Professor da GFTeam querido por seus alunos no Rio de Janeiro, o faixa-preta Renato Sousa, o Panda, estava feliz e tranquilo. Já começava a planejar a viagem para arbitrar, mais uma vez, no Mundial de Jiu-Jitsu Sem Kimono, dias 16 e 17 de dezembro em Anaheim, Califórnia, e decidiu pegar uma praia com amigos no feriado.
Foi quando o dia ensolarado se transformou numa tempestade inesperada. Numa blitz policial, o árbitro boa-praça viveu momentos de pânico, noticiados em diversos veículos da grande mídia e canais de TV. (Leia aqui.)
Em conversa com o GRACIEMAG.com, Panda contou que lições de otimismo e coragem ele tem tirado, desta que está sendo uma das “piores batalhas que jamais imaginara viver um dia”.
GRACIEMAG: Como o Jiu-Jitsu o ajudou a lidar com essa situação, Panda?
RENATO PANDA: A situação ocorreu no dia 15 de novembro, estávamos pela Estrada dos Bandeirantes voltando da praia quando passamos por uma blitz, um casal de amigos brancos no banco da frente e eu sentado atrás. Fomos liberados, íamos passando quando me viram com meu cabelo rastafári no banco de trás e correram pedindo para encostarmos. Eles faziam o procedimento correto, educadamente, quando um deles disse que ia abrir meu bolso com as mãos. Eu não permiti, disse que eu mesmo abriria e mostraria seu conteúdo, quando ele tentou me encaixar uma chave kimura. Defendi a chave e ele tomou um solavanco, voltando furioso, me dando socos e tapas no meu rosto. O Jiu-Jitsu me ajudou decisivamente, me ajudando a manter o sangue frio e jamais revidar, fiquei apenas apanhando e falando com tranquilidade, para buscar acalmá-los. Meus amigos intervieram e eles pararam, depois de xingamentos racistas e algumas ameaças.
Você já passara por algum problema parecido?
Nunca. É triste sentir na pele esta brutalidade vinda de quem deveria nos proteger. Mas em toda profissão há os maus profissionais, gente que não sabe fazer bem seu trabalho. Esses existem na minha, na sua, na deles. É importante não rotular nem demonizar os policiais cariocas, mas tampouco devemos nos calar. Em meus 41 anos, essa tem sido uma das piores batalhas que jamais imaginara viver um dia. Eu nunca tinha sofrido isso na pele, e achei que depois dos 40 não viveria isso mais. Mas é uma situação corriqueira em nossa sociedade, em especial nas periferias. O jovem branco também é agredido, claro, mas os jovens negros sofrem bem mais.
Que lição você está tirando disso, como professor e cidadão?
Meu pai, Ivanir dos Santos, foi deputado e estudioso da questão negra e sempre dizia que criança branca é chamada de criança enquanto a criança negra é chamada de “menor”. Vivemos cercados de pequenas violências, e a lição que aprendi é que, por mais que a gente ache que já viu tudo, quando menos esperamos uma coisa assim pode acontecer conosco também. Ninguém está livre. Mas estou indo prestar depoimento sobre o caso numa UPP aqui perto, e quero me manifestar contra essa truculência. Afinal, Jiu-Jitsu também é isso, certo? Usar a sabedoria contra a força bruta.