A segunda luta de Mackenzie Dern no UFC foi ditada por um turbilhão de emoções. Além de entrar em ação no Rio de Janeiro, cidade que sempre acolheu a americana como se fosse sua casa, Mackenzie teve que superar a falha e as críticas sobre seu corte de peso para enfrentar Amanda Cooper, no dia 12 de maio, na 224ª edição numerada do evento.
A vitória veio, com um mata-leão salvador, mas o fato de bater 55,8kg na balança (pouco mais de três quilos acima do limite da categoria) mexeu com a cabeça da campeã. Contudo, a experiencia da jovem e cascuda competidora no Jiu-Jitsu fez com que a adversidade se tornasse combustível para buscar a vitória de forma implacável.
Confira na entrevista abaixo as lições que Mackenzie tirou do tropeço na balança do UFC para voar ainda mais alto no MMA e no Jiu-Jitsu.
Conteúdo publicado originalmente nas páginas da GRACIEMAG número #256. Para ter acesso a outros artigos especiais sobre o melhor do Jiu-Jitsu e do MMA, assine a nossa edição digital e leia antes! Clique aqui e confira!
GRACIEMAG: O que você aprendeu de principal nessa “derrota” para a balança, na pesagem do UFC 224?
Mackenzie Dern: Acho que aprendi aquela velha lição: não se pode estar confiante demais. Foi isso que me atrapalhou na questão da balança, nas vésperas do UFC 224, no Rio; aconteceram muitos imprevistos no camp, mas eu sempre me mantive convicta de que eu ia sofrer mas ia bater o peso… E no fim não deu certo. Houve também a viagem para o Brasil, voei 14 horas e isso atrapalhou o processo de desidratação. Mas foram lições, estou certa de que não vai ocorrer novamente nunca mais. Aprendi que devo contar com mais ajuda profissional, nutricionista. É um defeito meu, sou um pouco teimosa, e confiei demais que eu sabia tudo sobre o meu corpo e acabei pagando o preço.
Achou injusto todo aquele “bullying virtual” que você teve de ler, após a pesagem?
Não vejo exatamente como “bullying”, somos atletas profissionais e adultos. Mas de fato muitos outros lutadores já passaram por problemas com a balança e não viram tanta repercussão assim. Talvez isso seja natural, um fruto da fama e da popularidade. O importante é não deixar que isso mine sua confiança. Usei toda essa exposição e falatório como combustível para ir lá e mostrar que estou mais forte e mais técnica como atleta de MMA, em pé e no chão. “OK, tem gente falando mal de mim, isso não é legal. Mas ao mesmo tempo agora estão todos prestando mais atenção em mim. Vou lá e mostrar o que tenho e o que sou”. No fundo foi bom para mim. Uma derrota ali diante da torcida carioca seria cair uns cinco degraus na carreira…
Qual é a sua dica para esvaziar a mente e entrar para lutar sem preocupação com resultado ou com as provocações?
Ah, sempre me acostumei no Jiu-Jitsu a procurar a vitória sob pressão. Com tantas oponentes duras que eu encarei, acho que a minha vida inteira foi assim. Entrei no UFC Rio sem pensar no que ocorreria em caso de derrota, ou na possibilidade de tomar um nocaute. Eu estava apenas feliz de estar ali, no card principal do UFC 224. No momento em que estou andando até o Octagon, só sinto prazer de estar ali. O dia em que estiver tensa ou preocupada, paro de lutar. Hoje o MMA é o que me faz feliz.
Você deixou a academia The MMA Lab, por uma exigência do técnico John Crouch, que achou que você não estava treinando tempo suficiente, e se preparou em cima da hora na Black House e na Checkmat. Por conta dessas mudanças, teve medo de perder diante da sua torcida no Rio?
Ah, eu jamais luto com medo de perder. A derrota para mim é uma sensação horrível, que eu procuro nunca sentir, e por isso treino tanto. Nesse UFC, tive problemas com o camp mas não a ponto de ficar com receio de perder – se eu estivesse com medo, nem entrava para lutar, nem aceitava a luta contra a Amanda. Eu estava confiante como sempre, e entrei lá preparada para finalizar. Sei que nunca podemos ter 100% de certeza de que vamos vencer, mas o espírito tem de entrar tranquilo, confiante no bom resultado. E eu estava assim, desde o momento em que me ligaram oferecendo a luta contra ela até o instante em que o árbitro autorizou o combate.
Você falou do camp para a luta, que teve comando do Léo Vieira, da CheckMat. O que aprendeu nesses treinamentos?
Além de técnicas e ajustes no chão, o principal desse camp foi no aspecto mental mesmo. Foi um trabalho muito desafiador mentalmente para mim. E o Leozinho conseguiu trabalhar minha cabeça sem que eu nem percebesse, com diversos treinos diferentes. Ele sempre me puxava, e eu percebi depois que ele estava me testando mentalmente. Foi difícil, pois um dia antes de lutar eu lia nas redes sociais torcedores me acusando de estar “roubando no peso”, de ser mau-caráter. Você tenta não ligar muito, mas é a última coisa que você quer lidar horas antes de entrar no Octagon. E quando o Léo percebeu que eu estava me incomodando com aquilo, ele na mesma hora me tirou o celular e me fez voltar ao “modo de luta”, repassou as táticas de luta e me fez voltar ao foco. Entrei para lutar sorrindo, pois pensei no apoio, nos que torcem por mim, não no resto. O resto é que atrapalha a cabeça do atleta.
Você mudou muito sua carga de treinos em comparação aos tempos de competidora no Jiu-Jitsu?
Sim, creio que adicionei mais horas de treino. Mas no Jiu-Jitsu já havia muita preparação física e muito suor. Uma das coisas que precisei modificar foram os treinos de muay thai, uma sessão só de chutes e socos para afiar a trocação. Eu tratei também de fazer uma sessão de treinos cardiorrespiratórios extra, até para manter meu peso abaixo do que eu mantinha no Jiu-Jitsu. E o gás para sair na mão ali por 15, 25 minutos é um pouco diferente. Não tem como descansar durante a batalha, só no banquinho no intervalo. Mas o treino é bem mais difícil e principalmente doloroso, pois tomo soco na cara e chute na cabeça e tenho de estar pronta para a próxima sessão, apesar das dores. Mas espero continuar evoluindo e aprendendo, e assim os machucados nos treinos acabam sendo minimizados.
Dificilmente um atleta com apenas uma luta no UFC recebe tantos aplausos quanto você arrancou no Rio de Janeiro. Aquele mata-leão diante da plateia brasileira pode ter sido um divisor de águas na sua carreira profissional?
Eu esperava ter o apoio da torcida, pois sempre foi assim na minha vida de lutadora no Jiu-Jitsu. Acho que desde as faixas coloridas o pessoal curte as minhas lutas, queriam ver como a filha do Megaton Dias se sairia nos torneios, e na faixa-preta isso continuou. E o povo do Brasil sabe como eu tenho um carinho pelo país, é tudo recíproco. Mas com todos os problemas que tive na pesagem e durante o meu camp de treinamentos, eu fiquei sem saber se eu receberia o mesmo carinho. E fiquei sim um pouco surpresa com o barulho da torcida, que me ajudou muito a ir para cima. Acho que hoje meu maior apoio como lutadora do UFC vem do Brasil, da torcida e dos comentaristas, mais ainda do que vejo nos EUA, onde nasci. Foi de fato especial, e pode ter sido um divisor de águas mesmo.