Ao contrário da ampla maioria dos campeões, Muhammad Ali não era de dormir muito.
O peso pesado mais cultuado da história do boxe costumava descansar no máximo seis horas por noite. Pulava da cama, exercitava-se de manhã cedinho e compensava o cansaço com cochilos ao longo do dia.
Foi assim que, no Zaire, a poucos dias de seu combate mais famoso, Ali foi se deitar às nove da noite e pôs o alarme para as três da madrugada. Ainda com um sono violento, saiu de seu bangalô em Nsele e foi dar sua corridinha matinal, com amigos, seguranças e jornalistas.
O treininho para turbinar seu gás foi testemunhado pelo escritor Norman Mailer, que o relatou em detalhes no clássico “A luta”, livro lançado em 1975.
Mailer estava desconfiado, pois a corridinha de Ali, então com 32 anos, pareceu muito leve para quem enfrentaria, dali a quatro noites, o todo poderoso campeão George Foreman, na gloriosa noite de 30 de outubro de 1974.
Mas o desafiante ao título sabia o que estava fazendo.
O treino do saudoso lutador americano (56v, 5d), falecido em 2016, começou com um trote leve ao som do coaxar dos sapos. Ali e sua trupe foram cruzando a vila onde ele ficou hospedado, próxima a uma floresta e um rio. Por ali ainda havia um jardim zoológico onde rugiu um leão cheio de sono, incomodado talvez com a presença dos forasteiros. Atento ao caminho, o lendário pugilista alternava entre o piso duro das ruas e o gramado no entorno.
A corrida de preparação para a disputa do cinturão dos pesados durou cerca de quatro quilômetros, com um ritmo leve por dois e meio. Na parte final do treino, Ali se dirigiu a uma subida, e fez uma corrida ladeira acima por cerca de um quilômetro e meio. Nessa hora, o cinquentão Mailer, que jantara e bebera num cassino, não aguentou, bufou e parou.
O trecho final da corrida de Ali envolveu tiros e ritmo acelerado no declive. Norman Mailer narra que o astro “disparara ladeira acima no último trecho, dando socos no ar, correndo de costas, depois de frente à toda outra vez.”
Ao retornar, o campeão olímpico em Roma-1960 deitou-se exaurido em frente à casa, quando se revigorou com uma bela garrafa de suco de laranja.
“Essas corridas me esgotam mais do que qualquer coisa que jamais senti no ringue. É pior até do que o 15º assalto, e não tem nada pior do que isso”, refletiu Ali, enquanto o sol surgia no Zaire às quatro da manhã.
Muhammad Ali então filosofou, e Mailer anotou: “Vou ganhar um milhão e 300 mil dólares por esta luta. Mas daria um milhão de dólares de bom grado se pudesse simplesmente comprar minha condição física atual sem todo trabalho duro”.
Quer ganhar gás como Ali? Monte seu treino e inclua piques com trotes antes, com uma subida inclinada ou escadaria. Converse com seu treinador ou com um preparador físico capacitado, encontre uma ladeira desafiadora perto de você e pulmões à obra. Oss!