O peso-mosca Allan “Puro Osso” Nascimento estaria em ação no UFC Vegas 74, no dia 3 de junho, em busca de uma vaga no ranking do Ultimate. No entanto, o atleta da Chute Boxe/Diego Lima foi forçado a deixar o combate após sofrer um rompimento parcial no ligamento polegar da mão direita. Allan enfrentaria o americano Tim Elliott, ex-desafiante ao cinturão da categoria.
O brasileiro de 31 anos soma duas vitórias consecutivas na organização e tem se provado um finalizador acima de qualquer suspeita. Graduado faixa-preta pelo professor Marco Barbosa, Allan contabiliza 14 triunfos por finalização – 12 deles no primeiro round. Em sua luta mais recente, em janeiro deste ano, Allan precisou de pouco mais de três minutos para estrangular Carlos Hernández com um mata-leão.
Em bate-papo com a equipe do GRACIEMAG.com, Allan Puro Osso analisou a próxima luta do amigo e parceiro de treino Charles do Bronxs, contou as dificuldades que superou para estar no UFC e mirou o ranking dos moscas.
GRACIEMAG: Como você analisa o encaixe técnico da luta entre o Charles e o Beneil Dariush?
ALLAN PURO OSSO: O Charles é um cara diferenciado, ele tem estrela e faz e acontece, eu vejo isso nos treinos dele diariamente. O Charles está focado em sair com a vitória e em ter uma grande apresentação porque ele sabe que o próximo passo é disputar o cinturão novamente. Ele está decidido, focado e nós da equipe ficamos felizes com isso. O importante é ele se sentir bem e estar com a cabeça boa. Não tenho dúvidas de que ele sairá com a vitória no dia 10 de junho, em Vancouver.
Em qual área o Charles vai sobressair em relação ao Dariush?
O Charles tem uma trocação mais eficaz do que o Dariush e acredito que o Jiu-Jitsu possa ser uma carta na manga para ele sair com a vitória. A trocação do Charles está impecável e, se ele conseguir impor uma pressão forte por cima no chão, pode fazer diferença no rumo da luta.
Você tem previsão de retorno aos treinos?
A expectativa é que eu volte 100% aos treinos em julho. Meus treinos de grappling foram os mais afetados pela lesão por causa da pegada e dos ajustes das posições. E hoje em dia, a luta agarrada virou a minha especialidade. Eu venho do muay thai, mas o Jiu-Jitsu tem sido um dos meus principais trunfos a cada luta.
Você prefere enfrentar um lutador ranqueado na sequência ou prefere fazer uma caminhada mais gradual?
Acredito que um degrau de cada vez me levará ao topo. Não tenho necessidade de correr para tropeçar lá na frente. Quando o UFC marcou a luta contra o Tim Elliott, que é o 11º colocado no ranking, a organização entendeu que eu estava pronto para avançar na categoria. Cada passo é discutido com o meu treinador Diego Lima e com o meu manager Jorge Patino “Macaco”. É questão de tempo para eu entrar no ranking e depois disputar o cinturão.
Qual é o segredo para se tornar um finalizador tão eficiente?
O primeiro passo foi entender que o MMA é um jogo completo. Então, como eu comecei no muay thai, precisei buscar treinos duros com kimono para evoluir tanto na trocação quanto no Jiu-Jitsu. Foi então que eu comecei a treinar com o professor Marco Barbosa, que é uma pessoa fenomenal e me graduou faixa-preta no fim do ano passado. O Barbosa foi o cara que abriu a minha mente sobre como fazer a junção do Jiu-Jitsu com o muay thai para crescer no MMA. Claro que nós ficamos mais confortáveis numa área, mas precisamos estar preparados para qualquer situação.
Que obstáculos você superou ao longo da carreira para estar no UFC?
Eu luto profissionalmente desde 2011 e superei cada adversidade para estar aqui atualmente. Antes, fiz diversas lutas de MMA amador e de muay thai profissional, então já são muitos anos de dedicação. Eu vivo cada época de acordo com as situações que acontecem. Uma das dificuldades surgiu em 2019, quando rompi o ligamento cruzado do joelho e precisei ficar afastado por bastante tempo. Recebi alta médica durante a pandemia e fiz fisioterapia em casa com o acompanhamento do meu fisioterapeuta. Foi um período conturbado até eu assinar com o UFC em 2021. A maior fatalidade foi a morte do meu pai, acontecida a 15 dias da minha estreia no UFC, isso foi bem duro. Mas encaro essas adversidades como um modo de blindar a mente. Ter pessoas importantes ao redor também é fundamental para superar esses desafios e fazer acontecer.
Que lições você tirou com a sua primeira derrota no UFC?
Eu uso essa luta como exemplo, foi um combate duro, apertado e fui bastante elogiado pelo o meu desempenho. Independentemente do resultado, eu tirei lições de como lutar no UFC. Tanto que na minha segunda luta eu fiz um plano totalmente diferente em relação a primeira. Contra o Tagir Ulanbekov, eu até ataquei bastante, mas fiz guarda com as costas no chão. É preciso estudar essas partes, buscar evolução e ter o aprendizado para levar a vitória.
Quais são os maiores desafios de adaptar o Jiu-Jitsu para o MMA?
Eu treinava muito com kimono, desde os tempos de faixa-branca. Da faixa-roxa em diante, eu passei a focar no sem kimono para tentar implementar no MMA. Realmente, as pegadas fazem muita diferença. Se eu treinasse com kimono hoje, acho que eu me sentiria um peixe fora d’água. O Barbosa me ajudou bastante nessa transição e aprendi com ele como ter mais equilíbrio e balanço para conseguir manter posições de domínio durante a luta.
Qual é a importância do Barbosa na sua formação como lutador?
Eu sempre falo do Barbosa com muito carinho porque ele literalmente abriu as portas da academia dele para mim e para diversos atletas. Eu aplico nos treinos tudo o que ele me ensinou, e realmente dá certo. Ele é uma pessoa espetacular, tem uma cabeça muito boa e é bem legal conversar e escutar o que ele tem a nos ensinar dentro e fora do octógono. Apesar de eu estar distante dele no dia a dia, mando mensagem para ele sempre que possível e ele me motiva a seguir meu trabalho.
O que a faixa-preta representa para você?
Eu já era grau preto de muay thai e foi gratificante ter conquistado a faixa-preta no Jiu-Jitsu. Esse momento foi crucial para a minha construção interior. Tento agregar essa dupla faixa-preta no meu dia a dia. É uma conquista muito expressiva que carrego com carinho.