Quanto custa para uma luta dos sonhos virar realidade? Em julho, um grupo de entusiastas do Jiu-Jitsu de Atlanta idealizou uma luta de Jiu-Jitsu sem tempo, até a finalização, entre Rafael Mendes e Rubens Cobrinha – o atual campeão mundial da Atos contra o tetra mundial da Alliance. Para tal, ofereceram 10 mil dólares de bolsa, o vencedor leva tudo.
Seria a bolsa suficiente? Cobrinha topou, pensando mais em fazer história do que no dinheiro. Mas Rafael Mendes respondeu aos promotores dizendo que o valor era pouco para uma luta deste porte.
Nos fóruns do GRACIEMAG.com, a postura de Rafa foi elogiada e criticada na mesma medida, em quase uma centena de comentários. O que talvez nem todo mundo saiba é que um seminário dos Mendes hoje rendem cerca de 2.500 dólares. Ou seja, com quatro seminários relaxados o campeão dos penas embolsaria o mesmo do que nessa guerra em que o relógio não manda nada.
Perguntamos a Rafa quanto ele acha que vale. O leitor decide se o jovem faixa-preta de Ramon Lemos está certo.
Por que você não aceitou a bolsa de 10 mil dólares pela luta sem tempo? Tem a ver com o fato de você ganhar cerca de 2.500 dólares por seminário?
Sim, os seminários rendem mais ou menos isso. Por este valor, penso que compensa mais fazer seminários, onde faço amigos, treino com pessoas diferentes, conheço lugares e me divirto. Hoje estou com seminários marcados para o fim do ano na Europa, em Guam e provavelmente no Japão. Assim, para esta luta eu teria de desmarcar e me focar nos treinos de Jiu-Jitsu e preparação física, como fiz o primeiro semestre todo. Então para mim realmente não compensa este valor.
Essa polêmica no GRACIEMAG.com te incomodou de alguma forma?
Primeiro deixa eu dizer que sou fã de vocês, a GRACIEMAG está melhor a cada mês, a cada edição. Cara, o que me incomoda não é a polêmica, o que me incomoda são pessoas que nem me conhecem me criticarem, usando termos que não deveriam. Eu sempre aprendi que para você se referir a alguém, precisa conhecer esta pessoa. PRINCIPALMENTE se for criticar. Fico incomodado com isso, as pessoas têm de aprender a se respeitar, elas confundem as coisas acredito. Torcer para o Cobrinha não significa tentar acabar com minha imagem. Mesmo porque eu nunca faltei com respeito a ele em nenhuma entrevista minha.
Mas acho hilário ler por aí que tenho “medo” de lutar. Vejo aí que eles realmente não me conhecem, pois sou extremamente confiante. Se eu tivesse medo de lutar ou “perder”, não entraria no absoluto como entrei em Abu Dhabi, podendo lutar contra adversários bem maiores e tão bons quanto ele (Cobrinha), como Bráulio, Romulo Barral, Demente, Vella, Big Mac. Se eu tivesse “medo”, iria para outro esporte. Comecei a competir com 12 anos e não estou nem perto de parar, entao quero apenas dizer que esse sentimento de “desafio” me acompanha faz tempo e me faz querer lutar muito ainda.
Você acha que pode valorizar mais a profissão de lutador com essa negociação?
Sim, as pessoas que criticam veem somente o lado da “luta em si”, mas esquecem que se o Jiu-Jitsu para muitos é diversão, para mim é trabalho, é minha vida. Sou uma pessoa extremamente dedicada e treino MUITO, realmente MUITO, então quero ser valorizado. O que estou fazendo não é somente para mim, é para todos os lutadores de Jiu-Jitsu, pois se todos os atletas realmente se valorizarem, não precisaríamos migrar para o MMA por dificuldades de ganhar dinheiro com o Jiu-Jitsu. Vocês acham que grandes nomes da nossa arte mudam para o MMA por não terem amor ao Jiu-Jitsu esportivo? Tenho certeza que eles têm, e muito, mas precisam pensar no futuro, ser atleta não é somente “ter disposição” e encarar “qualquer parada”, em alguns momentos temos de tomar decisões pensando em nosso futuro. Se os atletas que lutam hoje se valorizassem de verdade, estaríamos com propostas muito melhores, inclusive de patrocínio. O que torna mais difícil os patrocínios é que a maioria aceita a primeira proposta. Temos de saber nosso valor, não podemos regredir.
Você fez uma contraproposta para os organizadores? Pode dizer qual foi o valor pedido por sua bolsa?
Assim que recebi o email dos organizadores, falando que estavam interessados numa luta entre mim e o Cobrinha, eu falei que estava feliz pelo convite, que gostaria SIM de lutar, mas para ESTE formato eu exigiria uma bolsa maior. O formato que eles propõem é diferente, é polêmico, é mais difícil, então acaba pesando na bolsa.
Mas eu nem cheguei a falar no valor, falei que esperava uma resposta dele e ele me mandou um email para começarmos a negociar. Ele disse que não quer perder dinheiro, e que colocaria a luta em pay-per-view, iria cobrar ingressos para entrar no ginásio etc. Ou seja, essa luta vai render dinheiro, todos sabem disso, então não vou lutar por um valor que não me deixe feliz, pois isso é minha vida, não é negócio nem diversão. Então queria deixar claro isso, não acho que os organizadores estão errados de forma nenhuma nessa história, mas eu estou tampouco estou errado em me valorizar. Não tenho problema nenhum em lutar com o Cobrinha, inclusive seria um prazer e valorizo MUITO minhas vitórias sobre ele por saber o quanto ele é bom. Mas não venham me dizer que tenho de lutar pra provar que amo o esporte ou lutar por honra. Honra eu tenho pela maneira de viver, e meu amor ao esporte podem ter certeza que é inquestionável.
Quanto tempo você acha que uma luta sua com o Cobrinha até pegar poderia durar?
Acho que luta não tem como se prever, mas acredito que seria uma luta longa. E dura para os dois lados.
Você acha que esse formato de luta pode emplacar? Que lutas sem tempo você gostaria de ver das arquibancadas?
Acho que não, pois a probabilidade de as lutas durarem MUITO tempo é gigante. E com dois atletas do mesmo nível lutando, uma finalização não ocorre tão fácil. Acho legal este formato para uma luta entre “grandes rivais” de categoria, pois é interessante para o público, mas um evento com várias lutas deste formato no mesmo dia levaria MUITO tempo e seria muito desgastante.