Membro do Hall da Fama do UFC, o ex-lutador Stephan Bonnar morreu, na última quinta-feira, aos 45 anos, em razão de problemas cardíacos. Antes de trilhar carreira no UFC e travar duelo memorável contra Forrest Griffin, Bonnar aperfeiçoou as técnicas de Jiu-Jitsu nos Estados Unidos com o grande mestre Carlson Gracie, falecido em 2006.
Bonnar e o Jiu-Jitsu se aproximaram em 2002, quando o atleta se mudou para Chicago a fim de evoluir no Jiu-Jitsu com Carlson Gracie. A parceria durou pouco menos de quatro anos e o americano foi graduado faixa-roxa pelas mãos do saudoso mestre.
Com apenas quatro lutas profissionais e um ano de treinos na academia de Carlson Gracie, Stephan Bonnar teve sua primeira experiência no Brasil. O peso meio-pesado se aventurou na primeira edição do Jungle Fight, disputado em setembro de 2003, em Manaus. Num combate de invictos, Bonnar foi nocauteado pelo brasileiro Lyoto Machida no primeiro round.
O período de treinamentos com Carlson foi determinante para a guinada de Bonnar no MMA. O americano se especializou no Jiu-Jitsu e conquistou sete das 15 vitórias por finalização.
Em entrevista ao Canal Combate após ser incluído no Hall da Fama no UFC, Stephan Bonnar contou que se arrependeu de não ter enaltecido Carlson Gracie após a luta contra Anderson Silva no UFC 153, disputado no Rio de Janeiro.
“Foi uma honra tão grande lutar no Brasil, no Rio, na sua cidade”, lembrou o faixa-preta. “Só me arrependo de não ter falado com a torcida após a luta. Tinha algumas coisas a dizer, mas, na dor da derrota, deixei o octógono. Realmente me arrependo disso, ele merecia ter um respeito mostrado naquela arena. O mínimo que posso fazer é mostrar esse respeito aqui”, disse Bonnar.
O americano recordou boas memórias ao lado do mestre e comentou o quão difícil foi superar a morte de Carlson.
“Foi muito duro quando ele morreu em 2006”, expressou Bonnar. “Ele foi meu córner na luta contra o James Irwin, e estava muito doente. Mesmo antes de eu entrar na luta, estava na hora de ir para o octógono e seus olhos estavam como se ele tivesse passado da hora de dormir. Ele estava com muita dor e foi muito teimoso. Ele devia ter ido ao médico e não foi, aguentou aquela luta. Eu venci com um dos golpes favoritos dele, a chave kimura. Ele adorava, e ficou muito feliz com isso. Mas ele estava muito doente ao mesmo tempo. Voltamos a Chicago, ele enfim foi ao médico, mas já era tarde demais. A doença já tinha agido. Lembro que fomos para o hospital, achamos que ele faria o tratamento e melhoraria. Aí, recebi a ligação que ele não aguentou. Não conseguia acreditar. Não consegui sequer voltar para a escola naquele dia. Entrei no carro e simplesmente dirigi até o Colorado, depois para Las Vegas, depois para Los Angeles, treinei em lugares diferentes. Foi duro voltar à academia sabendo que ele não estava lá”, lamentou Stephan.
Pupilo de Carlson, Stephan Bonnar comentou a importância do mestrão em sua formação como lutador.
“Ele (Carlson) me colocou para andar, realmente deu o pontapé inicial”, contou Bonnar. “Eu só ia tentar uma vez, tinha uma motivação, ia lutar na minha cidade, era um desafio para mim. “Será que posso fazer isso? Vou tentar, já fiz wrestling, taekwondo e boxe… Vou ver no que isso vai dar”. Depois que bati o peso, joguei a roupa de plástico fora, porque não achava que faria aquilo de novo. Foi em 2001. Lembro que durante aquele torneio com quatro lutadores, ficavam anunciando toda hora, “Carlson Gracie vai vir a Chicago em 2002”, a noite inteira. Aí ele veio em 2002, e eu era um cara de MMA, com duas lutas. Ele gostou de mim, trabalhou muito comigo, e queria que eu batesse como o Vitor, Zé Mario Sperry, essa era a sua motivação. Ele era incrível. Depois do treino, ele sempre tinha um dólar para os desabrigados. Em Chapotle todo mundo o conhecia, eles tinham um “Dia do Carlson Gracie”, em que, se você trouxesse um cartão do Carlson Gracie, você ganhava um burrito de graça! (risos) Íamos à cafeteria pegar um frapuccino, passávamos na casa dele e assistíamos às lutas antigas, e depois treinávamos de novo à noite. Você pensa que caras mais velhos são ranzinzas e carrancudos, mas ele era cheio de vigor e tinha um grande senso de humor. Mesmo com seu inglês limitado, os caras chegavam e ele imediatamente zoava, brincava, deixava a escola toda empolgada. Ele gostava de ter “superlutas” entre faixas-brancas, e de ver os caras mostrarem raça, gritava “Casca Grossa”, “Poderoso”… E logo você estava rindo, de bom humor, a fim de aprender com ele”, compartilhou o faixa-preta.
Em entrevista ao portal MMA Weekly, Bonnar também ensinou os pilares que formam um grande mestre, valores que aprendeu ao longo do convívio com Carlson Gracie.
“O que era ótimo no Carlson era que ele não escondia nada. Conheço muitos caras do Jiu-Jitsu que meio que seguram suas melhores técnicas. Se alguém chegava e perguntava a ele, como você defende isso? Ele respondia na hora, com o máximo de honestidade e eficiência. Realmente não importava quem você era, se era um grande atleta ou se era seu primeiro dia de aula”, disse Bonnar para os colegas do MMA Weekly. “Carlson era muito honesto e aberto, sobre Jiu-Jitsu e sobre outras coisas também. Quer saber? Ele daria a você o último dólar em sua carteira. Foi uma pessoa realmente boa”, afirmou o ex-lutador.
Vá em paz, Bonnar.