Nosso GMI, o faixa vermelha e branca Cezar Guimarães é o líder da equipe Top Brother. O popular Casquinha é um dos mestres de Jiu-Jitsu mais conceituados do esporte e teve papel determinante na formação de diversos talentos, como o multicampeão Davi Ramos. Faixa-preta de judô, o renomado mestre foi aluno de Carlson Gracie e pratica a arte suave desde os primórdios da modalidade no Brasil. Ele vivenciou a profissionalização do Jiu-Jitsu e contribuiu diretamente com o crescimento da luta no país.
Em bate-papo com a equipe do GRACIEMAG.com, Casquinha apontou os maiores desafios de liderar uma grande equipe, como a Top Brother, e listou as principais diferenças entre o Jiu-Jitsu atual e o que era praticado no passado.
GRACIEMAG: Como começou a sua história no Jiu-Jitsu?
CEZAR “CASQUINHA” GUIMARÃES: Minha história no Jiu-Jitsu começou quando eu tinha apenas meses de idade. Meu pai morava numa casa que a proprietária alugou para ser comercial e não residencial, então o tatame ficava na sala de estar. Era nossa academia. Ou seja, nós morávamos onde eram feitos onde treinávamos. Todos nós dormíamos ali mesmo, no tatame. Quando eu era apenas um bebê, o berço em que eu dormia ficava sobre o tatame, porque a nossa casa não tinha espaço e quartos suficientes para todos nós. Comecei a treinar aos 4 anos e de lá para cá nunca mais parei. Tive minha vida como atleta, e hoje como treinador, formo campeões na vida e no caráter. Já se vão 55 anos de dedicação a esse esporte.
Quais são os maiores desafios de liderar uma equipe grande como a Top Brother?
São muitos. Somos uma equipe espalhada por vários lugares no mundo, além disso temos 20 projetos sociais que estão distribuídos pelo Brasil e no exterior. Cada pessoa tem um ponto de vista e seu idioma, como inglês, alemão, mandarim, espanhol. Alguns alunos têm algumas vaidades e não pensam como equipe, porém como bons cariocas, temos que ter jogo de cintura e conseguir caminhar a cada dia mais forte para conseguirmos resultados melhores para o nosso exército.
Quando você percebeu que viveria em prol do Jiu-Jitsu?
Já estava no meu sangue, pois meu pai já era representante da academia Gracie de vale-tudo, campeão de Jiu-Jitsu e nos obrigava a treinar todos os dias. Eu e meu irmão fomos atletas da Universidade Gama Filho de judô, pois com isso ganhávamos incentivos como bolsa de estudo, salário para representar a faculdade. Apesar disso, eu também continuava minha rotina de treinos de Jiu-Jitsu na academia do Carlson Gracie. É isso que sei fazer da minha vida e dei continuidade no esporte como treinador. Formei vários atletas campeões brasileiros, mundiais e ADCC, e no MMA. Também revelei lutadores que estão em eventos renomados, como o ACA, Bellator e UFC.
Quais as principais diferenças que você nota no Jiu-Jitsu praticado no século passado e atualmente?
A diferença é que todos lutavam para finalizar, era mais bonito de ver, um verdadeiro show. Às vezes, a pessoa que perdia saia aplaudida, já que buscava a finalização a todo momento. Hoje em dia o esporte está muito mais amarrado, monótono de se ver uma luta, porém, tecnicamente, nós tivemos várias evoluções daquela época até os dias atuais.
O que diferencia a Top Brother das demais equipes?
Ensino aos atletas a dar o máximo de si, perder com dignidade, sempre pronto para a batalha. Se o resultado não for positivo, volte para a academia para treinar cada vez mais e superar seus obstáculos. Por meio dos treinos com determinação, você pode ganhar aquele que te venceu ontem. A determinação supera o talento no Jiu-Jitsu.
Que dicas você daria a um atleta que sonha ser um grande campeão de Jiu-Jitsu?
A dica que eu sempre dou é a seguinte: em algum lugar, algum tatame, onde houver Jiu-Jitsu tem bem treinado, Prepare-se! Pois seja lá aonde for, até no lixão nasce flor. Então o tempo todo é necessário estar preparado.
Que história marcante dos tempos de atleta você gostaria de compartilhar com GRACIEMAG?
Já foram tantas, mas a que mais me marcou, foi quando eu tinha feito seis lutas de judô na Universidade Gama Filho e fui campeão junto ao meu irmão. Meu pai ligou para o Hélio Gracie, que era presidente da Confederação de Jiu-Jitsu na época, para segurar as nossas categorias. E fomos direto para o Sírio Libanês sem sequer nos alimentarmos e fizemos mais sete lutas entre o peso e o absoluto. Novamente fomos vencedores em todas. E no final da noite estávamos exaustos, pois cada um tinha feito mais de 14 lutas em apenas um dia. E o mestre Carlos, ao saber disso, falou para minha mãe que ela teria que ter mais 14 filhos, já que a safra era boa, pois o Carlos Gracie teve 21 filhos. Foi um momento que marcou muito a minha vida de atleta.