Com exceção do Ultimate Fighting, há coisas que só acontecem no Rio.
Pergunte para o segurança do banco carioca que, alertado pelo detector de metal, perguntou para a bonita moça de óculos e cabelos longos o que ela tinha na bolsa, na tarde de ontem. “O cinturão do UFC!”, ela riu.
Tratava-se de uma das produtoras do evento no Brasil, responsável pela peça prateada de Anderson Silva, que precisou passar no banco antes de chegar ao Copacabana Palace, onde os cartolas Lorenzo Fertitta, Dana White e companhia receberam a imprensa para um papo sobre o UFC Rio 134, com a presença do secretário de Turismo, Antônio Pedro de Mello.
Às 15h02, quando o presidente Dana repassava meio nervoso as informações escritas num emaranhado de papéis, a reportagem do GRACIEMAG.com cruzou os corredores do Copa e deparou-se com uma fila indiana. Ali, sobre tapetes já pisados por cavaleiros como John Wayne, George VI, Robert DeNiro , Kirk Douglas e Will Smith, a expectativa dos fãs e imprensa era para outras estrelas – na ordem, Rodrigo Minotauro, Mauricio Shogun, Yushin Okami, Forrest Griffin e Brendan Schaub. Ali na rabeira da fila, Dana seria no entanto o primeiro a entrar. De repente, porém, Anderson Silva caiu quase em cima da gente, atropelado por um segurança do hotel. Não o lutador, e sim um daqueles painéis dos lutadores, em tamanho real mas sem o mesmo equilíbrio.
A coletiva deu-se como você já leu aqui, bem parecida com outras coletivas ao redor do planeta. Com alguns temperos locais, claro: “Vocês vieram para o Rio pelos nossos lutadores ou pela exuberância de nossas moças?”, tumultuou um gaiato do programa “Pânico na TV!”, apontando para a capa de “Playboy” Juju Salimeni. Dana começou rindo, mas no fim parecia exausto – talvez mais pelo voo longo do que pelas perguntas repetidas na coletiva.
Na hora da encarada, meio gaiato, meio educado, Anderson tentou fazer o desafiante Yushin Okami, seu oponente na luta principal do evento, pegar no cinturão também, no estilo “agora ele é de quem vencer no dia 27 de agosto”. O japonês prontamente recusou, menos constrangido do que confiante, como se acreditasse que ainda vai chegar a hora de segurá-lo sozinho, sem dividir com ninguém.
No brunch pós coletiva, porém, a dúvida se impôs. Alguém além dele mesmo, ou da simpática tradutora japonesa Sandra Murayama, toda estilosa com sua bengalinha, acredita em Okami? “Eu não apostaria meu dinheiro nele”, me disse Forrest Griffin, uma das vítimas mais famosas de Anderson. “Mas Okami é duro demais, e pode acontecer. Ele é um desafiante merecedor, tem mãos duras e boa envergadura, vamos ver o que acontece”.
Entre os brasileiros presentes, no entanto, a descrença era bem maior. “Se fossem dois Okamis não dava um Anderson”, disparou um comentarista de MMA, fazendo bravata. “Mas luta é luta. A maior esperança do Okami seria um natural relaxamento do Anderson, por ser tão superior. Mas o fato de ser uma revanche, após a desclassificação do brasileiro no Havaí (em 2006), e sua última derrota, provavelmente vão fazer Anderson vir com uma vontade tremenda de jantá-lo na porrada. Ainda mais sendo no Brasil. E se ele vier para isso, acho que o japonês não dura dois minutos”, completou.
No jornal “O Globo”, contudo, Okami não titubeou e prometeu “amassar” o Silva. Após provar o chá do Copa, enquanto um fotógrafo dava um passa-fora no gaiato do Pânico, fui perguntar ao astro japonês se a expressão “amassar” revelava parte de sua tática, ou seja, se ele iria tentar fazer como seu parceiro de treinos Chael Sonnen, que foi capaz de derrubar e ficar castigando o Silva no UFC 117, amassando-o na guarda, portanto.
“Não, não, eu não falei sobre tática. Eu quis dizer aniquilar. Vou aniquilar o Silva”, disse Yushin, extremamente confiante, passando a falar um pouco de Jiu-Jitsu, que aprendeu com japoneses mesmo, entre eles um faixa-preta de Jean Jacques Machado. Será ele capaz de calar 16 mil espectadores no dia 27 de agosto? Com essa dúvida, fui tomar outro chá.