” foi inoculado em lares, empresas, noticiários, batalhões e, claro, no mundo das artes marciais.

A dança insana gerou controvérsia também, e o GracieMag.com recebeu dois artigos com pontos de vista distintos. No primeiro, uma crítica pesada às danças no “chão sagrado” das academias. No segundo, uma defesa da descontração e alegria inerentes ao Jiu-Jitsu.

O debate levanta algumas questões. Por exemplo: qual o limite da descontração nos tatames? Qual o peso da tradição diante das novidades? Dança é sacrilégio?

Entre na discussão, escolha um dos lados e diga se você concorda, discorda ou muito pelo contrário.

Academia não é circo!

Por Mohamad Jehad, faixa-preta da Sul Jiu-Jitsu

A História conta com diversos relatos da utilização da música como forma de estimular um batalhão ou desestimular o lado rival. Na infantaria, aprende-se que as canções revelam se o moral da tropa está elevado ou não – quanto mais alto e vibrante for o canto, pior para o inimigo.

Não é este o caso nas artes marciais – com exceção, claro, da capoeira, que tem uma relação intrínseca com a música. Nas demais artes marciais, não temos como tradição o uso de qualquer distração musical durante a prática, pois não há benefícios para a concentração e o foco.

Eis então a questão. Por que vimos tamanha inundação de vídeos na internet onde lutadores de Jiu Jitsu parecem transformar tatames em salões de festa, raves ou bailes funks?

Será que todo pescoço apertado, todo braço envergado, todo sangue, todo joelho operado, todo preconceito superado não foram suficientes para criarmos uma geração de lutadores marciais disciplinados, honrados e sérios?

Será que Carlos e Helio Gracie aprovariam tal atitude, após verem em vida o sonho de transformar uma juventude desvirtuada em cidadãos responsáveis? Será que tais cenas grotescas não mancham o tatame como lugar sagrado e o kimono como um traje de guerreiros de reputação?

Todo homem ou mulher que se dispõe a trajar um kimono deve saber que, pelo menos naquele ambiente, não há lugar para outra coisa que não valores como honra, disciplina, ética e respeito.

Todos aqueles que, um dia, se sacrificaram pelo Jiu-Jitsu, certamente não gostariam de ver a academia transformada, mesmo que em poucos instantes, num circo. Afinal, o Jiu-Jitsu é uma arena cheia de leões, mas jamais um amontoado de palhaços.

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Bruno Bastos em foto descontraida na Finlandia

Bruno Bastos em armlock descontraído. Foto: Arquivo Pessoal

Falta de respeito é outra coisa

Por Bruno Bastos, faixa-preta da Nova União

Concordo que a academia de Jiu-Jitsu é um recanto mais do que sagrado, ponto. O que não consigo é ver manifestações como o “Harlem Shake” como falta de respeito. É apenas uma descontração do pessoal.

Falta de respeito é não aprender a fazer saudação ao entrar e sair do tatame, aos mestres e companheiros de treino. Falta de respeito é nao ser exemplo para os alunos. Falta de respeito é não expressar suas opiniões, sendo sempre politicamente correto.

Enfim, o tatame é sagrado, mas também é o lugar onde famílias inteiras se unem, religiosamente, em torno de uma vida saudável, onde pessoas aliviam o estresse do trabalho, onde os solitários ganham amigos, e até uma nova família. É um lugar onde as pessoas ensinam e aprendem todos os dias, mas também se divertem, celebram, comemoram, sofrem etc.

Vejo a dança e os vídeos apenas como uma brincadeira. E você? Para ajudá-lo a tirar a dúvida, envio uma versão que gravei na minha escola.

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