Na última segunda-feira, o GRACIEMAG.com recordou do camp de treinos que juntou Vitor Belfort e Ronaldo Jacaré, hoje oponentes no peso médio do Ultimate. Os dois faixas-pretas brasileiros duelam no UFC 198, no próximo dia 14 de maio, em Curitiba.
O treino em conjunto se deu em março de 2005, quando Belfort se preparava forte para sua estreia no Pride Grand Prix até 93kg, em que enfrentaria Alistair Overeem em Osaka, no Japão. Ronaldo Jacaré, então bicampeão mundial absoluto de Jiu-Jitsu com planos de fazer carreira no MMA, foi logo convocado para auxiliar na parte de quedas e, claro, no jogo de solo.
Os demais faixas-pretas que participaram daquele camp, nas instalações cedidas pelo professor Adilson Bitta em Teresópolis, no Rio, não esquecem do período, rico em aprendizado e sob um ritmo forte.
“Foram três semanas de muito treino, sempre voltados para as necessidades do Vitor. A gente descansava enquanto ele treinava, e assim ele estava sempre encarando um sparring zerado, novo em folha”, recorda o campeão de Jiu-Jitsu da Gracie Barra BH Erik Wanderley, com seis lutas de MMA na carreira. “Mesmo depois de enfileirar vários de nós, o Vitor vinha com tudo, aquilo me impressionou. Eu em toda minha vida vi poucos lutadores tão profissionais como o Vitor, sou fã dele. Apesar de ele ter migrado para várias equipes, jamais deixa a peteca cair. Vive e respira luta o tempo todo, e acho que é por isso que segue nas cabeças até hoje, com quase 20 anos de carreira”.
Para Erik, tanto Jaca quanto Belfort evoluíram muito nestes 11 anos, e aqueles treinos dificilmente vão influir no resultado da luta.
“A gente não via o Vitor chutar ninguém, e hoje ele vive soltando a perna com muita confiança. Acho que nesta luta vamos ver o Belfort muito alerta para o chão do Jacaré e o Jacaré muito alerta para os golpes em pé do Vitor. Com um detalhe: o Vitor é muito explosivo no chão também, e pode levantar rápido”.
Uma grande diferença para aqueles tempos era o peso de Vitor. Hoje na categoria 84kg, naquela época o faixa-preta carioca de Carlson Gracie atuava na divisão até 93kg e estava beirando os cem quilos, conforme a lembrança da turma do camp. Ainda assim, sobrava na velocidade e na parte física. “Mesmo com quase 100kg, rasgado de dar inveja em fisioculturista, o Vitor ganhava de todos nós na corrida e nos tiros que fazíamos na granja Comary. Até o Jacaré ficou para trás. O Vitor estava voando”, lembra Erik.
Professor Henrique Machado (GB Amazonas) também estava presente em Teresópolis, e falou com nostalgia: “Lembro com saudosismo dessa época de treinamento. Realizamos ali uma verdadeira maratona de treinos”, recordou, agradecendo a equipe Pitbull pela acolhida naquelas três semanas de muito aprendizado e suor derramado.
Líder da academia Pitbull, Adilson Lima “Bitta” relembra um causo curioso vivido naqueles dias. “O hotel que a gente conseguiu para o pessoal do camp era pertinho da minha casa e muito antigo, e inventei que uma mulher havia morrido lá há muito tempo e que corria a lenda que o fantasma dela volta e meia aparecia, mas tirando isso o hotel era ótimo”, diverte-se Bitta.
“Passaram uns dias”, segue contando Bitta, “e quando bateu meia-noite eu fui fazer uma visitinha a eles. Me vesti de preto, pus uma máscara sinistra de velha e fiquei escondido no salão. Fazia uns barulhos, tocava o piano velho do hotel e me escondia. Quando o Carlos Baruch e o Rodrigo Durok já estavam apavorados, um deles pensou até em chamar um pastor para afastar os maus espíritos. Quando eu apareci aos berros, o Jacaré saiu correndo. Ou seja, tudo lutador casca-grossa de vale-tudo, mas apavorados com medo de fanstasma!”.
Outra história engraçada e curiosa dos treininhos em Teresópolis envolveu o craque Jacaré. Treino não se comenta, muito menos nomes, mas cabe deixar claro que não foi o Belfort. Seja como for, um dos participantes do camp encaixou uma chave de pé em Jaca, quando este jogava por baixo, procurando raspar na guarda De la Riva durante um treino solto sem kimono. Jaca sentiu o mata-leão no pé encaixado e prontamente declarou a desistência, mas o fez ao modo do judô: “Matê! Matê!”. O companheiro continuou apertando o golpe, e Jaca chiou. “Perdão, eu não sabia que matê era para soltar…”, desculpou-se o parceiro.
Onze anos depois, não vai ter matê, nem treino solto. Vitor Belfort, aos 39 anos, e Jacaré, aos 36, vão colidir, numa configuração um tanto diferente. Para muitos de seus treinadores, Jaca está no auge da forma técnica, do gás e já com uma grande bagagem de MMA, e quer o cinturão. Já Vitinho passou do apogeu na carreira, mas conta com uma estrela que poucos têm igual no UFC e também como uma experiência animal. É saber quem vai baixar suas cartas da melhor maneira, na mesa em Curitiba.
Quem vence o duelo entre os ex-parceiros no dia 14 de maio, no UFC 198, amigo leitor? Vitor Belfort ou Ronaldo Jacaré?
recorda o campeão de Jiu-Jitsu da Gracie Barra BH Erik Wanderley, com seis lutas de MMA na carreira.