Você está entre as lideranças da Atos BJJ, com uma atuação de destaque que vai muito além do sul do Brasil, certo? Fale um pouco sobre o seu papel na equipe, suas principais funções, a amplitude do seu trabalho e as projeções para o seu futuro no time.
RAFAEL DORADO: Hoje sou um dos professores e líderes da Equipe Atos Guetho Porto Alegre, sou responsável pelo time de Masters na equipe, busco entender cada aluno com sua busca pessoal, assim, percebo quem está pronto para avançar. Liderar um time de Masters não é fácil, tem muitas adversidades, tanto na idade quanto no tempo para treinar… Cuido principalmente dessa parte, em que aquela pessoa que se acha um pouco mais velha acha que não pode treinar por conta da idade. Meu trabalho é fazer com que o aluno acredite em seu potencial máximo. Outra área específica onde trabalho é o “Return to Play”, na qual o aluno sofreu alguma lesão e não consegue retornar para o treino com a galera por ordens médicas. É um trabalho específico, que envolve dedicação e paciência, tanto do aluno quanto do professor. Eu cuido para que ele volte à sua rotina de treinos. Além dos Masters também tenho muito foco na criação de futuros campeões através do Projeto Social Jaca Team do professor Alexandre Jaca e o Projeto Social Gaditas do professor Eduardo Oliveira, todos vinculados ao nosso time Atos JiuJitsu já há mais de 10 anos construindo futuros campeões e ajudando crianças carentes a alcançar inúmeros títulos no Jiu-Jitsu. O meu papel nesse time todo é manter uma harmonia entre as equipes para que consigamos conquistar medalhas e principalmente ajudar as crianças a alcançarem seus sonhos através do Jiu-Jitsu. Já conseguimos mudar vidas de muitas crianças para lutar fora do Brasil e algumas até morar fora. É acima de tudo a manutenção das conquistas deste time vitorioso; conquistar é uma coisa, mas manter é onde está o maior desafio.
Você também tem uma carreira vitoriosa como competidor. Quais foram as suas principais conquistas e o que você aprendeu com elas?
Toda conquista envolve renúncias, mas a que mais me marcou na carreira foi quando tive a oportunidade de lutar fora do Brasil, assim que ganhei a faixa-preta do mestre Guto. Tive a oportunidade de ir para o Texas dar aulas e lá fiz lutas muito marcantes, no campeonato de grappling NAGA. Teve dois anos seguidos no Texas (2011,2012) que ganhei o cinturão do campeonato Mundial dessa federação, foi sensacional.
Você também já formou ótimos competidores…
Sim, vários campeões, desde o Pablo Mantovani (ADCC Veteran, Campeão Grand Slam Moscou), até o Lucas Foguinho (Campeão Europeu Peso e absoluto IBJJF, Campeão Brasileiro, Campeão PanAmericano). Em termos de competição a minha cria mais famosa é a Andressa Oliveira (Vice-campeã Mundial 2023 IBJJF, campeã Mundial Abu Dhabi Worlds 2022 AJP, 4x Campeã Brasileira CBJJ).
As categorias de base kids dos nossos Projetos Sociais também são muito fortes. Jaca Team Felipe Faller (Campeão Mundial, Campeão Brasileiro), por exemplo. Do projeto Gaditas temos o Santiago (Campeão Mundial e 3x Campeão brasileiro) e o Krigor Monteiro (Campeão World Pro, Campeão Mundial, 4x Campeão Brasileiro), todos são talentos na arte. E o segredo principalmente para ter essas conquistas é acreditar no seu aluno, acreditar no potencial que ele trás para você tem que ter uma conexão professor e aluno inabalável. Essa é a chave.
Sua constante atuação como árbitro nos torneios contribui na sua atuação como atleta e professor?
Acho que arbitrar os campeonatos me ajuda a me manter sempre atualizado com as regras e me ajuda muito para as minhas competições, pois é muito importante o competidor entender as regras da luta. Pode ser o detalhe que garante a vitória. E a atuação como árbitro acaba dando mais confiança na hora de ensinar as regras com mais propriedade para que eu possa ensinar aos alunos de maneira teórica e prática.
Quem é o seu grande ídolo na carreira?
Meu grande ídolo é meu Mestre Guto Campos, que hoje reside na Flórida. Além de professor, um mentor, um amigo e multicampeão, com quem sempre pude contar nos momentos bons ou ruins da minha vida. Me ensinou a treinar Jiu-Jitsu de uma maneira inteligente e com muita malandragem também, me ensinou a ser um professor. E nessa trajetória de aprendizado tive a oportunidade de morar com o Guto por uma temporada aprendi muito principalmente sobre treino e dar aulas. Eu geralmente ficava com os iniciantes e o pessoal do Jiu-Jitsu executivo ou seja aquela pessoal que procura o Jiu-Jitsu com uma atividade física ou um estilo de vida. E através do Jiu-Jitsu eu consegui ajudar os nossos alunos a evoluírem não só no tatame mas como vida também, muitos chegam na academia acima do peso, baixa autoestima, sem autoconfiança, sem auto controle… E através do Jiu-Jitsu consegui ajudar os nossos alunos a evoluírem em vários aspectos que são tão importantes para as competições, como também na vida pessoal. São 22 anos ao lado dessa lenda, então com certeza o troféu de ídolo vai pro meu Sensei Guto Campos.
Qual é a frase motivacional que você gosta de repetir para você mesmo quando está passando por uma situação difícil na carreira?
Se o que estou vivendo é passageiro, então eu suporto. “Hustlin” é o motor que deve estar funcionando dentro de você todos os dias. Por mais difícil que as adversidades sejam, continue trabalhando duro, não pare nunca. E seu combustível é a paixão. Se você conseguir manter esse motor funcionando, ele o levará a todos os lugares que você deseja na vida.
E quais as dicas que você costuma dar a quem tem o sonho de se tornar um professor relevante?
Minha atitude em relação à minha carreira é “assobie enquanto trabalha”. Cada dia de horas no tatame é divertido para mim. Todo dia toda noite é uma alegria. Cada despertar às 5h30 é uma bênção, o sinal de que estou tendo outra chance de fazer algo que amo. Tenho um conhecimento profundo no Jiu-Jitsu, sou responsável por mostrar técnicas e estratégias, valores associados a essa disciplina aprimoramento de habilidades e crescimento pessoal dentro e fora do tatame. A filosofia básica da nossa escola inclui princípios como respeito, disciplina, humildade, caráter e valor. E a dica pra quem quer ser um professor é essa: treine muito e participe de algumas competições, pense Jiu-Jitsu o dia todo, fique perto dos leões para aprender com eles. Porque se você não fizer isso, não está vivendo o Jiu-Jitsu dentro de você. Se você quiser ser professor, viva o Jiu-Jitsu life style.