Além dos já consagrados faixas-pretas que mais uma vez voltaram para casa com o ouro do Mundial de Jiu-Jitsu, como Bruno Malfacine, Lucas Lepri, Marcus Buchecha e outros, alguns felizes e aguerridos atletas chegaram, pela primeira vez, ao ápice da arte suave. Um deles foi Mahamed Aly, ao conquistar seu primeiro título no torneio de 2018, encerrado no último domingo, dia 3 de junho.
Ainda em êxtase pela primeira conquista do Mundial, primeira também da sua equipe, a Lloyd Irvin, Mahamed conversou com GRACIEMAG e falou sobre o caminho árduo até o topo do pódio, as vitórias vencidas dentro e fora dos tatames para brilhar no superpesado, e falou também do lance que garantiu o título: a queda que lesionou o ombro de Leandro Lo e fez com que o líder da NS Brotherhood deixasse o combate prematuramente.
“Foi um acidente que eu não esperava que acontecesse”, disse Mahamed lembrando da surpresa com o ocorrido. “O que eu fiquei falando pra mim mesmo após o lance era pra não deixar aquilo ali entrar no meu coração, porque o Leandro é o Leandro. Mesmo machucado ele continua sendo o Leandro.”
Confira o papo completo a seguir.
GRACIEMAG: Depois de tantas guerra ao longo desses anos, tem como descrever em palavras a conquista de um Mundial na faixa-preta?
Mahamed Aly: Esse título tem um grande significado. Além de ser o meu primeiro título mundial na faixa-preta, foi o primeiro título mundial da história do meu time, o Team Lloyd Irvin. Isso me deixa feliz em dobro. Significa que eu cheguei, finalmente, no patamar mais alto do Jiu-Jitsu. Significa que eu pude mostrar para mim mesmo que eu consigo. Significa que tudo tem sua hora certa e que não devemos perder nosso tempo nos comparando com outras pessoas. Significa que o futuro chegou.
O que você pensou naquele primeiro momento no qual o Lo sentiu o ombro? Qual a primeira coisa que veio na cabeça naquela fração de segundo?
Eu ainda não assisti a luta completa e não sei exatamente o que houve ali. Parece que eu tentei afundar ele no chão e quando ele tentou apoiar com a mão, o ombro saiu. Não sei ao certo. Foi um acidente que eu não esperava que acontecesse. O que eu fiquei falando pra mim mesmo era pra não deixar aquilo ali entrar no meu coração, porque o Leandro é o Leandro, mesmo machucado ele continua sendo o Leandro. Fiquei falando para mim mesmo para tentar pressionar mais ainda e pontuar. Infelizmente o ombro dele saiu de novo e ele não pode continuar.
Qual foi sua maior dificuldade rumo ao título? Você lutou com alguma lesão que te atrapalhou, algum segredo dos bastidores, talvez.
Eu tomei uma chave nas oitavas do absoluto que estalou meu pé todo. Apesar de não ter batido, eu sabia que aquilo ali poderia limitar muito o meu desempenho no campeonato. Mas mundial é isso mesmo. Um querendo matar o outro. Eu praticamente não conseguia andar depois da luta. Fiz 20 minutos de gelo e me preparei para lutar a categoria. Me classifiquei para as quartas de final, que seriam no domingo, e eu não sabia, até então, se teria condições de lutar no outro dia. Cheguei no hotel e fiquei fazendo balde de gelo de duas em duas horas até dormir. O pé acordou péssimo e eu pensei: vou lutar as quartas e tentar ganhar essa medalha aí.
Quando cheguei no ginásio, estava esperando lutar com o Elliot Kelly, porque o Gutemberg havia sido desclassificado no dia anterior. Para minha surpresa o Elliot não foi e eu já estava na semifinal. Estava com muito receio de lutar com o Nicolas estando limitado, pois já seria difícil ganhar dele em 100%, mas aqueci bem e a adrenalina anestesiou minha dor um pouco antes de ir para a guerra. Sem me expor muito, porque eu sabia que não estava em condições de movimentar muito, acabou dando certo.
Qual foi a luta mais difícil do Mundial, aquela que te fez chegar além do limite?
Tive duas grandes guerras comigo mesmo neste Mundial. Primeiro foi consegui bater o peso três dias antes do evento, foi muito difícil manter, e na hora do absoluto estava com muita vontade de comer e beber bastante água, mas não podia exagerar. A segunda foi convencer a mim mesmo que eu seria capaz de ganhar dos melhores do mundo mesmo com o pé machucado do jeito que estava. Acho que em qualquer esporte individual, a maior guerra que existe é interna.
Qual a próxima meta do Mahamed no Jiu-Jitsu e a dica mais construtiva para o atleta que nos lê e quer, um dia, ser campeão mundial na faixa-preta?
Quero continuar evoluindo. Acho que meu Jiu-Jitsu tem muitas brechas e muitos errinhos que preciso corrigir. Estou muito feliz com a vida que estou vivendo e quero continuar evoluindo. A minha dica para quem lê é a seguinte: O domingo foi como se fosse o Réveillon do mundo do Jiu-Jitsu. O evento terminou e o dia seguinte foi como se fosse dia 1° de janeiro. Temos 12 meses para ajustar o que tiver que ser ajustado para estarmos prontos para o próximo. Então encarem com seriedade estas 52 semanas porque passa muito rápido. Todo esforço será recompensado!