Faixa-preta desde 2015, Pedro “Dan” Dourado viveu a mais insuportável das perdas. Leia no GRACIEMAG a história tocante do aluno da Nova União Bahia, do professor Leandro Carvalho, e inspire-se para as suas lutas mais ferrenhas e eventuais derrotas nesse ringue chamado vida.
“Em 2019, após tentativas frustradas de sermos pais, chegou nosso tão aguardado presente de Deus. Nasceu Maria Júlia. Cara, foi a maior felicidade da minha vida. Até o nascimento dela, eu nunca tinha conhecido o amor de verdade. Mas durou pouco tempo. Com um mês, minha filha foi diagnosticada com um problema no coração chamado tetralogia de fallot. Tivemos os melhores médicos da Bahia acompanhando-a, mas não foi da vontade de Deus que ela ficasse. Naquele momento, um grande pedaço de mim morreu com ela.
Em 2020 e 2021, vivi aquele luto em meio a uma pandemia, um período em que a humanidade toda enfrentou desafios psicológicos relacionados à incerteza e ao medo. Minha experiência não foi diferente da maioria, e também perdi dois tios.
Para aliviar nossos corações, minha esposa e eu decidimos ter outro filho em 2021. Ouvimos dos médicos que a patologia de nossa filha não se repetiria, pois o caso dela foi considerado como uma extrema falta de sorte. Em dezembro de 2021, nasceu Luiz Pedro, a criança mais linda que eu vi na minha vida. No entanto, os médicos estavam errados nas suas previsões. Ele também foi diagnosticado com tetralogia de Fallot, e seu caso foi ainda mais grave do que o de Maria. A partir desse momento, as coisas se tornaram ainda mais difíceis.
Fui acompanhá-lo na UTI e vivi o pior tipo de tortura que um homem pode passar. Via crianças de 2 meses com as mãozinhas amarradas na cama para evitar que puxassem o tubo que os mantinham vivos. Nas madrugadas, eu era acordado com crianças sofrendo com os piores quadros. Era o verdadeiro inferno.
Após a cirurgia do meu filho, ele não resistiu ao processo de recuperação e eu, o pai, tive de autorizar o fim do procedimento de reanimação cardíaca. Eu me recusei a sair da UTI no momento da parada cardíaca dele, e assim vi meu filho dar seu último suspiro.
Nesse momento, como vocês podem imaginar, minha vida perdeu todo o sentido. Não tinha vontade de sair de casa. Para tornar as coisas ainda mais pesadas, perdi meu emprego no dia em que meu filho foi para a UTI. Sem meu trabalho como professor, perdi também meu apoio emocional que eram meus jovens alunos. Então vivi outra situação estranha, afinal pessoas que me conheciam evitavam conversar comigo, talvez por não saberem lidar com tudo o que eu vivera. Isso só piorou tudo para mim, e desencadeou uma síndrome do pânico. Desenvolvi um medo paralisante de interagir com pessoas na rua. Foi nesse momento que compreendi que estava enfrentando uma profunda depressão.
Foi quando o Jiu-Jitsu me salvou. Eu tinha hérnias de discos que não me deixavam voltar aos campeonatos e treinos duros de que eu tanto gostava. Mas pude aprender como o Jiu-Jitsu transcende a mera competição. Em 2 de janeiro de 2023, após inúmeras orações, recebi um convite do sensei Leandro Carvalho.
Ele me fazia um convite para que eu organizasse um evento de treinamento inédito até então na Bahia, promovido pela Nova União, com inúmeros professores e lutadores da equipe. Pois nesse evento, tive o privilégio de conhecer caras iluminados como o Fábio Andrade, André Bastos e o presidente da equipe Léo Santos.
Passei então a contribuir ativamente com a organização da equipe em Salvador e pude ajudar a aprimorar as técnicas e estratégias dos atletas, bem como a promoção e crescimento de eventos de Jiu-Jitsu.
A arte me deu um novo propósito. Esse envolvimento passou a manter minha mente totalmente voltada ao desenvolvimento desses projetos e me reconectou com o mundo.
A experiência tem sido fundamental para minha recuperação, auxiliando-me a superar o meu quadro de depressão, pois me faz deixar de remoer o passado, pensar nos desafios do presente e enfrentar tudo em prol do esporte que tanto amo.
As pessoas que acompanham meu caso estão surpresas com minha evolução. Destacam que nem todos que passaram por esse trauma estão na mesma condição que consegui alcançar hoje. Penso que viemos ao mundo pelados e sem nada, tudo que temos é permissão de Deus. Então só tenho a agradecer por ter sido pai, mesmo por um curto período de tempo. E depois agradeço ao Jiu-Jitsu e seus defensores, já que a arte está sendo fundamental para me ajudar a sair dessa situação.
Esse é apenas o meu caso, e não existe uma receita de bolo que vai servir para todos. Mas tenho uma certeza: o que ajuda mesmo é ter Deus no coração e amigos e familiares que amam você. Se puder vestir o kimono também, mais suave será.”
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