Jiu-Jitsu na Austrália colhe hoje os frutos e medalhas de um início que celebra 30 anos

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Vicente Cavalcanti lidera a Southside Jiu-Jitsu. Foto: Reprodução/Instagram

O professor Vicente Cavalcanti é um professor realizado em Brisbane, cidade que se prepara para sediar os Jogos Olímpicos em 2032. Sua escola, a Southside Brazilian Jiu-Jitsu, foi fundada em 2010. Em 14 anos, Vicente venceu 13 vezes o Campeonato Estadual de Queensland, na sua região.

Vicente, contudo, ainda tem uma missão na sua cabeça: fazer uma revanche com Sérgio Mallandro.

“O Sérgio Mallandro é irmão do meu pai. Sempre fomos muito próximos, e minha infância foi super divertida ao redor dele. Foi por influência dele que comecei no Jiu-Jitsu. Nós nunca chegamos a treinar sério. Fizemos apenas um rola soltinho em Búzios quando eu ainda estava na faixa-branca. Fui derrotado e busco a revanche até hoje”, diverte-se Cavalcanti.

Vicente é um dos quase incontáveis faixas-pretas que ajudam, hoje, o Jiu-Jitsu a se tornar uma potência na Austrália. Tudo começou há exatos 30 anos, quando a Australian Federation of Brasilian Jiu-Jitsu foi fundada, em 1994. O pioneiro foi Peter De Been, então um promissor faixa-roxa de Carlos Gracie Jr. Pete ganhou sua faixa-preta em 1999 e o esporte só fez crescer. Atualmente, até nosso fotógrafo Gustavo Aragão ensina por lá, mudando vidas e incutindo nos jovens australianos o amor pela arte suave.

De 30 anos para cá, o cenário esportivo na terra dos cangurus mudou muito, como lembra Vicente:

“Lachlan Giles e Craig Jones colocaram de vez a Austrália no mapa do Jiu-Jitsu, em especial sem kimono. Craques como Levi Jones-Leary e a Adele Fornarino também tem dado muita visibilidade ao esporte por aqui. E muitos jovens talentosos hão de aparecer, com e sem pano. Hoje o Jiu-Jitsu sem kimono está muito popular realmente.”

A equipe Southside Brazilian Jiu-Jitsu, contudo, não se fia apenas nos torneios e disputas esportivas.

“Nosso foco não é apenas nas competições, mas também em proporcionar um ambiente familiar para todos os praticantes. Temos muitas crianças e mulheres na equipe. Posso dizer com orgulho que, com muito suor, somos um dos melhores times da Austrália hoje. Acho que tive muita sorte e felicidade de me mudar para um país onde as pessoas são muito amigáveis. O Jiu-Jitsu e sua filosofia têm muito a ver com o clima da Austrália”, diz o sobrinho de Mallandro, que prova que tem feito um trabalho sério.

O amor de Vicente pelo Jiu-Jitsu vem de longe, de uma cidade do interior do Brasil.

“Fui muito influenciado pelo meu tio Sérgio Mallandro, e também por meu primo Orlando Neto, grande competidor. O Mallandro sempre disse que eu precisava treinar Jiu-Jitsu para ter uma vida mais leve. Só que eu morava em Uberaba, e a arte era só um esporte que eu via em fitas e revistas. Até que, em 2000, pude começar a treinar. Tudo graças ao meu mestre Mauro Chueng, primeiro faixa-preta do morro do Cantagalo, que chegou em Minas para ensinar na cidade. Eu aprendi demais com ele, e treinamos até eu pegar a faixa-marrom. Eu não perdia uma aula, fiquei viciado desde o primeiro dia. Em seguida, entrei na equipe Alliance e fui graduado faixa-preta pelo mestre Alexandre Paiva, o Gigi, em 2011.”

E onde será que o Jiu-Jitsu na Austrália há de chegar, em cinco, dez anos?

“Em 2010, quando me mudei para a Austrália, comecei meu trabalho dentro de uma igreja Maori no sul de Brisbane. Acho que sou uma pessoa que gosto de ajudar as outras, seja no tatame ou em qualquer outro lugar. Na equipe Southside, portanto, nunca existiu eu, e sim, nós. Somos um grupo de professores sem egoísmo, sempre tentamos nos ajudar ao máximo, tanto os alunos quanto a equipe como um todo. Somos um grupo muito unido, e quando um ganha todos ganham. A vitória é resultado do trabalho duro de todos os envolvidos. Com essa filosofia de trabalho, vejo minha equipe cada vez mais competitiva, e com professores que seguirão espalhando a arte na Nova Zelândia, na Ásia e no continente africano. Por aqui, há academias em quase toda esquina em Brisbane e outras cidades. São realizados eventos quase todo fim de semana. O incentivo dos pais é grande e muitas crianças treinam. Acredito que em menos de uma década veremos vários campeões mundiais oriundos da Austrália.”

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