“Não! Não deixa o pescoço aí!” gritei. Já passava de 11 e meia da noite. O berro acordou minha filhinha recém-nascida, para desespero da minha esposa, e deve ter assustado alguns vizinhos. Mas não consegui me conter ao ver Mauricio “Shogun” Rua levantando-se lentamente e deixando o pescoço exposto para Chael Sonnen, a menos de um minuto do fim do primeiro round da luta principal do UFC Fight Night 26. A guilhotina veio implacável como a que decapitou o rei Luis XVI. E o impensável aconteceu: o wrestler Sonnen finalizou o faixa-preta de Jiu-Jitsu Shogun.
A decepção foi geral. Aqueles que, como eu, são fãs do Shogun desde a época do Pride, ficaram decepcionados por vê-lo derrotado sem desferir sequer um de seus potentes chutes ou cruzados nocauteadores. A maioria dos brasileiros ficou decepcionada pela vitória do “mala” Chael Sonnen pelo fato de o resultado dar-lhe munição para voltar a falar mal do Brasil e provocar nossos lutadores. O próprio Mauricio, certamente, ficou mais decepcionado do que todos nós com seu segundo revés consecutivo e com a queda vertiginosa no ranking do UFC.
Mas a maior decepção para quem luta ou gosta de Jiu-Jitsu é perceber que a queda de Shogun se deu por um erro de fundamento. O começo da luta transcorreu dentro do previsto, com Sonnen fazendo a única coisa que sabe fazer muito bem além de falar: derrubar o oponente, mantê-lo no chão e ficar aplicando um ground-and-pound que não nocauteia ninguém. Até aí, nada de novo.
O brasileiro chegou a dar uma queda no americano, mas teve de ceder a raspagem para não ser finalizado em uma primeira tentativa de guilhotina. Por mais que Sonnen tenha uma tática bem definida de ganhar por pontos, ele sabe aplicar finalizações básicas como a guilhotina e o katagatame (com o qual finalizou Brian Stann no UFC 136). E justamente aí está o ponto: Shogun sabia (ou deveria saber) que o jogo de Chael era esse.
Mauricio já se defendera com sucesso de especialistas em guilhotina como Alistair Overeem (quando este tinha 30 quilos a menos). Sonnen já tentara aquele golpe uma vez. O que aquele pescoço estava fazendo exposto como tomate na feira?
Errar fundamento sempre é triste. É bater o carro por esquecer de olhar o retrovisor antes de mudar de pista. É cobrar um pênalti para fora. É receber multa por esquecer de pagar a conta no dia do vencimento. É “o que é e o que nunca deveria ser”, como canta o Led Zeppelin*. É triste, mas acontece com todos. É triste, mas aconteceu com Maurício “Shogun” Rua na noite de sábado.
[*] “What is And What Should Never Be”, música do álbum Led Zeppelin II, de 1969.
UFC Fight Night: Shogun vs Sonnen
Boston, Massachusetts
17 de agosto de 2013
Chael Sonnen finalizou Mauricio Shogun na guilhotina aos 4min47s do R1 (Finalização da noite)
Travis Browne nocauteou Alistair Overeem aos 4min8s do R1 (Nocaute da noite)
Urijah Faber venceu Iuri Marajó na decisão unânime dos jurados
Matt Brown nocauteou Mike Pyle aos 29s do R1 (Nocaute da noite)
John Howard venceu Uriah Hall na decisão dividida dos jurados
Michael Johnson venceu Joe Lauzon na decisão unânime dos jurados
Card preliminar
Michael McDonald finalizou Brad Pickett no triângulo aos 3min43s do R2 (Finalização e luta da noite)
Conor McGregor venceu Max Holloway na decisão unânime dos jurados
Steven Siler nocauteou Mike Brown aos 50s do R1
Diego Brandão venceu Daniel Pineda na decisão unânime dos jurados
Manvel Gamburyan venceu Cole Miller na decisão unânime dos jurados
Ovince St. Preux nocauteou Cody Donovan aos 2min7s do R1
James Vick finalizou Ramsey Nijem na guilhotina aos 58s do R1