O professor Fabiano Papel entre os pais, em João Pessoa. Foto: Arquivo pessoal.
Em meio à pandemia de coronavírus, o professor GMI Fabiano Papel abandonou a vida nos Estados Unidos (onde treinava obsessivamente para conquistar os principais títulos desta temporada do Jiu-Jitsu competitivo), regressando momentaneamente à cidade de João Pessoa, no nordeste brasileiro, para uma batalha nobre e exemplar: cuidar dos pais, que estavam desamparados neste difícil momento para toda a humanidade. “A vida dos meus pais é mais importante do que qualquer medalha”, diz Fabiano. Confira a seguir o relato completo do professor.
“A pandemia de coronavírus prejudicou bastante a minha carreira de competidor de Jiu-Jitsu. Eu já vinha de um ano difícil em 2019. Sofri uma lesão grave e lutei em agosto com muitas dores. Mesmo assim, graças a Deus, fui campeão na categoria pena, master 2, do Austin Open Summer da IBJJF. Ao final do torneio, a lesão acabou piorando, o que me impossibilitou de lutar o restante do ano. Em janeiro de 2020, disputei novamente o Austin Open, versão de inverno, e fui campeão peso e absoluto. Foi maravilhoso, subi muito no ranking e estava preparado para novos desafios, focado nos treinos e muito motivado para lutar o Pan entre os melhores no peso e absoluto. Até que começaram a chegar as notícias de que o tal vírus que havia sido identificado na China estava se alastrando pelo mundo e provocando mortes. Dias depois, a IBJJF cancelou o Pan 2020 e deixou o resto da temporada em stand by”.
“Ao notar que a situação era grave e com um alcance planetário, comecei a ficar muito preocupado com os meus pais. Eles moram sozinhos no Brasil. Minha irmã até mora relativamente perto, mas é do grupo de risco também, então não poderia ajudá-los nesse caso. Quando vi a notícia de que o aeroporto mais próximo da minha cidade (sou de João Pessoa) poderia fechar, comprei a passagem imediatamente e deixei os Estados Unidos. Comprei no dia 18 de março para viajar no dia 22. Foi uma decisão difícil, mas não poderia pensar duas vezes. Sim, eu quero muito conquistar as principais medalhas do Jiu-Jitsu, mas os meus pais são o que há de mais precioso em minha vida. Meu regresso ao Brasil era inevitável”.
“Neste tempo cuidando dos pais, sem poder praticar o esporte que tanto amo, apenas focado na preparação física com um personal e amigo da minha cidade, tenho tido que refletir muito sobre a vida e me automotivar. É complicado esse o isolamento dos treinos, das pessoas que amamos e dos nossos objetivos, mas o próprio Jiu-Jitsu me ensinou a ser paciente e a acreditar que eu posso vencer qualquer desafio, basta eu acreditar em todo o meu potencial. E é isso que tenho feito, venho treinando muito a minha parte mental. Acho que esse tempo tem sido importante para que eu possa colocar na balança todos os meus sonhos e tudo que eu passei para chegar até aqui. Aproveito para estudar todos os meus adversários, venho fazendo um dossiê completo de todos eles e, com certeza, na hora que essa pandemia passar, voltarei aos Estados Unidos e vou me submeter aos treinos mais fortes possíveis, pois o meu objetivo é chegar até o final do ano entre os Top 5 da minha categoria no mundo. Temos que tratar essa pandemia como uma ‘técnica de sacrifício’, na qual a gente tem que perder momentaneamente para, logo em seguida, surpreender a todos e finalizar o problema. É assim que eu penso, ceder momentaneamente para vencer logo à frente. E, o que é mais importante: com a certeza de que meus pais estão bem, com a saúde blindada, torcendo por mim à distância”.