Gabrielle Garcia, faixa-preta de 29 anos, teve um Campeonato Europeu dos sonhos, em Lisboa, nesse fim de janeiro. A atleta que chorava por ser vaiada nas competições mostrou um Jiu-Jitsu completo, mais rápido e ofensivo, e foi aclamada com aplausos pela torcida no Casal Vistoso, antes e ao lutar – o que a levou novamente às lágrimas. Agora de alegria.
A estrela maior da Alliance bateu um papo com GRACIEMAG sobre o que aprendeu com o ouro no absoluto e no superpesado no evento da IBJJF, numa de suas melhores exibições até hoje: cinco lutas, cinco vitórias e cinco finalizações.
Confira e aprenda com a campeã Gabi Garcia:
GRACIEMAG: O que foi mais desgastante até hoje na sua carreira: manter esta invencibilidade que vem desde 2009 ou secar 40kg e conseguir manter a boa forma?
GABI GARCIA: Acredito que manter a invencibilidade no Jiu-Jitsu de hoje é uma missão mais desgastante, física e mentalmente. É necessário muito treino e dedicação nos treinos, e a dieta e a perda de peso são apenas um componente disso tudo. Mas na hora da luta não penso em me manter invicta; na verdade eu nem lembro disso. Só penso em não cometer erros – tanto que quando perco uma posição eu não me perdoo, e volto para treinar aquela movimentação cada vez mais. Agora, perder peso e fazer dieta vai ser para o resto da vida, eu venho de família de obesos e isso me faz viver em dieta!
Já analisou as lutas no Europeu? Acha que errou em algo?
Na minha opinião fiz um campeonato magnífico, esperei anos pelo momento de entrar no tatame e ser aplaudida de pé por todo o ginásio, e nesse Europeu 2015 este dia chegou! Juro que senti vontade de chorar quando entrei para lutar, foi uma emoção inexplicável. Acredito que errei sim, na final do absoluto contra a Mackenzie. Errei uma posição que me custou uma vantagem: cresci o olho na finalização e deixei meu quadril alto. Precisei então manter a calma e consegui sair da posição tranquilamente e finalizar a luta. Gostei muito da minha atuação pois não tive receito, chamei pra guarda, raspei, peguei as costas, fiz coisas que eu tinha vontade de fazer, agora sem medo de errar!
O que aprendeu com esse quadril alto?
Errei uma posição, mas sou humana e posso errar. Foi bom para eu ver que não sou invencível, ninguém é, e preciso treinar ainda mais. Sempre respeitei a Mackenzie e agora vou ficar ainda mais atenta ao jogo dela! A Mackenzie é muito dura, tem experiência como competidora e o pai dela (Megaton) no córner. É uma lutadora completa, e foi total mérito dela a posição. Vou tratar de consertar essa brecha logo para não tomar mais essas vantagens.
Nas redes sociais, você tem demonstrado uma alegria de iniciante quando encaixa um golpe básico. O que você recomenda ao leitor e fã que gostaria de trabalhar em cima dos pontos fracos?
Sugiro a todos os praticantes de Jiu-Jitsu que dediquem 90% do treinamento ao pontos fracos. Hoje, dificilmente eu jogo por cima na academia, eu só faço guarda pois sei que quando precisar ela vai ter de estar em dia! As pessoas diziam que eu não pegava costas, não chamava para a guarda, e realmente eram meus pontos fracos. Agora treino tanto esses aspectos que eu confio que não tem como dar errado!
Que dicas valiosas do Fabio Gurgel você recebeu para sair catando o braço e finalizando as meninas?
No caso do armlock, que saiu duas vezes no Europeu, treinei milhares de vezes – e quase todos saíram errados. Mas me apaixonei pela posição e tentava em todo treino, saindo de qualquer posição. O Fabio chegou a perder a paciência comigo, mostrando repetidas vezes para onde rodar, a posição certinha da cabeça e do corpo. Errei muitas e muitas vezes, mas saiu na hora certa. Ou seja, valeu a pena treinar muito!
O que o Fabio dizia?
Não posso falar aqui o que acontece exatamente em nossos treinos, por sigilo de treino e etiqueta de academia, mas ele diz umas coisas que ficam na nossa mente e ressurgem na hora da competição. Por exemplo: “Convide seu adversário para viver o que você sofre na academia todos os dias”. Fui para matar ou morrer, como ele pede sempre. Espero ter o Gurgel por perto até me aposentar. Ele briga, a gente se desentende como em qualquer família, mas o meu amor por ele é como de um pai.
Outro dia em Barueri você ouviu altas gracinhas de um torcedor abusado, como: “Antes eu nem queria, mas agora que você está toda bonitona eu quero uma foto contigo!”. O assédio no Europeu 2015 foi parecido?
(Risos!) O Gabriel Medina declarou outro dia, como eu li no Instagram da @Graciemag_br, que “quanto mais campeonato você ganha, mais bonito você fica”. Nada mais certo. O assédio aumentou, elevou muito a minha autoestima, e percebi como a dieta realmente vale a pena. Nunca recebi tanto carinho, tanto pedido de foto, e ainda voltei de Portugal com uma mala cheia de presente dos fãs! Nada paga isso, estou feliz demais, ansiosa por lutar tudo e soltar meu jogo, mesmo que o resultado não seja a vitória. Como outro fã me falou: de Fiona a musa! Foi engraçado. Amei esse Europeu, eu não conseguia andar no ginásio de tantas pessoas querendo me abraçar e me dar parabéns. Para quem sempre foi vaiada, esse é o maior tapa de luva de pelica nas pessoas que sempre duvidaram que um dia eu chegaria lá.