Boa parte dos primeiros campeões mundiais no masculino se tornaram lendas. Helio “Soneca”, Royler Gracie, os Roberto Gordo e Roleta, Fabio Gurgel, Zé Mario Sperry, Libório e Amaury Bitetti, por exemplo.
Já no feminino, há diversas perguntas e informações que nem os mais curiosos fãs do Jiu-Jitsu são capazes de responder de cabeça.
Em que ano o Mundial começou a ter lutas entre mulheres?
Quem foram as primeiras guerreiras a competir no Mundial?
Quem foi a primeira vitoriosa?
Que atleta filha de um astro do futebol surgiu como um furacão nos tatames do Mundial?
Quantas foram as inscritas para o primeiro Mundial feminino?
Questões que um pesquisador de sorte, ao abrir seu arquivo de edições antigas de GRACIEMAg, começou a desvendar. Tudo graças a uma reportagem reveladora, escrita pela repórter, praticante e hoje professora de yoga Lia Caldas, em 1998.
No portal da IBJJF, as primeiras campeãs estão eternizadas. Foram apenas duas divisões no Mundial de Jiu-Jitsu de 1998 – até e acima de 65kg, sem separação de faixas. E duas faixas-roxas foram as rainhas.
Thaís Ramos (equipe Brigadeiro) venceu o peso leve, em final contra a fera da Alliance Dani Genovesi; já o peso pesado ficou com Rosângela “Zanza” Conceição, aluna da Behring.
Mas são outras as pioneiras de fato em Mundiais. Um ano antes, uma americana e uma brasileira fizeram História com H grande.
Foram as duas atletas a pisar nos tatames do Campeonato Mundial, para a primeira luta feminina realizada no grande evento da IBJJF. Como informou Lia Caldas em GRACIEMAG, a luta inaugural ocorreu no Mundial de 1997.
A reportagem conta que, em 1997 o feminino não foi aberto, mas uma faixa-azul americana, que treinava com os irmãos Machado apareceu no evento disposta a lutar. Chama-se Kathy Brothers, e representava a Gracie Barra. A organização curtiu a ideia e planejou uma luta casada para o público. A adversária escolhida foi a estrela em ascensão Alessandra “Thiola” Oliveira, faixa-azul da Alliance. Sim, o Jiu-Jitsu feminino começou no Tijuca com um duelo Alliance x Gracie Barra.
A vitória, decidida pela arbitragem, foi para a americana.
A luta inaugural abriu caminho para as divisões femininas na edição de 1998. Foram 48 mulheres inscritas. O fato de faixas-pretas terem de enfrentar jovens faixas-azuis, registrou Lia, afastou algumas competidoras (faixas-marrons na maioria) que discordaram do formato. Já a emoção foi garantida: uma das lutas mais comentadas de todo o evento foi a vitória de Paulinha Gaspari, peso leve e faixa-azul da GB, em cima de Patricia Lage, faixa-preta e filha de mestre Roberto Lage.
E a primeira campeã mundial sairia dessa categoria. Gaspari perderia para Mariana Coelho, mas havia outras favoritas no páreo.
De faixa-marrom, Leka Vieira enfrentou a estrela em ascensão Janaína Ventura, filha do tricampeão de futebol Jairzinho, ídolo do Botafogo e da Seleção. A faixa-roxa Janaína, registra a matéria, foi melhor naquele dia e venceu por 7 a 0.
As lutas empolgaram tanto os fãs e professores que, lá pelas tantas, Carlson e Helio Soneca decidiram apostar cem reais numa disputa, precisamente na semifinal entre Dani Genovesi Paiva x Mariana Coelho. Dani venceu, para alegria de Gigi Paiva e equipe, Carlson perdeu a aposta e pagou na hora.
Em outra semifinal, a carioca radicada em Brasília Thaís Ramos seguiu voando abaixo do radar e eliminou Bianca Barreto. Na final até 65kg, ela passou pela favorita Dani e tornou-se a primeira campeã mundial feminina. Thaís, curiosamente, só conquistaria sua faixa-preta de Jiu-Jitsu em 2005.
No peso pesado, a americana pioneira Kathy, que então se dividia entre o curso de medicina e lutas de MMA, voltou ao Tijuca Tênis Clube em busca da consagração no Mundial 1998. Só que não deu para ela.
Kathy começou bem, ao eliminar a hoje célebre professora Tatiana Tognini, então uma aguerrida faixa-azul da Alliance São Paulo. A americana, contudo, seria eliminada a seguir por uma embalada Zanza. A campeã peso pesado teve de fato uma campanha acachapante: venceu Kathy, Andreia Silva e, na final, encontrou-se com a outra pioneira, Alessandra Thiola, que lutava com uma torcida barulhenta, à la Fernando Tererê.
Zanza, experiente, não se intimidou e finalizou Alessandra Thiola na grande final, com uma chave de braço, foto que estampou as páginas de GRACIEMAG.
Rosângela “Zanza” Conceição não era uma campeã desconhecida. Em 1996, chegou a viajar para os Jogos de Atlanta, onde foi reserva de Edinanci nas Olimpíadas. Após o ouro mundial, migrou com sucesso para a luta greco-romana, onde medalharia no Pan 2007 (bronze até 72kg) e obteria a vaga para os Jogos de Pequim-2008. Na China, Zanza venceu sua primeira luta, contra a cazaque Olga Zhanibekova, mas perdeu em seguida.
A vice mundial Thiola acabou com um troféu e tanto de compensação: além da medalha de prata, desceu do pódio com sua novíssima faixa-roxa, entregue pelas mãos do professor Lelo. Já o sonho do ouro viria mais tarde, com o título peso médio do Mundial 1999.
Após o sucesso do primeiro evento, a IBJJF abriria em 1999 mais categorias de peso e separaria as faixas-azuis das lutadoras mais experientes, que se enfrentariam na divisão de roxas, marrons e pretas.
A primeira campeã absoluta, porém, seria conhecida somente no Mundial de 2007 – honraria conquistada por Michelle Nicolini, da Brasa, vitoriosa na final contra a peso pesado Luciana “Luka” Dias, da Gracie Humaitá.
E você, lembra alguma boa história dos primórdios do Mundial de Jiu-Jitsu? Comente conosco.