O grandioso torneio de Jiu-Jitsu realizado pela IBJJF em Irvine, concluído no último dia 15 de março, foi, sem muito medo de errar, o Pan da Alliance. E não apenas pelo título por equipes conquistado pelo esquadrão de Romero Jacaré, Fabio Gurgel e Alexandre Paiva.
No absoluto, Bernardo Faria reinou, ao finalizar Leandro Lo em final que será comentada por muitos anos. No superpesado, Faria fechou com o amigo Léo Nogueira, que no absoluto eliminara Keenan Cornelius. No feminino, Gabi voltou a tomar seu trono, após um ano sem participar do evento. E teve também Gianni Grippo no peso-pena e ainda, na faixa-marrom, o fechamento dos jovens Dillon Danis e Matheus Diniz, todos da Alliance.
Todo esse brilho em conjunto da equipe da Águia não conseguiu ofuscar a atuação individual de um astro baixo e magrinho, mas com um espírito de competição monstruoso. O peso-galo Bruno Malfacine, atleta de 28 anos nascido em Duque de Caxias, no Rio, e hoje professor consagrado na Flórida, foi seguramente um dos maiores nomes do Pan 2015, ao finalizar o rival Caio Terra, um dos lutadores mais técnicos de todos os tempos, como se isso fosse simples.
O faixa-preta hexacampeão mundial explicou ao GRACIEMAG.com os detalhes do bote nas costas do último domingo, e como conseguiu realizar tamanho feito.
GRACIEMAG: Que bote foi aquele na final dos galos no Pan? Teria o Caio cometido algum pequeno erro que você capitalizou?
BRUNO MALFACINE: Tirei aquela da manga, né? Na verdade, eu sabia que ele ia puxar [para a guarda], e decidi puxar junto, uma vez que ele nunca vem para cima. Comecei a me ajeitar para subir e ficar na frente do placar por uma vantagem. Comecei a preparar a posição para subir na boa e quando estava na posição que eu queria, com um gancho e já cruzando a perna para o legdrag, o árbitro parou a luta para voltarmos ao meio, já que estávamos na beira da área de luta. Voltamos ao meio, e no momento de reiniciar na posição, o Caio não deixou e deu um jeito de mudar a posição, até que o arbitro deixou o meu gancho de fora e o pé dele – que estava quase do outro lado no meio do caminho para o legdrag se tornou quase um gancho. Se você notar na luta, dá para ver a minha reação de indignação quando eu faço um gesto com a cabeça, mas tenho me preparado para tudo, até para situações como essas, então sempre procuro me controlar para não cair nesse jogo e perder a cabeça. Não é nenhuma surpresa para mim esse tipo de atitude da parte dele, o que me restava a fazer era não perder o foco e lutar para chegar até onde eu queria.
Quando a luta recomeçou, tudo foi rápido demais. O que houve ali?
Quando ele reiniciou a luta, insisti na posição e na estratégia que eu tinha traçado desde o início. Cruzei a perna, dominei a faixa para controlar o quadril com meu cotovelo e subi na boa. Fui paciente e comecei a colocar uma pressão, mas olhei para o placar e nem a vantagem por ter subido eu ganhei – uma vantagem que poderia ter decidido a luta no final. Eu sabia que se chegasse ao cem-quilos ele daria as costas e dessa vez eu não poderia perder a posição, e foi exatamente o que aconteceu. Ele virou para repor e eu já entrei com as duas mãos nas golas e um gancho. Senti que a minha pegada na gola estava justa, daí decidi partir para o estrangulamento arco-e-flecha para finalizar. Na verdade não se pode cometer nenhum tipo de erro nesse nível, eu estava me sentindo muito bem nos treinos e sabia que poderia chegar em qualquer uma das posições que eu estava treinando, sabia que não poderia perder a oportunidade, como aliás já perdi de outras vezes.
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O que você fez de diferente para não perder a oportunidade, dessa vez?
O Malfacine de hoje não é o mesmo do ano passado. Estou muito mais maduro e experiente, o que me faz entender melhor cada movimento meu. Minhas posições estão mais precisas, entende? E isso fez toda a diferença.
Na semifinal, você não encarou moleza. O Koji Shibamoto (Academia Tri-Force), seu oponente, parece cada torneio mais duro, não?
Eu já lutei com diversos japoneses no decorrer da minha carreira, e é sempre uma guerra, ainda mais sendo a primeira luta. Eu já tinha lutado com o Koji antes e é impressionante ver como ele evoluiu. Ele me surpreendeu bastante, e é exatamente por isso que não subestimo nenhum dos meus oponentes, não dá para saber o trunfo que eles têm guardado na manga. No início da luta tive a chance de pegar em um triângulo invertido, mas ficamos quase dois minutos na posição e ele não bateu. A verdade é que os japoneses têm essa característica de não se entregar, são como verdadeiros samurais. Eles têm o meu total respeito.
O que espera do encontro com o Caio nos próximos campeonatos?
Posso dizer que essa era uma das cartas que estavam na minha manga, porque as outras eu deixei guardada para o Mundial em maio. Não lutarei o World Pro em Abu Dhabi, pois vou canalizar toda minha energia para o Mundial na Pirâmide, onde quero defender meu título em grande estilo. Vai ser aquela batalha que vocês estão acostumado ver, e eu mal posso esperar. Quem errar primeiro vai pagar o preço.
Falando dos maiorezinhos da sua equipe: Bernardo e Gabi estão na melhor fase da vida deles?
É curioso pois nós três chegamos na equipe mais ou menos na mesma época, então é fácil falar desses dois grandes fenômenos do nosso esporte. A Gabi é um verdadeiro exemplo de superação, lembro do primeiro Mundial dela pela Alliance em 2009, quando ela perdeu para a Lana e não viveu uma experiência muito boa. Depois desse Mundial, ela colocou na cabeça que não queria passar por aquilo novamente, e desde então começou a se dedicar integralmente. Hoje temos uma nova Gabi, que derruba, que passa guarda e que faz guarda. As críticas fizeram ela chegar aonde chegou hoje. O Bernardão também evoluiu absurdamente no campo técnico, lembro que, quando o Bernardo chegou a São Paulo, ficava nos perguntando se seria possível ele ser campeão mundial faixa-preta algum dia fazendo apenas meia-guarda. Agora olha o que esse garoto já conquistou, e ainda vai conquistar pela frente. Ambos estão na melhor fase de suas carreiras, tenho ambos como referência, sou muito fã dos dois e sou abençoado por tê-los como grandes amigos.
Veja todos os campeões do Pan da IBJJF de 2015, aqui.