Em Abu Dhabi, tudo pode acontecer.
Em sua casa, o xeque Tahnoon Bin Zayed não desgrudou os olhos da TV. “Bela chave de braço”, disse em voz alta, quando Bráulio “Carcará” Estima usou a manobra.
No jantar após o World Pro, que começou nesta quinta-feira na capital dos Emirados, o corpo de árbitros comeu sossegadamente sem que nenhum atleta das mesas em volta fosse lá chiar.
Finais definidas a uma da manhã, ficou impossível apontar um destaque do primeiro dia. Sim, porque todo finalista teve pelo menos uma luta com atuação soberba. O destaque do World Pro 2010 ficou mesmo para sábado, quando serão realizadas as finais entre Gui e Rafa Mendes (até 65kg), Gilbert Burns x Claudio Caloquinha (até 74kg), Braulio Estima x Claudio Calasans (até 83kg), Romulo Barral x Alexandro Ceconi (até 92kg) e Gabriel Vella x Ricardo Demente (acima de 92kg), sem falar na final do feminino e do absoluto, que começam sexta.
Barrigas saciadas na madrugada, faixas-pretas de seis academias diferentes riam a valer no hotel e lembravam histórias de outrora, na maior paz. “Isso foi em 1996? Pô, eu nem treinava…”, ria Gilbert Durinho, finalista do até 74kg. Pouco antes, seu oponente do sábado, Claudio “Caloquinha” Cardoso foi para o quarto descansar. “Rominho e eu finalizamos todas hoje, e eu treino com ele no Draculino desde moleque. Mas eu parti pro MMA e depois fui dar aula no sul da Espanha e só queria saber de farra”, contou Caloquinha, explicando por onde andava.
“Quando você jogou o peso a última vez e eu empurrei e nada, falei: ah vai, passar”, dizia Alexandre Souza, para Gabriel Vella à sua frente. O paulista venceu Souza. Depois, jogou por cima com solidez contra a guarda sempre ameaçadora de Marcus Bochecha, em outra grande luta, e avançou à final contra Demente, que raspou Big Mac e no fim suportou a pressão do aluno de Tozi. “Acho que mais uns segundos eu tirava o pé ali da meia e passava”, riu Big. “Estava em casa, eu vi que faltava muito pouco”, disse Ricardo.
Finalistas da categoria mais dura, a 83kg, Claudio Calasans e Bráulio jantaram em mesas separadas. Indo pegar mais um frango no bufê, André Galvão comentou a derrota para Delson Pé de Chumbo nas quartas-de-final da divisão: “Faltou treino de pano e faltou tempo de luta, com seis minutos não deu para quebrar a base do Pé não. No fim, bem que tentei tirar um coelho da cartola, mas não deu”, sorriu, lembrando da tentativa de raspagem no finzinho. “Falei até aqui com Ramon (Lemos). É o primeiro campeonato que eu não saio nem com uma medalhinha”, suspirou.
“Calma, ainda tem o absoluto amanhã”, lembrou alguém. André respondeu com um “ih é”, os olhos vibrando.
E além de André, quem mais da equipe Atos vai entrar no absoluto? “Todos os oito, inclusive os Mendes”, juntou as mãos Ramon Lemos. “Alguém vai ter de chegar”. disse, enquanto a mesa de pesados debatia a melhor forma de não dar espaços para Rafael Mendes, que finalizou as duas lutas que fez na quinta-feira.
Eles saem na porrada todo dia na academia, não tem por que não lutarem” Durinho, sobre irmãos Mendes
“E na categoria até 65kg, vai ter luta à vera entre os irmãos para a Abu Dhabi Sports TV?”. “Tem que ter, né, estamos botando pilha”, disse Ramon. “Eles saem na porrada todo dia na academia, não tem por que não lutarem pra galera ver”, incentivou Durinho.
Terminada a ceia, GRACIEMAG.com despede-se dos lutadores e se prepara para entrar no quarto no Officers Club & Hotel. É quando o pessoal do quarto vizinho bota o nariz para fora e pergunta: “Quem tá aí?”. Era Guilherme Mendes, que sai do quarto sem camisa, para gargalhadas gerais do grupo formado por Vella, Durinho e Big Mac. “Aí Big, amanhã vou lutar com você no absoluto, mas você tem que me puxar pra guarda!”. “E você também, grandão!”, diz para Vella, que abre um sorriso divertido.
Em Abu Dhabi, tudo pode acontecer.