Curte as histórias das internas do mundo do Jiu-Jitsu?
Essa também vem do nosso baú.
Na vida dos competidores, é comum a expectativa para ver as chaves dos campeonatos.
Imagine que você vai competir e a semana do evento se aproxima. Como você reagiria ao notar no seu lado das chaves um poderoso competidor de Jiu-Jitsu, capaz de amassar qualquer um com um jogo completo e justo?
Convocamos Marcio Feitosa, tricampeão mundial pela IBJJF e tarimbado professor da Gracie Barra, para relembrar uma história clássica, que envolve um famigerado lutador chamado Zé Beto.
Conta aí, Feitosa:
“Zé Beto já fez muita gente trocar de categoria, fazer e desfazer dieta, tirar nome de campeonato, ou simplesmente não aparecer para lutar. Espalhou terror e pânico por várias e várias gerações de competidores”, conta o faixa-preta.
“Sua origem é um pouco incerta, ninguém conhece direito de onde Zé Beto surgiu. Lembro de ter ouvido falar dele a primeira vez há muitas décadas, em rodas de conversa com o mestre Carlos Gracie Jr. Para dar uma ideia de como Zé Beto era respeitado, vou contar uma história de um amigo nosso, cujo nome vou manter em sigilo para preservá-lo. Ele morava comigo em Lake Forest, na Califórnia, na época em que dividíamos um apartamento com Marco Joca ‘Piu-Piu’, Marcio Pé de Pano, André Fernandes da IBJJF, Kayron e mestre Carlinhos. Era época do Pan-Americano, e essa figura, então de faixa-roxa, estava altamente preparado para o campeonato.
“No auge da preparação dele, um dos companheiros então propôs: ‘É chegada a hora de introduzi-lo ao Zé Beto’. Numa noite, todos na jacuzzi da academia de musculação, relaxando após um dia de treinos duros, alguém soltou:
“‘Ih, fera… Eu acho que você vai cair de cara com o Zé Beto’. Um outro devolveu de lá: ‘Ih rapá… Zé Beto gosta de jogar sujo, dar cabeçada, adora arrumar confusão… Agora, eu não acho que ele tenha nada demais não, o problema é que o pessoal já começa a luta se entregando, só porque o cara tem um nome famosinho no Jiu-Jitsu. Ele tem aquelas quedas dele, fica por cima amassando, mas é só fazer seu jogo’.
“Um terceiro emendou: ‘Meu irmão, eu não acho o jogo de queda dele nada demais, sabia? Ele é muito mais perigoso com aquela guarda, sabe dar bons botes de braço na fechada, perna grande e forte…’ Nosso amigo faixa-roxa já estava demonstrando uma mudança no olhar.
“No dia seguinte, ele já começou a fazer sua própria pesquisa. Quem afinal seria esse tal de Zé Beto? De que equipe viria? ‘Não quero saber não, vou cair para dentro dele!’. Só que pelo olhar você percebia que os pensamentos não estavam confirmando aquelas palavras. Dois ou três dias depois, veio o anúncio: ‘Vou baixar de peso, sabia? Estou leve para a categoria, faltam só uns quilinhos’. E tome de dieta e passar fome.
“No auge da magreza do rapaz, a pilha ressurge: ‘Meu irmão, não tem jeito, tu vai ter de encarar o Zé Beto mesmo, tem de subir de categoria. Tá afrouxando para ele não, né? Tu és duro em pé também, vamos trocar em pé com ele e passar com tudo’. Foi suficiente: fim de dieta e toma de subir de peso novamente.
“Depois de uma semana de estresse, pilha, Zé Beto para lá e para cá, o pessoal se reuniu e revelou a verdade: ‘Meu irmão, Zé Beto não existe, é pegadinha. Nem saiu sua chave ainda’. Nosso amigo perigou não levar na esportiva, mas no fim se acalmou e sorriu. Só restou a ele uma reação: manter o legado vivo e continuar passando para a frente, para os jovens companheiros de luta, o folclore do temido Zé Beto”.
E você, já ouviu ou vivenciou alguma clássica pegadinha do mundo do Jiu-Jitsu? Divida conosco…