Após os tempos difíceis de pandemia, as coisas aos poucos voltam ao normal em todo o mundo, e a comunidade do Jiu-Jitsu também agradece. Em Portugal, país onde reside o faixa-preta Thiago “Índio” Andrade, não apenas as aulas e treinos, mas as competições de peso estão retornando ao circuito. Em outubro ocorreu o Nacional AJP, torneio em que a escola de Thiago, nossa GMI GFTeam Porto, ajudou a levar a escuderia ao quinto lugar por equipes, com kimono, e ao primeiro geral na competição sem pano.
Nos últimos aprontos para o aguardadíssimo Campeonato Português da IBJJF, Thiago dividiu com GRACIEMAG alguns dos segredos dos competidores que buscam retomar a velha forma – técnica, física e tática.
“Antes de mais nada, depende de força mental”, ressalta Thiago “Índio” Andrade. “Afinal, estarmos trancados em casa, como foi, longe de pessoas, atividades, hábitos e rotinas de que tanto gostamos, requer força psicológica e muito pensamento no médio e longo prazo.”
Para o professor da GFTeam portuguesa, após manter a cabeça boa, é importante manter o corpo ativo para não perder no aspecto técnico.
“Só o corpo em movimento vai manter as valências e, na medida do possível, propiciar ganhos. Em nosso caso, fizemos trabalhos físicos adaptados e voltados para nossa movimentação em treino e combate, a fim de diminuir as dificuldades de readaptação do corpo quando fosse a hora de regressar aos tatames. Fora isso, com aulas remotas em vídeo e adaptações em bonecos feitos em casa, foi possível esclarecer dúvidas e ajustar algumas técnicas também”, ele destaca.
Mas e para evitar as contusões para quem pensa em retomar o Jiu-Jitsu com força total? Índio esclarece:
“Devido ao trabalho físico que mantivemos em tempo de confinamento, o regresso acabou sendo menos difícil do que esperado. Ainda assim, fizemos um planejamento de progressão controlada, respeitando cada fase, antes de cada avanço. Não é fácil, pois todos estavam famintos por treinar e evoluir. Mas com muita parceria e confiança no trabalho, todos avançamos sem problemas de lesões.”
Novamente, Thiago ressalta o aspecto mental para otimizar o retorno de seus atletas e impedir a empolgação e as lesões:
“Primeiramente, vale pensar que o tempo longe das competições foi grande. Mas foi assim para todos e, por isso, não adiantava nada pensar que uns poderiam estar melhores que outros. O que fizemos então foi corrigir nossas antigas falhas, minimizar o surgimento de novas e maximizar o desenvolvimento e aprimoramento técnico. Em outras palavras, buscamos tornar nossas aulas mais produtivas para todos, em todos os sentidos.”
Depois, o professor passou a atacar em outra frente: a confiança e a recuperação do ritmo dos lutadores.
“A confiança mental foi a parte mais difícil de trabalhar e aperfeiçoar, de fato. Com o afastamento dos tatames e competições, muito se perdeu em termos de ritmo, o que é muito importante para manter a mente focada e blindada. Nesse caso, foi preciso insistir, repetir e reforçar, dia após dia, sobre trabalho, plantio, colheita e merecimento de cada competidor. Focamos em destacar sentimentos que nos levaram a treinar Jiu-Jitsu e a nos apaixonar pela arte, e naqueles que estão conosco diariamente, nos ajudando e apoiando, independentemente de resultados. A verdade é que jamais foi fácil, com ou sem pandemia. Então procuramos tornar o retorno o mais leve possível, sem cobranças por resultados. E claro, fizemos questão de lembrar o maior dos mantras: ‘Se não for divertido, não faz sentido!'”