O faixa-preta Demian Maia escreveu este artigo para a Revista NOCAUTE em novembro de 2007, na edição 58 da sua revista de MMA favorita.
Nessa reflexão, Demian fala sobre os medos e inseguranças de um lutador de MMA, e já menciona Anderson Silva, com quem batalharia em Abu Dhabi três anos depois.
Demian vinha de um título na divisão até 88kg no ADCC 2007, o que só aumentava sua responsabilidade. Confira a seguir. E para não perder os melhores textos sobre MMA e Jiu-Jitsu, garanta sua GRACIEMAG todo mês em casa, clicando aqui.
“Por que tudo isso? Todo esse estresse, toda essa tensão? É o que me perguntava no vestiário do UFC 77, poucas horas antes de entrar para lutar. É assim que me sinto toda vez que estou num campeonato, seja de Jiu-Jitsu ou vale-tudo. Quando eu era faixa-azul achava que um dia essa sensação iria acabar… Doce ilusão. Quanto mais profissional você fica, maior é a responsabilidade e, consequentemente, maior é a pressão.
“Agora, na maior organização de vale-tudo do mundo, a tensão foi grande, mas não superior à minha felicidade de estar lá. Me preparei a vida inteira, não resolvi fazer vale-tudo por dinheiro ou para satisfazer meu ego. Desde criança sonhava em ser o melhor lutador do mundo, com uns 9 anos de idade já queria ser lutador. Comprava livros de karatê e ficava imitando as defesas pessoais com alguns amigos. Tinha feito um ano de judô, mas era muito pequeno, nem me lembro bem. Aos 12 anos comecei a treinar kung-fu, depois um pouco de karatê – influenciado pelos filmes da época.
“Sonhava com um evento como o que havia visto no filme ‘O Grande Dragão Branco’, com Jean Claude Van Damme. Mas tudo isso era coisa de filme, algo distante, que talvez só existisse clandestinamente… Era assim que eu pensava até uma fatídica noite de 1992. Nessa data eu estava no local certo: o ginásio Mauro Pinheiro, em São Paulo. Três atletas desconhecidos do Jiu-Jitsu – pelo menos para mim – se preparavam para lutar contra um pessoal do full-contact e do kung-fu. Uma lavada! Os lutadores de Jiu-Jitsu não tomaram conhecimento dos adversários e ganharam as lutas rapidamente. Foi meu primeiro contato com a arte suave e foi quando comecei a pensar em treinar. E antes que me esqueça, aqueles ‘desconhecidos’ eram Marcelo Behring, Ralph Gracie e Renzo Gracie.
“Na noite do Ultimate toda essa história veio na minha cabeça. Sei que nasci para lutar e que, principalmente, trabalhei duro treinando minha mente e meu corpo para este momento. E posso dizer que toda a tensão vai embora quando entro por aquele corredor. Para mim, aliás, é a melhor parte. Na verdade minha vontade era de rir de felicidade. Acho até mais confortável o MMA do que o Jiu-Jitsu esportivo. Muitas pessoas se abalam quando estão diante de uma multidão como a que esteve presente em Cincinati no dia 20 de outubro, cerca de 15 mil pessoas, mas me sinto bem e também orgulhoso em representar uma arte marcial desenvolvida por brasileiros. Uma arte marcial que possibilita a vitória sem a necessidade de nocautear ou lesionar seriamente o adversário.
“Lá dentro, já no octógono, outra alegria. O árbitro da minha luta seria Big John McCarthy. Os primeiros Ultimates a que assisti – com Royce lutando e Big John de juiz – decidiram meu futuro. O UFC é o meu palco agora, e aquele mesmo octógono da época do Royce, que me fez querer ser um lutador, ainda verá muitas apresentações minhas.
Epílogo
“Ganhei a luta e fui para o vestiário. Fiquei num corredorzinho tentando ver as outras lutas. Estava ansioso para ver a luta do Anderson (contra Rich Franklin), pois gosto muito dele e estava torcendo por ele. Foi um show de técnica. Para mim o Anderson é o melhor lutador do mundo atualmente. Só tem um problema, ele é o campeão do meu peso. Naquele corredor, escondido, eu pensava que um dia, se quiser ser campeão do peso médio, vou ter de enfrentá-lo. Acho que ainda vai demorar, posso ganhar ou perder, mas nesse dia terei um sorriso estampado no rosto.”