Os anos passam, o esporte é diferente, mas o desfecho continua o mesmo. O brasileiro Alex “Poatan” Pereira nasceu para ser o carrasco de Israel Adesanya. Depois de derrotar duas vezes Adesanya no kickboxing, “Poatan” precisou de apenas oito lutas no MMA – quatro delas no UFC – para destronar o nigeriano, que defendia o cinturão do peso médio pela quinta vez. Na luta principal do UFC 281, disputado na madrugada deste domingo, em Nova York, o brasileiro conseguiu uma virada triunfal e nocauteou o arquirrival aos 2min01s do quinto round para ser o novo campeão da categoria.
Único duplo campeão da história do Glory, maior evento de kickboxing do mundo, Alex “Poatan” levou a pior em ao menos três dos quatro rounds e apenas a vitória por meio da via rápida o salvaria. Cerebral, Adesanya conhece como poucos o poder de fogo contido nas mãos do brasileiro e mapeou cada movimento do adversário para evitar ser tocado. O nigeriano foi cauteloso na manutenção da distância e usou os chutes baixos para debilitar a movimentação de Alex Pereira.
Num confronto entre dois strikers de elite, qualquer passo fora do quadrado pode custar caro. E quase custou a vitória de “Poatan”. Nos instantes finais do primeiro round, Adesanya conectou um direto de direita e um cruzado de esquerda que atordoaram o brasileiro, que foi salvo pelo gongo. Quando Pereira apertou o passo na trocação, o estratégico nigeriano mudou o nível e colocou o rival para baixo, ponto fraco de Alex. O então campeão dominou as ações no solo e manteve o oponente dominado até o fim do round.
Tudo parecia perdido para Poatan. Na volta para o quinto round, o rumo do duelo mudou completamente. O brasileiro entrou para nocautear, enquanto o nigeriano voltou para não ser nocauteado. Adesanya controla a distância como poucos no esporte e tentou cadenciar o ritmo da luta para levar à decisão dos jurados. Quando “Poatan” se aproximava, Israel forçava o clinche e travava os braços do rival. Mas não foi suficiente. Poatan conectou um cruzado de esquerda, o mesmo que nocauteou Adesanya há mais de cinco anos no kickboxing, e abriu o caminho da vitória. Pereira desferiu uma saraivada de golpes, deixou Adesanya desnorteado e o árbitro encerrou o duelo.
Por mais improvável que fosse o desfecho conforme o decorrer da luta, “Poatan” parecia ter certeza que, em algum momento, nocautearia o rival. Enquanto Adesanya precisava de 25 minutos irretocáveis para manter o cinturão, Alex Pereira precisava aproveitar apenas uma brecha. Frio e certeiro, “Poatan” conectou menos golpes ao longo do embate, porém, desferiu poucos no vazio.
Após nove anos, o jejum acabou para os brasileiros na divisão. O Brasil não tinha um campeão dos médios desde julho de 2013, quando Anderson Silva foi nocauteado por Chris Weidman. Desde então, o próprio Anderson, Lyoto Machida, Vitor Belfort e Paulo Borrachinha tentaram a sorte, mas bateram na trave.
Se engana quem acredita que Israel Adesanya foi o adversário mais difícil que “Poatan” superou na vida. Descendente de nordestinos indígenas, o paulista de São Bernardo do Campo começou a trabalhar aos 12 anos como servente de pedreiro e engraxate. Teve uma infância dura. Ele se deparou com o alcoolismo durante a juventude, gastava boa parte do que ganhava em bebidas e quase se afundou.
O rumo da história mudou quando Alex tinha 21 anos. Ele conheceu o esporte e percebeu que era possível dar a volta por cima. “Poatan” começou a treinar kickboxing e o resto é história. Nesta modalidade, Alex disputou 40 lutas: 33 vitórias – 21 por nocaute – e sete derrotas. É considerado um dos maiores strikers que o Brasil já produziu e bastaram apenas quatro apresentações no UFC para ser campeão.
Foi também no kickboxing que Alex recebeu o apelido “Poatan”, que no tupi-guarani significa “mão forte”. Ele recebeu a alcunha de Belocqua Wera, seu primeiro treinador em razão da ancestralidade indígena do paulista.
Alex “Poatan” tem ao seu lado como mentor e treinador Glover Teixeira. Pereira afia o MMA e as técnicas de Jiu-Jitsu na equipe Teixeira MMA and Fitness, sediada em Danbury, no estado americano de Connecticut.
Apesar do título, a missão de “Poatan” no ano não está completa. Ele vai ajudar o amigo e parceiro de treinos Glover Teixeira a tentar retomar o cinturão dos meio-pesados. Glover tem compromisso marcado contra o campeão Jiri Prochazka no UFC 282, a ser disputado no dia 10 de dezembro. Em caso de vitória de Glover, o Brasil terminaria o ano com campeões em cinco categorias, recorde histórico do país.
Confira abaixo os resultados:
UFC 281
Nova York, Estados Unidos
Sábado, 12 de novembro
CARD PRINCIPAL:
Alex Poatan venceu Israel Adesanya por nocaute técnico aos 2min01s do R5
Weili Zhang venceu Carla Esparza por finalização a 1min05s do R2
Dustin Poirier venceu Michael Chandler por finalização aos 2min do R3
Chris Gutierrez venceu Frankie Edgar por nocaute aos 2min01s do R1
Dan Hooker venceu Cláudio Puelles por nocaute técnico aos 4min06s do R2
CARD PRELIMINAR:
Renato Moicano venceu Brad Riddell por finalização aos 3min20s do R1
Ryan Spann venceu Dominick Reyes por nocaute a 1min20s do R1
Erin Blanchfield vencei Molly McCann por finalização aos 3min37s do R1
Andre Petroski venceu Wellington Turman por decisão unânime (30-27, 30-27 e 29-28)
Matt Frevola venceu Ottman Azaitar por nocaute aos 2min30s do R1
Karolina Kowalkiewicz venceu Silvana Gomez Juarez por decisão unânime (triplo 29-28)
Mike Trizano venceu Seung Woo Choi por nocaute aos 4min51s do R1
Montel Jackson venceu Julio Arce por decisão unânime (30-27, 30-27 e 29-28)
Carlos Ulberg venceu Nicolae Negumereanu por nocaute aos 3min44s do R1