Cristyan Martins, professor da nossa GMI Evolução Jiu-Jitsu, deixou Maringá, no Paraná, para lutar Jiu-Jitsu nos Estados Unidos. O faixa-preta foi pego no contrapé pela pandemia, e decidiu ficar por lá à espera da liberação dos torneios.
Em papo com o GRACIEMAG.com, o professor comentou sobre a carreira, os rumos da academia e como vê o futuro de sua equipe. Confira!
GRACIEMAG: Qual é a primeira lembrança que você tem de kimono?
CRISTYAN MARTINS: Minha primeira lembrança é na minha infância, quando senti na pele de garoto o poder transformador que o Jiu-Jitsu possui, e como ele é capaz de mudar qualquer ser humano. Eu fui criado apenas pela minha mãe, não tive um pai que ensinasse a me defender. Com isso fui um menino que não tinha muita confiança em mim e segurança. Mas, por meio do Jiu-Jitsu, aprendi diariamente a ter autoconfiança, a ter os meios de me defender e me impor quando preciso ao longo de minha vida. Devo tudo isso ao Jiu-Jitsu, ao meu professor, e a meu primo-irmão que me levou para treinar.
Quando você percebeu que viveria em prol do Jiu-Jitsu?
Eu me apaixonei pelo Jiu-Jitsu desde o começo e creio que alimentava esse desejo de ser professor já nas faixas coloridas. Eu adorava quando meu professor pedia para puxar o aquecimento, ou quando ele me pegava para mostrar as técnicas. Sempre pensei comigo: “Quando eu me tornar um faixa-preta, vou iniciar um trabalho legal com os jovens.” Porém, quando fui graduado não comecei a dar aulas imediatamente, pois queria antes me consagrar campeão de grandes eventos na faixa-preta adulto. Voltei minhas energias apenas aos treinos, até que em 2012 decidi largar tudo, inclusive a profissão de advogado, para viver o meu maior sonho: mudar a vida das pessoas com o Jiu-Jitsu.
Qual foi a principal lição que você aprendeu com seu professor, a fera Rodrigo Garcia “Feijão”?
Difícil apontar a principal lição… Afinal, são 20 anos de aprendizado com ele, é muito ensinamento, de luta e de vida. Há no entanto um lema que ele nos passava sempre: “O sol nasce para todos”. Era uma frase que sempre resumiu a importância de sermos guerreiros, jamais desistir de nossos sonhos e sempre acreditar no trabalho. Eu procuro seguir ensinando isso – se você tiver comprometimento e constância nos treinos, conhecer bem seus objetivos traçados, não tem como dar errado. A dedicação supera qualquer coisa, até o talento.
Qual foi seu dia mais feliz no Jiu-Jitsu?
Meu dia mais feliz no Jiu-Jitsu foi quando recebi a faixa-preta, no pódio no Tijuca Tênis Clube, no Rio, em 2009. Eu começara a treinar em 1999, e lembro que em 2000, ainda na faixa-branca, passei 15 dias no Rio com o Feijão, para acompanhar o Mundial da IBJJF. Quando entrei naquele ginásio fiquei impressionado, cada equipe cantava seu hino e tentava abafar o grito da outra, num espaço pequeno mas lotado de lutadores e astros do esporte. Pude ver os faixas-pretas vencendo e pulando a grade para comemorar com os amigos na arquibancada, e naquele dia eu decidi que faria tudo para ser um bom faixa-preta também. Mas não poderia nunca imaginar que a tão sonhada faixa-preta viria praticamente uma década depois, quando fui campeão do Rio Open, na faixa-marrom peso-pena adulto. Foi para mim a maior alegria que tive na arte suave.
O que você busca ensinar hoje, na sua academia em Maringá?
Temos uma metodologia específica, com um programa estruturado para cada faixa etária, isso é um grande diferencial. Na minha opinião o Jiu-Jitsu é a melhor ferramenta pedagógica que existe, ideal para o desenvolvimento psicomotor das pessoas. É uma arte que trabalha variadas valências do ser humano, e é prazerosa. Hoje vejo minha escola exportando professores, atletas e profissionais qualificados em geral para os quatro cantos do mundo. Nossa didática busca isso, contribuir com a sociedade – mesmo que o aluno não se torne um atleta de elite ou um instrutor, sei que ele será um ser humano mais cauteloso, equilibrado e respeitoso, qualidades que prezo e que repasso a meus alunos.
Como o Jiu-Jitsu o ensinou a levar seu dia a dia?
Nos tatames aprendi que em primeiro lugar devemos ter respeito, ser respeitoso a todos. Em segundo, devemos achar o ponto de equilíbrio que é tão vital em todas as áreas – um aspecto crucial na luta, mas também fora dela. E em terceiro, é preciso termos comprometimento com nosso propósito, para no fim colher os frutos do nosso trabalho. É uma filosofia de vida que aprendi nestes mais de 20 anos de Jiu-Jitsu.