Em SP, curso de Bia Lage foca no ensino de BJJ para crianças com autismo

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Nos dias 28 e 29 de setembro, em São Paulo, você vai ministrar um curso presencial de capacitação para professores de Jiu-Jitsu interessados em ensinar a arte suave para crianças autistas. Fale um pouco sobre o curso e também como os interessados podem participar?
BIA LAGE: Os interessados podem me chamar por direct em minha conta no Instagram: @biaamadolage. No curso, vamos falar sobre o Transtorno do Espectro Autista e as estratégias práticas para acolher e ensinar as crianças, tendo sempre como princípio a inclusão. E ainda teremos o Curso de Manejo em Crise, este é voltado para situações em que as crianças se desregulam. Ensinaremos como a retenção deve ser feita de maneira respeitosa, colocando a segurança da criança em primeiro lugar. O Curso de Manejo será ministrado em conjunto com o meu grande amigo Maurício Lemos, especialista em segurança pessoal, com atuação nas áreas de Sobrevivência Policial e de Defesa Pessoal Feminina.

Como foi que você começou a se interessar por esse tema e se especializou?
Em 2023, eu e o meu marido, Daniel Lage, decidimos abrir nossa própria academia. Ele, que vem de uma família com tradição no Jiu-Jitsu e já é professor há muito tempo, me incentivou a ficar responsável pela Turma Kids da academia. Fiquei um pouco apreensiva no começo, mas encarei a missão. Fiz diversos cursos para me especializar. Pelo caminho apareceu a oportunidade de entender um pouco sobre o “Jiu-Jitsu Inclusivo.” Eu, como mãe de uma criança com TDAH, já havia tido diversas experiências frustradas com professores desinformados, não queria repetir o mesmo erro com outras mães. Fiz um curso de Jiu-Jitsu Inclusivo com o professor Vinicius de Carvalho, do Rio de Janeiro, e na sequência entendi que seria necessário me aprofundar ainda mais. Então me especializei em Terapia ABA e Método Denver para intervenções precoces e diversos outros cursos que foram aparecendo.

Como o Jiu-Jitsu pode contribuir para melhorar a qualidade de vida de uma criança com autismo?
Numa academia de Jiu-Jitsu, a criança desenvolve os aspectos psicomotores, que auxiliam na consciência corporal e desenvolvimento de habilidades fundamentais para aprendizagem. Além da melhora das habilidades de comunicação, linguagem, foco, interação social, conseguimos também uma redução nos “comportamentos problemas”, como, por exemplo, crise de desregulação. Essa redução vem muito do convívio e da antecipação da rotina. O Jiu-Jitsu, portanto, pode ser usado como terapia complementar para as crianças autistas. Os resultados são tão bonitos e gratificantes que grandes lideranças do Jiu-Jitsu estão encantadas com esse viés da arte suave e querem unir forças. Um belo exemplo é o mestre Moises Muradi, presidente da CBJJE. Ele já está estudando uma forma de a plataforma da Federação oferecer o curso para os professores credenciados e assim ampliar a divulgação desse conhecimento tão precioso.

O que de mais importante os professores vão aprender no curso dos dias 28 e 29 de setembro?
Eu e o Mauricio Lemos estamos trabalhando há meses nesse projeto, a fim de oferecer informação de qualidade aos professores. Para que as crianças atípicas tenham cada vez mais a oportunidade de vivenciar esse esporte maravilhoso que é o Jiu-Jitsu e usá-lo como terapia. Além do curso de manejo, que é difícil de encontrar e é um ponto muito importante, vamos ter toda a parte prática e o acompanhamento e suporte do trabalho.

De todos os seus alunos com autismo, qual foi o caso que mais marcou a sua carreira?
Tenho um carinho enorme por todos os meus alunos, não tem como trabalhar com alunos autistas e não ter amor pela sua profissão. Porém, uma família específica mexeu e mexe comigo até hoje. Davi, treze anos. Suporte nível 3, deficiência intelectual. Uma mãe super engajada no tratamento e bem estar dos filhos procurou uma academia de Jiu-Jitsu e explicou como era o Davi. Ele se desregula com facilidade, e o professor de maneira totalmente ríspida disse que não ia tolerar essas atitudes no tatame dele e, se precisasse corrigir o filho dela, ele iria colocar o “moleque“ (palavra usada por ele) no lugar dele. Ela saiu aos prantos e já quase desistindo. Me achou pelas redes sociais. Depois de muita conversa por telefone, consegui convencê-la a trazer os filhos para uma aula teste. Saíram do Ipiranga e vieram até minha academia, em Pirituba. A aula fluiu e hoje eles são meus alunos e a evolução do Davi me emociona. Atendo eles na academia do Viscardi Andrade, que me cedeu o espaço para as aulas, por ser mais perto da casa da família.

O Davi foi tema de muitas conversas e estudo com o Lemos, foi daí que surgiu a ideia de montar o Curso de Manejo, pois as pessoas não estão preparadas para ajudar as crianças. Lemos estudou cada passo, cada manejo, sempre tendo como base o Davi. Um menino doce, que ama estar perto das outras crianças. Mesmo com a dificuldade na comunicação, ele faz de tudo para se expressar e demonstrar felicidade e amor em pertencer ao grupo.

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