(Por Breno Sivak, professor de Jiu-Jitsu)
O Comitê Olímpico Internacional (COI) nem ligou para o fato de a luta livre olímpica estar nos Jogos desde seu nascimento, e relacionou a modalidade entre os esportes que poderão deixar as Olimpíadas a partir de 2020 – a decisão sai em setembro de 2013. A polêmica reforça o argumento de que todo esporte depende da mídia, de ser interessante de assistir, e que nada é garantido. Por sua vez, o Jiu-Jitsu espalhou-se pelos cinco continentes, mas os fãs continuam confundindo a arte marcial dos irmãos Gracie com o vale-tudo.
O Jiu-Jitsu recriado e readaptado pelos Gracie teve o viés de tornar seu representante invencível se a luta fosse sem regras, sem pontuação e sem tempo. Era praticado de forma defensiva, como reza a defesa pessoal: o contra-ataque e a finalização eram executados a partir do erro provocado pelo agressor. Tal foi o cerne dos ensinamentos da época pré-competição, e é este basicamente o Jiu-Jitsu usado pelos lutadores de MMA hoje.
Após resistir um pouco, grande mestre Helio Gracie entendeu que a melhor maneira de espalhar o Jiu-Jitsu pelo mundo seria escrevendo um livro de regras e regulamentos para as faixas, e assim deu-se início à era das competições. Criou-se aí uma nova modalidade dentro do Jiu-Jitsu Gracie pois, ainda que usando da mesma metodologia, as regras obrigaram os lutadores a uma dinâmica de luta completamente diferente e uma estratégia com um plano de luta. Entrava em campo a pontuação, útil para se garantir a vitória caso o tempo regulamentar acabasse e a finalização não acontecesse (o que acaba ocorrendo na maioria das lutas nos campeonatos). Com o advento da pontuação e da estratégia, nascia a “amarração”, muitas vezes embutida no plano de luta, com a função de cadenciar as ações após garantir alguns pontos.
Estive em Abu Dhabi, durante o WPJJC 2013, como convidado, para produzir pelo segundo ano consecutivo um programa sobre o campeonato profissional para o Canal Combate da Globosat. Apesar de o canal ser brasileiro, chamar Combate e ter entre seus funcionários jovens brasileiros praticantes ou apreciadores de Jiu-Jitsu, me foi dito que a audiência sempre cai durante as exibições de lutas de Jiu-Jitsu. Por isso, não querem exibir programas sobre competições de Jiu-Jitsu. Repare que estou me referindo a um canal de artes marciais, onde seus milhares de assinantes são brasileiros e obviamente entusiastas ou praticantes de Jiu-Jitsu. Por que isso ocorre então? Para mim, a resposta é clara: muitas lutas amarradas e chatas de se assistir.
Amarração e castigo
Por este motivo, considero a luta entre os fenomenais Keenan Cornelius e Paulo Miyao, ocorrida na final do peso aberto da faixa-marrom em Abu Dhabi, como um marco. Interrompida pelo árbitro Luciano Mendes, que desclassificou ambos os astros da nova geração por falta de movimentação, a luta nos obriga a pensar em uma reformulação das regras do nosso Jiu-Jitsu. A mudança não seria em relação à regra em si, mas acerca dos eternos segundos (para quem assiste) que as lutas ficam paradas atualmente. Os 30 segundos de falta de combatividade, permitidos há pouco tempo, foram diminuídos para 20 segundos atualmente. Será que 20 segundos ainda não é muito? O debate é por aí.
O desfecho da luta entre Keenan e Miyao nos mostrou o caminho. Os juízes de Jiu-Jitsu devem priorizar o tempo de combatividade, enquanto os competidores precisam saber que serão de fato punidos e até desclassificados se insistirem. Com isso, fatalmente passariam a adotar um plano de jogo dinâmico e progressista. E o público não veria mais a cena de lutadores conquistando dois pontinhos e, a partir daí, simulando ações enquanto olham para a tela do cronômetro, apenas esperando o tempo passar, como virou triste rotina nos campeonatos.
Os que acompanham o judô há tempos devem se lembrar bem de como as lutas eram amarradas no passado, com ambos os atletas dançando sobre o tatame. Hoje, vemos como o esporte ficou dinâmico, depois da rígida e prioritária aplicação do “shido” – a punição por falta de combatividade ou objetividade na luta. No judô, basta por vezes uma pegada diferente na gola ou lapela para que o juiz sinalize o “shido”, pois a autoridade máxima entende que aquela simples pegada só tem uma serventia: a de amarrar as ações.
A punição severa é a solução simples e prática para que o Jiu-Jitsu nas Olimpíadas deixe de ser uma utopia. E isso só será passível de realização depois que os campeonatos forem mais excitantes e a mídia observar seus índices de audiência subindo. Por consequência, teremos ainda mais adeptos pelo mundo e condições reais de sensibilizar a comissão que decide a inclusão de novos esportes nos Jogos.
E você, concorda com a opinião do faixa-preta Breno Sivak? Comente com a comunidade do Jiu-Jitsu, aqui em GRACIEMAG.