Aluna e esposa do bicampeão mundial Mario Reis, a faixa-roxa Monique Elias, 23 anos, fez um Mundial de Jiu-Jitsu quase perfeito, com sete lutas, sete vitórias e seis finalizações.
Não foi tanta novidade assim, já que Monique também vencera o peso médio e o absoluto na faixa-azul, em 2012. Amarradona com as vitórias, a lutadora da Alliance contou, de Porto Alegre, onde mora, o que ela aprendeu com mais essa vitória, analisou a final do aberto com a polonesa Maria Malyjasiak e deu, no fim da entrevista, uma lição valiosa para praticantes de todos os níveis, de todas as faixas.
GRACIEMAG: Qual foi a diferença do Mundial do ano passado para este, além da cor da faixa?
MONIQUE ELIAS: As meninas são mais técnicas. Na faixa-azul, muitas lutas acabam decididas na vontade de vencer. Já na roxa, as oponentes são mais profissionais. Todas se alimentam bem e fazem preparação física. Se você observa as lutas, vê muita menina com um jogo muito inteligente. Então mudei meus treinamentos também, comecei a fazer preparação com o Wagner Zaccani, que prepara a seleção olímpica de judô no sul do Brasil, e aumentei em duas horas os treinos de Jiu-Jitsu. Senti com isso que lutei mais forte, com um tempo de posições melhor, e mais forte psicologicamente.
Para quem não conhece você, como é seu estilo? Como foi, por exemplo, a final dos médios, contra Meagan Green (Cia Paulista)?
Mantive minha estratégia de puxar para a guarda, como vinha fazendo nas outras lutas, e consegui finalizar no triângulo, da guarda fechada. Dominei as pegadas certas e finalizei. Esse golpe é muito utilizado lá em casa (risos).
Isso puxa a próxima pergunta: em que o Mario Reis mais ajuda ali na hora de competir?
O Mario foi a pessoa que me introduziu no Jiu-Jitsu, e que me ensinou tudo o que sei. Ele só me ajuda, seja me puxando demais na academia, seja não me deixando relaxar, faltar treino, comer besteira, repetir uma posição errada, ou me atrasar para a academia. Ele já trilhou esse caminho que estou começando a seguir, e sabe apontar os melhores atalhos.
E a pressão por ser esposa de um bicampeão mundial, assusta?
Às vezes me sinto pressionada por exigirem que eu tenha grandes resultados apenas por ser esposa do Reis. Quando venço, ouço: “Ganhou porque é esposa do Mario e recebe mais atenção de todo mundo”. Bem, isso tem sua parcela de verdade, porque realmente ele me cobra muito. Imagina ter seu professor 24 horas com você! É preciso paciência e saber lidar muito bem com isso, porque além de aluna e professor somos casados e quando estou em casa não quero meu professor me dizendo o que eu tenho ou não que fazer. Por outro lado, quando perco, escuto: “Ah, ganhei da esposa do Mario Reis!”. Não sou apenas a esposa do Mario, sou uma atleta que abdicou de muitas coisas na vida, que treina demais para chegar no topo do pódio, que deixa de sair à noite com as amigas, que acorda cedo. Sou uma atleta como outros milhares que tentam buscar seu espaço dentro do Jiu-Jitsu e o fato de eu ser esposa dele não torna as coisas mais fáceis para mim.
A final do absoluto, contra a polonesa Maria Malyjasiak (Drysdale JJ) foi sua luta mais dura. Como foi?
Exatamente. A Maria é muito forte e sabe usar muito bem o peso. Fiz três vantagens, duas foram de quase raspar e uma da ida para as costas, quando acabamos saindo do tatame. Ela fez duas vantagens, uma porque virei de quatro para repor a guarda e outra de um ataque no pé. Por ser a final do aberto, fiquei mais tensa. Por ser uma menina muito dura e mais pesada, a gente acaba tendo que fazer mais força e cansa mais. Mas foi legal.
Qual foi seu maior aprendizado nesse Mundial de Jiu-Jitsu?
Aprendi o valor de treinar com as pessoas que mais me dificultam. Às vezes a gente quer chegar à academia e dar aqueles rolinhas em que podemos usar todas as nossas posições e que não nos colocam em perigo. Na verdade, o treino que nos ensina mesmo é aquele dureza, em que a gente toma amasso, fica com a cara roxa. São esses oponentes que nos fazem dar o nosso melhor sempre.