Um dos professores de Jiu-Jitsu mais respeitados da atualidade, Melqui Galvão faz um importante trabalho na vida de jovens que sonham em viver em prol da arte suave. À frente da Escola Melqui Galvão e representante da Fight Sports, o faixa-preta conta com uma equipe recheada de talentos da nova geração que se faz presente nos pódios dos campeonatos mais importantes do esporte.
Mestre do filho, Mica, e de joias da modalidade, como Diogo Reis, Fabricio Andrey, Luiz Paulo e Brenda Larissa, Melqui expandirá as fronteiras de seu time. Isso porque ele vai inaugurar neste mês de setembro a primeira filial da Escola Melqui Galvão fora de Manaus. A academia é localizada em Jundiaí, no estado de São Paulo.
Em entrevista à equipe do GRACIEMAG.com, Melqui comentou a chegada de sua equipe a São Paulo e abriu o jogo sobre a expectativa a dias do ADCC 2022, neste fim de semana em Vegas.
GRACIEMAG: O que representaria para você, como pai e treinador, ver o Mica campeão do ADCC com apenas 18 anos?
MELQUI GALVÃO: O Mica campeão do ADCC seria a realização de um sonho. Há três meses, ele foi campeão mundial de kimono e eu fiquei muito contente, mas não quero que o Mica fique lembrado como um lutador de kimono, mas como um atleta completo que alcançou o alto nível nas duas modalidades. Meu objetivo é que ele se torne um competidor diferenciado, aquele que não escolhe adversário ou estilo. Vê-lo conquistar o ADCC com apenas 18 anos seria uma realização muito grande como pai e treinador. E para isso que trabalhamos. Mas ele ainda tem muito a evoluir e conquistar. O Mica está apenas no começo da carreira.
Como você avalia uma possível luta entre o Fabricio Andrey e o Diogo no ADCC?
Se tudo der certo, eles vão vencer a primeira luta e vão se enfrentar em seguida. Não gosto de pensar no futuro. Se acontecer, terei uma conversa com os dois e não deixo eles se martirizarem. Estamos muito felizes de participar do ADCC e vamos fazer nosso trabalho. Estamos nos ajustes finais de preparação. Se eles se enfrentarem, é porque são atletas de alto nível e merecem estar ali.
Quais são os maiores desafios de liderar uma equipe cheia de astros como a Escola Melqui Galvão?
Liderar uma equipe recheada de talentos é um desafio, mas foi diferente para nós, porque os meninos cresceram juntos e não vieram de outras equipes. Meus atletas mais fortes são os que começaram bem novos, então somos muito unidos como uma família. Visamos a ajudar o próximo e um cuida do outro, sem vaidade. No caso, isso facilita minha função como mestre.
O que representa a chegada da Escola Melqui Galvão à região sudeste do Brasil?
Estamos a caminho de Jundiaí. Escolhi esse lugar devido a localização. Somos muito procurados em Manaus e a tendência é que a procura aumente, já que estamos em São Paulo. E isso vai criar um ambiente propício para os meninos crescerem. O Jiu-Jitsu é muito popular em Manaus, porém, a distância dificulta o reconhecimento de atletas que deveriam ser valorizados. Provamos que é possível fazer um bom trabalho mesmo sem muitos recursos e agora é a hora de dar um passo adiante.
Qual é o objetivo da criação de uma filial em São Paulo?
Nosso maior objetivo é criar uma ponte, não apenas entre atletas que já despontaram, mas para os que precisam entrar em evidência. Alguns atletas do time vão ter atenção e reconhecimento onde estiverem, mas outros, que também são muito bons, perdem mais oportunidades porque estão mais distantes. Agora, não teremos mais esse problema.
Quando você percebeu que conseguiria viver em prol do Jiu-Jitsu?
Percebi que conseguiria viver em prol do Jiu-Jitsu quando viajei para os Estados Unidos pela primeira vez. Um amigo que conhecia meu trabalho me convenceu a ir e lembro que vendi uma moto e fiz um empréstimo no banco. Quando cheguei lá, vi que existia um mundo que eu não conhecia. A partir daí, comecei a acreditar na possibilidade de ter uma vida profissional no Jiu-Jitsu. Isso ocorreu em 2015. Antes, via o esporte como lifestyle, uma forma de afastar os meninos do caminho errado.
O que você faz para manter seus atletas focados e motivados diante do sucesso deles?
São os objetivos a curto, médio e longo prazo que mantêm eles focados. Então traço um planejamento para eles verem o que podem alcançar se mantiverem o foco. Além disso, ter um propósito para alcançar os objetivos é fundamental. O segredo é abrir a mente dos atletas para eles terem noção da importância do trabalho deles, não apenas para eles próprios, mas também para outras pessoas.
Quais são os cuidados necessários para lapidar atletas de elite, como o Mica, Diogo e o Fabricio?
O Mica, Diogo e Fabricio estão num nível técnico muito alto e têm uma visibilidade e reconhecimento acima da média no esporte. Acredito que pelo fato deles virem juntos de um projeto social e de um local distante atraia mais curiosidade do público. Sempre falo para eles que a lapidação é diária. Se eles estão nesse nível hoje, precisam estar muito acima quando chegarem aos 30 anos. Eles não estão nem perto do auge. Fizemos muito sem a estrutura necessária e a tendência é que eles só melhorem. A lapidação é um processo longo, mas se for feito da forma certa e continuamente, os meninos evoluirão muito mais.
Quais foram as maiores lições que você aprendeu no Jiu-Jitsu?
Uma das maiores lições é saber pensar em situações de desconforto, ter coragem nos momentos de decisão e saber arriscar. É isso que o Jiu-Jitsu nos ensina, não apenas aos atletas, mas aos praticantes da arte no geral.
Quais dificuldades você enfrentou para fazer prosperar seu projeto social em Manaus?
As pessoas acham que a falta de dinheiro ou de recursos eram as maiores dificuldades de ter o meu projeto social. Mas, na verdade, era a falta de ambiente. Há 11 anos, quando deu início ao projeto, eu não tinha títulos expressivos nem campeões ao meu redor. E formar uma equipe vencedora onde não há campeões é muito difícil. Nossas maiores batalhas foram a falta de parâmetro e as dúvidas se conseguiríamos fazer o projeto social crescer em Manaus.